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Memória

Movimento: grandes reportagens, financiamento coletivo e muita censura

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Modelo de jornal administrado pelos próprios jornalistas levou a redação do Movimento a adotar práticas democráticas, como longas discussões sobre as pautas do jornal

Lucas Estanislau

2018-04-25T18:50:00.000Z

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Os desentendimentos com o empresário Fernando Gasparian e a pressão da censura levaram a redação do jornal Opinião a se demitir em massa em meados de 1975. De volta a São Paulo, os jornalistas Tonico Ferreira e Raimundo Pereira começaram a concretizar a ideia de um periódico sem patrão e de oposição aberta à ditadura civil-militar. Financiado por acionistas interessados na luta democrática, o jornal Movimento foi lançado no dia 7 de julho de 1975 e se tornou um dos maiores jornais alternativos do Brasil.

Leia aqui todas as reportagens da série Memórias da Imprensa Alternativa no Brasil

Com uma experiência de financiamento inovadora para a época, o modo como o Movimento foi criado deu ao periódico a força e a credibilidade necessárias para conquistar seu lugar na imprensa brasileira da época. “Nós criamos uma sociedade de acionistas onde cada um contribuiu com um montante de dinheiro e comprou uma parte do jornal”, explica Tonico Ferreira, secretário de redação e acionista do Movimento.

A ideia de uma publicação sem patrão, feita por jornalistas que trabalhassem e apoiassem o jornal, foi essencial para o sucesso do Movimento. “Com uns 40 deputados do grupo autêntico do MDB, mais figuras de grande representação para o país como Chico Buarque de Hollanda, Fernando Henrique Cardoso, Orlando Villas-Bôas, Audálio Dantas, construímos um conselho editorial que representava um sentimento nacional de resistência para tentar avançar aproveitando a abertura”, conta Raimundo Pereira, editor-chefe do jornal.

O modelo de um jornal administrado pelos próprios jornalistas levou a redação a adotar práticas democráticas, como longas discussões sobre as pautas do jornal e que envolviam a participação de todos. Ferreira conta que “as reuniões de pauta duravam horas e tudo era discutido, desde a capa até uma charge na página 3 do jornal”.

O projeto gráfico do Movimento era encabeçado pelo artista plástico Elifas Andreato, colega de Pereira e Ferreira no Opinião. Para o desenhista, “o convívio com esse grupo de jornalistas me deu um pouco a noção do tamanho da encrenca em que vivíamos com o regime militar e a censura”.

Bombas, rachas e censura

Antes mesmo de seu lançamento, o Movimento sofreu com a censura prévia e a primeira edição de 20 mil exemplares já chegou às bancas censurada. “Nós tivemos um problema muito grave porque desde o primeiro número ele foi censurado previamente. Quando nós saímos com o número zero a Polícia Federal já apareceu e mandou a gente enviar o jornal pra Brasília para ser censurado”, diz Ferreira.

Uma série de reportagens especiais sobre o Brasil chamada “Cena Brasileira” foi censurada desde o seu lançamento até a última matéria. “Depois eu soube que o Chico Mendes [líder sindical seringueiro] dizia que quando o Movimento chegava lá no Acre é que ele ficava sabendo das coisas que aconteciam no Brasil. Enfim, eles cortaram tudo”, relembra Ferreira.

Outro fator extremamente prejudicial para a publicação foram os atentados a bancas de jornal executados por grupos de extrema-direita. No ano de 1980, três bancas foram incendiadas por bombas de grupos terroristas que visavam a interrupção da venda de periódicos alternativos de esquerda, como o Movimento. “Depois eu fiquei sabendo que era um grupo muito pequeno lá do Rio de Janeiro, mas eles fizeram um estrago tremendo porque as bancas não queriam mais receber o nosso jornal, pois eles ficavam com medo de sofrer atentados”, conta Ferreira.

Para o jornalista, além da censura e dos atentados da direita a bancas de jornal, as discussões internas de cunho político entre os trabalhadores do Movimento contribuíram para enfraquecer a publicação, pois levou à saída de muitos jornalistas e dificultou o trabalho. “O meu sonho era que esse jornal tivesse se tronado um diário e sobrevivesse à ditadura, se tornando uma alternativa de centro-esquerda na imprensa brasileira”, afirma Tonico Ferreira.

Reprodução

“O convívio com esse grupo de jornalistas me deu um pouco a noção do tamanho da encrenca em que vivíamos com o regime militar e a censura”, conta Elifas Andreato

“No final, quando o jornal fechou, estava vendendo 10 mil exemplares entre assinaturas e venda em banca. Com o fim da censura, a esquerda que vendia o Movimento unida se dividiu e cada grupo foi fazer o seu jornal”, conta Pereira.

Segundo o jornalista, o fim da censura ao Movimento em 1978 aqueceu as vendas do periódico e levantou o jornal que vinha sobrevivendo com dificuldades por conta da censura. Porém, com os rachas internos e os atentados a bancas, o periódico que, em sua melhor época vendia cerca de 40 mil exemplares, não resistiu e encerrou as atividades em novembro de 1981.

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Constituinte no Chile

'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final

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Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-07-04T21:39:54.000Z

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Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país. 

"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros. 

Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.

O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.

"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.

No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro. 

Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric

"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo. 

Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.

Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.

"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.

A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.

Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas. 

"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.

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