Anne Paq/Activestills
Prédios danificados por conflitos não podem ser reformados pela proibição da entrada de material de construção em Gaza
O bloqueio de Israel à Faixa de Gaza completou cinco anos nesta quinta-feira (14/06), com protestos de organizações de defesa dos direitos humanos contra o isolamento da população palestina no território ocupado. Para marcar a data, grupos internacionais apresentaram documentos reforçando o pedido para que as restrições sejam revogadas. “Por mais de quatro anos, mais de 1,6 milhão de pessoas em Gaza estiveram sob o bloqueio israelense, que viola leis internacionais. Mais da metade dessas pessoas, são crianças. Nós, os signatários, reivindicamos com uma só voz: acabem com o bloqueio agora”, afirma uma petição assinada por mais de 50 entidades de apoio a Palestina, incluindo a ONU.
De acordo com dados de diversas pesquisas, o bloqueio imposto por Israel tem consequências diretas na economia e vida dos palestinos que continuam extremamente dependentes da ajuda humanitária. Mais de 70% da população local recebe auxilio de organizações internacionais. Nas três primeiras semanas do bloqueio, 75% das indústrias locais fecharam.
A Save the Children e Medical Aid for Palestinians, entidades internacionais de apoio médico, divulgaram um relatório sobre o impacto do bloqueio na saúde da população. A pesquisa indicou que 10% das crianças com menos de cinco anos possuem problema crônico de desnutrição e 58,6% possuem anemia.
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A FAO, órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, revelou que 61% da população de Gaza tem acesso precário a itens básicos, como alimentos, água potável e material escolar. O relatório também revelou que, entre 2008 e 2009, a pesca local diminuiu 47% devido à restrição imposta por Israel a navegação de barcos, que não podem ultrapassar a distancia de três milhas da costa.
Ativistas e entidades acusam Israel de mudar constantemente a lista de bens restritos a fim de dificultar o trabalho da ajuda humanitária. Por esta razão, Gisha, organização israelense de direitos humanos, entrou com pedido judicial para Israel divulgar mais informações sobre o bloqueio.
Em 2010, Israel divulgou o documento, no qual descreveu as sanções como “um conjunto de meios de que dispõe o Estado de Israel no conflito armado com o Hamas”. Além disso, também constam no documento cálculos sobre a quantidade mínima de calorias que cada habitante de Gaza deveria consumir.
Histórico
As primeiras sanções foram impostas por Israel em 2001 quando palestinos tomaram às ruas contra a ocupação israelense e intensificadas em 2007 após as eleições legislativas que levaram o Hamas democraticamente ao poder. O Egito apoiou a medida e também fechou suas fronteiras com Gaza.
“Na realidade, uma política de punição coletiva está sendo imposta a 1,4 milhão de pessoas, em violação ao direito internacional humanitário”, disse Sari Bashi, diretor da Gisha.
Anne Paq/Activestills
Pesca é prejudicada, já que barcos palestinos não têm permissão para ir além de 3 km da costa
Desde então, o governo israelense controla não apenas meios terrestres de acesso à Gaza, mas também os marítimos e aéreos e tudo o que entra e sai no território.
Israel justifica que as restrições são necessárias a sua segurança uma vez que um grupo considerado terrorista detém o poder no território. Apesar disso, a entrada de alimentos, remédios, materiais de construção, itens escolares e não só armamentos são bloqueadas.
Em maio de 2010, quando a flotilha turca Liberdade à Gaza tentou romper o bloqueio marítimo foi atacada por militares israelenses que resultaram na morte de nove ativistas. Na época, entre a ampla gama de produtos que estavam proibidos estavam marmelada, chocolate, madeira para moveis, sucos de frutas e produtos têxteis.
Após o caso da flotilha, Israel sofreu grande pressão internacional para acabar com as sanções. Em resposta, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que não haveria um bloqueio civil do território, apenas um bloqueio militar. S
Segundo entidades internacionais o bloqueio foi flexibilizado desde 2010, permitindo a entrada de alimentos e alguns medicamentos. “Agora, muitas coisas são permitidas, com exceção dos materiais de construção. Nós o conseguimos pela fronteira com o Egito”, disse Hani Siliman, morador da Faixa de Gaza, “Mas, nós ainda estamos sob ocupação e somos sitiados. O que melhorou mesmo foi o acesso a alimentação, nós ainda sofremos com a falta de medicamentos, combustível e energia”, completou.
Para Malaka Mohammed, não houve tantas melhoras assim. “O bloqueio continua o mesmo e às vezes, até pior”, afirmou. Segundo ele, apesar das afirmações de Israel de que será permitida a entrada de bens para civis, como alimentação, brinquedos, materiais culinários, roupa de cama, entre outros, ainda possui dificuldades para encontrá-los.
As sanções em materiais de construção, sob o argumento de que podem servir para a confecção de armamentos, prejudicam o desenvolvimento de Gaza. Até hoje, a infra-estrutura destruída ou danificada pela guerra de 2009 não pôde ser reconstruída. “Todo o material que entra é pelos projetos da UNRWA (missão da ONU para a Palestina), para construir escolas ou outros prédios. Mas, o acesso é muito difícil para pessoas comuns que perderam suas casas na ultima guerra, muitos deles ainda estão vivendo em condições miseráveis”, lamentou Malaka.