O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, encerrou hoje (6) no Brasil sua viagem por sete países da América do Sul para explicar o acordo militar que negocia com os Estados Unidos. O anúncio da instalação de sete bases norte-americanas em território colombiano causou mal-estar na região e provocou diversas críticas. Também houve quem defendesse o acordo.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que inicialmente haviam demonstrado reprovação e defendido que o assunto fosse tratado no Conselho de Defesa da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), no próximo dia 10, no Equador, mudaram o discurso. Após a visita, eles disseram interpretar a explicação de Uribe como gesto positivo. “Reiteramos que o acordo é uma matéria exclusiva da soberania colombiana, sempre e quando se limitar ao território colombiano”, disse o ministro a jornalistas.
Michelle Bachelet, presidente do Chile, que também havia criticado o acordo em sua passagem pelo Brasil, na semana passada, amenizou o tom após o encontro com Uribe.
No Peru, o presidente Alan García também adotou uma postura conciliadora, assim como o paraguaio Fernando Lugo.
Já o uruguaio Tabaré Vazquez e a argentina Cristina Kirchner afirmaram que seus países continuam sendo contra a instalação de bases estrangeiras em qualquer país da América do Sul.
O boliviano Evo Morales, por sua vez, considerou o acordo da Colômbia com os Estados Unidos como uma “ameaça” para a estabilidade da região.
Nos países não visitados por Uribe, as bases militares também foram alvo de críticas. Daniel Ortega, da Nicarágua, e Rafael Correa, do Equador, reprovaram o acordo. A Venezuela, em crise diplomática com a Colômbia, rechaçou a atitude colombiana. Hugo Chávez chegou a afirmar que a presença norte-americana “pode ser o primeiro passo para uma guerra na região”.
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Preocupação
O deputado federal José Genoíno (PT-SP) considerou que os esclarecimentos de Uribe durante a visita ainda não são suficientes para deixar o Brasil e a América Latina tranqüilos. “As informações disponíveis até o momento ainda não dissiparam as suspeitas de que estas bases podem se tornar fontes de monitoramento e de pesquisas numa região estratégica e vital da geopolítica mundial, que é a Amazônia”, afirmou em um artigo publicado em seu site.
Luis Fernando Ayerbe, historiador e professor do Programa San Tiago Dantas de Relações Internacionais (da Unesp), avalia que Uribe está tentando explicar que o acordo entre Washington e Bogotá é um fato interno e isso não significa que os Estados Unidos vão interferir na região, já que seria feita uma transferência de tropas da base do Equador para a Colômbia. “A instalação das bases na Colômbia é um fato consumado”, afirma, ao considerar que Uribe está isolado dos demais países da América Latina por seguir uma postura mais conservadora e por ter aderido à política antiterrorista do governo de George W. Bush.
Ainda de acordo com o historiador, a reação dos países da América Latina já era esperada. “Apesar de saber que a base vai ser instalada, os presidentes querem mostrar um limite, independente da raiz ideológica de cada um”, avalia Ayerbe.
Aproximação com os Estados Unidos
Após os norte-americanos abandonarem a base equatoriana de Manta, o general das Forças Armadas colombianas Freddy Padilla confirmou que os Estados Unidos terão acesso a duas bases da Marinha, duas do Exército e três da Força Aérea. Ele afirmou, porém, que “não são bases norte-americanas, são colombianas” e que “se trata de aprofundar relações que têm tido êxito”.
Para o especialista em Estratégia Militar e Conflito Armado e pesquisador da Unicamp Geraldo Cavagnari, a presença da base já representa uma “interferência dos Estados Unidos, não de maneira direta, mas como um prognóstico de possível intervenção futura”.
O que os analistas concordam é que o acordo estreita as relações entre Bogotá e Washington. Na América do Sul, a Colômbia é o país que mais recebe ajuda econômica norte-americana e, como lembra o professor Cavagnari, é visto como o mais “estável” pelos Estados Unidos por não ter tido regime autoritário recentemente.
“A instalação das bases na Colômbia representa uma afronta direta dos Estados Unidos à Venezuela, o único país que confronta diretamente com os Estados Unidos”, afirmou Cavagnari.
Ayerbe ressalta ainda que o acordo “beneficiaria” os dois países, pois pode ajudar na luta contra o narcotráfico e no combate às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e, em troca, garante aos Estados Unidos a capacidade de operações que perderam com o fechamento da base em Manta.
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