Após ter se negado a aceitar ajuda bilionária que pode tirar o país da crise fiscal, o governo da Irlanda anunciou na noite deste domingo (21/11) que está negociando um acordo com a União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional). Em troca de severas políticas monetárias que assegurem a diminuição da dívida do país, a UE e o FMI devem fazer um empréstimo que pode chegar a 100 bilhões de euros. O plano, porém, não será capaz de solucionar o problema econômico da Irlanda, que vai além da dívida pública e do descontrole fiscal, afirmaram analistas consultados pelo Opera Mundi.
“Infelizmente, acredito que seja um ajuste de curto prazo, é mais um remédio. Como aconteceu com a Grécia, melhora a situação fiscal, mas não tem poder de fazer a economia andar. O problema exige um ajuste, é mais profundo”, disse o consultor econômico José Góes da Win Trade.
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Com déficit (diferença entre o que o país arrecada e o que ele gasta) de cerca de 50 bilhões de euros e fuga de capitais dos principais bancos, a Irlanda estava próxima de declarar moratória. Para o economista-chefe da agência de risco Austin Rating, Alex Agostini, a situação é complexa porque o valor da dívida é elevado e, mesmo com o empréstimo, há dúvida sobre a capacidade de pagar e de conseguir se recuperar.
“Para conseguir, a Europa como um todo precisa se recuperar, o que pode levar de um a três anos, e a Irlanda precisa crescer. O país também terá que cortar gastos, como a aposentadoria, por exemplo. E precisar de sorte para a economia mundial crescer e estimular o bloco europeu. A dúvida é: e os futuros redores, como FMI e fundo europeu?”, afirmou Agostini.
A meta do acordo é reduzir o déficit público para 3% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2014. Para isso, o FMI e a UE vão obrigar a Irlanda a cortar despesas e investimentos no valor estimado em 15 bilhões de euros. Segundo José Góes, é difícil apontar uma solução, mas um dos caminhos seria aumentar a arrecadação de impostos e a geração de empregos.
Efeito dominó
A situação da Irlanda é um dos reflexos da crise econômica mundial, iniciada em 2008, e expõe que faltam mecanismos mais eficientes de controle de especulação bancária e fiscalização das contas de países membros, explicaram os economistas. Para eles, a Europa ainda não se recuperou, o que dificulta a retomada das economias nacionais. O aspecto financeiro e a economia nacional estão vinculados, como um ciclo, explicou Agostini.
“Essa ajuda vai primeiro corrigir o sistema fiscal e vai manter a liquidez do sistema bancário. Então, pode-se pensar em aquecer a economia, resolver o problema fiscal e atenuar efeitos da crise como o desemprego, o que acontece por meio de financiamento da produção, por exemplo”.
Com medo de um efeito dominó, o Banco Central Europeu e governos de países da zona do euro, estavam pressionando a Irlanda para que aceitasse o pacote de ajuda para evitar que os efeitos de sua instabilidade financeira se disseminassem pelos outros países do bloco.
Próxima vítima
A Irlanda é o segundo país europeu a recorrer a ajuda neste ano. Em maio, a Grécia fechou um acordo semelhante e, após a provação de um fundo emergencial inédito, recebeu 750 bilhões de euros, o equivalente a 1,7 trilhão de reais para amenizar a situação de descontrole orçamentário.
“A próxima discussão é Portugal, cujo déficit chega a quase 10% do PIB nacional, número considerado alto”, afirmou Agostini, da Austin Rating. Já Góes, da Win Trade, acredita que, se a União Européia fizer empréstimo para Portugal, Espanha, Itália, França, vai faltar dinheiro.
Na terça-feira passada (16/11), o primeiro-ministro da Irlanda, Brian Cowen, havia afastado a hipóteses de receber o empréstimo e afirmou que o país não tinha requisitado ajuda financeira e que estava preparado para trabalhar com seus pares europeus “para normalizar as condições do mercado” e lidar sozinho com suas dívidas.
Ainda não se sabe qual será a taxa de juros que o Estado pagará pelo empréstimo da UE e do FMI. Os detalhes do acordo com a Irlanda devem ser definidos nas próximas semanas, informou na segunda-feira o primeiro-ministro, Brian Cowen. O ministro belga das Finanças, Didier Reynders, cujo país está na presidência rotativa da UE, adiantou que a ajuda será de “menos de 100 bilhões de euros”.
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