Atualizada em 16/11/2016
Lidia Gueiler Tejada assume interinamente, em 16 de novembro de 1979, a Presidência da Bolívia. Foi a primeira, e até agora única, chefe de Estado mulher deste país desde a fundação da República. Nascida em Cochabamba em 28 de agosto de 1921, dizia que sua mãe, Raquel Tejada lhe havia proibido de chorar desde criança alegando que “o choro na Bolívia é uma espécie de esporte nacional que se deveria começar a eliminar”.
Estudou no Instituto Americano de sua cidade natal, obtendo o título de contadora-geral. Casou-se com um soldado paraguaio, prisioneiro na Bolívia em decorrência da Guerra do Chaco. Teve com ele uma filha, dele se separou. Deixou a filha num internato para se dedicar inteiramente à política.
Em 1948, Gueiler filiou-se ao MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), ajudando a organizar grupos que seriam fundamentais, segundo suas memórias, para a revolução nacionalista de 1952. Em 1953 é acusada de conspirar para matar o presidente Victor Paz Estensoro. Superada a acusação, foi embaixadora na Alemanha Ocidental, Colômbia e Venezuela e deputada nacional entre 1956 e 1964. Em 1979 assumiu a Presidencia da Câmara de Deputados. “Na minha vida política sempre atuei como um homem”, contou numa entrevista ao El País em dezembro de 1980, recém-exilada em Paris.
Em 1º de novembro de 1979, o general Alberto Busch derrocou o governo de Walter Arce mediante um sangrento golpe de Estado. Como reação, se produziu um levante popular encabeçado pela Central Operária Boliviana que, por sua vez, gerou uma violenta repressão que incluiu o Massacre de Todos os Santos em que a policía e o exército assassinaram mais de 100 pessoas e fizeram “desaparecer” a outras trinta. Dezesseis dias depois, a resistência popular obrigou Busch a devolver o poder ao Congresso, que elegeu Gueiler como presidente constitucional interina da República até as eleições de 29 de junho do ano seguinte.
Em 7 de junho de 1980, um coronel da escolta presidencial Waldo Ballivián tentou assassinar Gueiler na residência presidencial. O militar estava em completo estado de embriaguez e tratou de derrubar a coronhadas a porta do dormitório da presidente. Um ajudante de ordens impediu o coronel de cometer o crime.
Uma semana antes das eleições, ocorreu um atentado terrorista de direita que fez explodir nos ares o avião em que viajavam varios líderes da esquerdista Unidade Democrática e Popular, em campanha eleitoral. Ao contrário do esperado pelos setores golpistas, o ataque incrementou a popularidade do líder esquerdista, ex-MNR, Hernén Siles Suazo, que acabou vencendo.
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Quando assumiu a Presidência, Gueiler tinha 58 anos, mãe de uma filha, avó de dois netos e casada três vezes. Sua missão: convocar eleições gerais para 29 de junho de 1980 e entregar o poder ao vencedor em 6 de agosto. Gueiler ameaçou suicidar-se com uma cápsula de cianureto se as Forças Armadas impedissem as eleições de junho. A oposição criticava-a por ir ao cabeleireiro ou que usava cílios postiços.
Por fim, ela não alcançou a meta. Os militares assestaram um novo golpe em 17 de julho. Faltavam 18 dias.
Em 17 de julho de 1980 novamente se interrompe o proceso democrático quando o governo é derrocado e a presidente e exilada por Luiz Garcia Meza. O novo e sangrento golpe de Estado teve participação e apoio das Forças Armadas argentinas, a fim de impedir a posse de Hernán Siles.
“O único que tinha em mente era entregar o poder e consolidar a democracia. Estava obcecada, olhava o calendário todos os dias”, recordava na entrevista ao El País.
Após ser derrocada em setembro de 1980, abandonou o país e se exilou, primeiro em Lima e mais tarde em Paris por mais de dois anos. Regressou à Bolívia em 1983. De volta do exílio, recebeu condecorações, liderou organizações feministas e publicou dois livros. Retirada da vida política, morreu em La Paz em 9 de maio de 2011, aos 89 anos. O governo Evo Morales declarou um mês de luto por sua morte.
Política progressista, Gueiler lutou na revolução de 1952 que nacionalizou as minas, fez a reforma agrária e introduziu o sufrágio universal na Bolívia. Foi a primeira mulher a ocupar a secretaria-geral de um partido político, a Frente Revolucionária de Esquerda, além da Presidência da Câmara de Deputados, da Presidência do Congresso e a Presidência da República.
Hoje na História:
1849 – Fiódor Dostoiévski é sentenciado à morte
1920 – Guerra civil russa termina com a tomada de Sebastopol pelos bolcheviques
1945 – EUA recrutam cientistas da Alemanha nazista
1945 – Unesco é fundada por 37 países
1964 – China abate avião norte-americano sobre a região centro-sul do país