No dia 30 de maio, a chamada “Frota da Liberdade”, composta por navios que levavam 750 ativistas e ajuda humanitária para Gaza, foi interceptada pelo exército israelense, numa operação que resultou na morte de nove pessoas e condenação internacional.
Participantes da segunda conferência “Haifa” – espaço organizado por movimentos sociais palestinos que têm o objetivo de discutir a proposta de um estado palestino laico, democrático e independente – estavam na região quando o ataque aconteceu, dentre eles, Marcelo Buzetto, integrante da coordenação estadual do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Em entrevista à Radioagência NP, Buzetto repudiou as ações de Israel e fez um panorama da condição dos palestinos na região.
Ouça a entrevista
Como é a situação atual na Faixa de Gaza?
Gaza é uma região onde vivem aproximadamente 1,5 milhões de pessoas. A situação é muito difícil, pois a faixa é controlada militarmente por Israel. O Exército impõe um bloqueio econômico contra Gaza. Os israelenses impedem a chegada de alimentos, remédios, mantimentos, materiais para infra-estrutura e controla Gaza por céu, terra e mar. Sufoca economicamente o território, tenta matar de fome os palestinos, impede que os médicos desenvolvam trabalhos por lá. Mas a impressão que tive é que essa postura ofensiva e agressiva de Israel só aumenta a solidariedade internacional com o povo de lá, a unidade entre os palestinos e os povos árabes para enfrentar o inimigo Israel.
Como os palestinos estão se organizando para suportar o bloqueio?
Israel acabou obrigando os palestinos a desenvolverem uma economia auto-sustentável. Lá existe uma série de pequenas indústrias, comércios, pequena agricultura se desenvolvendo, tanto em Gaza como na Cisjordânia. São atividades para minimizar o sofrimento da população e tentar produzir o máximo de mercadorias dentro do território, para depender o menos possível de Israel e da importação de produtos dos países árabes. No caso de Gaza a situação é mais extrema. A dificuldade do ponto de vista social e econômica em Gaza é um grande problema. Esse foi o motivo de o navio ter ido com toneladas de alimentos para a região.
Qual é a forma de atuação dos movimentos populares e dos partidos políticos palestinos em relação às medidas de Israel?
A organização política mais conhecida na Palestina é a OLP (Organização para Libertação da Palestina). Além disso, há os partidos da esquerda palestina: a Frente Democrática pela Libertação da Palestina, a Frente Popular de Libertação da Palestina e o Partido do Povo Palestino. Tem também o Hamas, que governa a Faixa de Gaza. Os palestinos têm organizações de juventude, camponeses, trabalhadores, operários, mulheres, entre outros. Toda sexta-feira, em várias cidades da Palestina, o povo sai das mesquitas em marcha até o muro que foi construído por Israel. Esse muro tem 500 quilômetros e 10 metros de altura. Nessas marchas há sempre confronto com o Exército de Israel. Quando chegam próximo ao muro, os soldados disparam balas. Então essas são as diversas formas de atuação.
Qual a responsabilidade dos Estados Unidos neste último ataque?
EUA, França e Inglaterra têm uma responsabilidade muito grande, pois dão apoio político e econômico para Israel. A posição estadunidense não surpreende. Eles não condenaram o assassinato dos pacifistas que estavam no navio. Eles deram a entender que Israel estaria correto. Então os EUA, ao não condenar Israel, acabam ajudando a legitimar a versão israelense sobre os fatos. O pior inimigo para os EUA ainda é o Movimento de Resistência da Palestina. Por isso eles apoiam Israel. Eles acham que Israel tem o direito de praticar todos os crimes para conter o Movimento de Resistência da Palestina.
Leia também:
Milhares
de israelenses protestam contra o governo em Tel Aviv
Netanyahu
rejeita proposta de criar uma comissão internacional
Governo
de Israel divulga vídeo-paródia contra Flotilha e depois pede desculpas
Lideranças
da comunidade judaica no Brasil apoiam ações militares de Israel
Em nota, o governo brasileiro condenou o ataque israelense. Isso foi positivo?
É um governo que condena Israel, mas que firmou um tratado de livre comércio com Israel, por meio do Mercosul. O governo brasileiro trouxe Israel para dentro do Mercosul quando o presidente Lula visitou o país e assinou o acordo. Isso é um absurdo, um equívoco do governo assinar um acordo com um país que não respeita os direitos humanos, não respeita os direitos internacionais humanitários e não respeita a resoluções da ONU em relação à Palestina. Como o Brasil pode se prestar a esse serviço? Tão ruim quanto à posição dos EUA de não condenar, é o Brasil firmar um acordo econômico. Os movimentos sociais do Brasil são contra a postura do governo brasileiro de tentar aproximar Israel dos países da América do Sul.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL