O Cristo Redentor e uma série de outros monumentos ao redor do mundo
vão ficar às escuras durante uma hora neste sábado (28), assim como as
propriedades residenciais e comerciais das pessoas mais engajadas na
causa ambiental. A terceira edição da Hora do Planeta vai envolver 2,4
mil cidades em 80 países, segundo os organizadores. O momento para
promover este grande “apagão” é oportuno. Desde que o IPCC (Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas) divulgou seu último e
alarmante relatório, há cerca de dois anos, o aquecimento global não
arrefeceu. Há quem diga que a situação piorou.
Os estudos realizados desde então indicam que as mudanças climáticas
serão piores e acontecerão de forma mais intensa do que o previsto,
segundo Paulo Artaxo, físico da USP (Universidade de São Paulo),
especialista em química atmosférica e um dos autores do quarto e último
relatório do IPCC.
“As mudanças climáticas serão mais fortes, mais rápidas e mais graves
do que o previsto. O aumento de quatro graus em 100 anos já é
considerado muito alto, e este é um quadro que já não pode mais ser
revertido. A questão é grave. Na história da humanidade, nunca se
chegou nem perto de um problema como este. O dióxido de carbono tem um
tempo de vida na atmosfera de 100 anos. Se cessássemos hoje as
emissões, o efeito estufa seria significativo por pelo menos mais uns
500 anos”, afirmou Artaxo ao Opera Mundi.
O documento do IPCC, resultado do trabalho de 2500 cientistas de 130
países que analisaram pesquisas sobre clima, foi lançado em 2007 e
trouxe a público, pela primeira vez, a convicção embasada em fatos de
que a ação humana é responsável pelo aquecimento do planeta. Trouxe
também a estimava de que a temperatura média global vai aumentar até
quatro graus centígrados em média ainda neste século, entre outras
previsões e constatações. Para garantir a qualidade de vida atual, a
ONG WWF, organizadora da manifestação de hoje, estima que o aumento não
poderia ultrapassar dois graus.
Energia a partir do vento
Artaxo afirma que, embora após o alerta do IPCC o Brasil tenha adotado
planos federais e estaduais e aumentado a produção de biocombustíveis,
ainda falta motivação política para reduzir a queima de combustíveis
fósseis e o desmatamento, únicas medidas que podem amenizar a situação,
na opinião dele.
“O ideal é substituir totalmente o uso de derivados do petróleo, mas
isso é impossível. Portanto, o investimento em etanol não é solução. O
Brasil precisa investir em energia eólica e solar, e não em construção
de termoelétricas. O país tem um enorme potencial para desenvolver uma
matriz energética limpa e produtiva”, avalia.
Karen Suassuna, analista do WWF-Brasil, diz que, apesar de 30% do
combustível utilizado no Brasil ser etanol, isso não é suficiente. “É
preciso garantir continuidade e sustentabilidade para as energias
renováveis. Essa é a falha hoje. A energia eólica, por exemplo, não é
aproveitada e é uma boa solução”.
Para ela, os programas desenvolvidos no Brasil de combate ao
desmatamento têm tido resultados positivos. “Há dois anos, o governo
federal anunciou programas para tentar amenizar os efeitos das mudanças
climáticas. O Brasil tem dado sinais claros de mudança, o maior desafio
ainda é substituir o petróleo”.
O Brasil é o quarto maior emissor de gases efeito estufa por conta do
desmatamento. A meta é reduzir as emissões em 70% até 2017. Clique aqui para ler o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, lançado após o alerta do IPCC.
Martin Parry, cientista inglês membro do IPCC, acha que com o de
aumento de quatro graus na temperatura global, 45% das espécies
vegetais amazônicas serão extintas. Haverá queda na produção de grãos e
risco do aumento da desnutrição, doenças infecciosas e problemas
cardiorrespiratórios.
Protesto
A Hora do Planeta, realizada pela primeira vez na cidade australiana de
Sydney, em 2007, terá pela primeira vez a adesão do Rio de Janeiro. A
organização incentiva cidadãos, comércios e autoridades nacionais e
locais a apoiar a ação, apagando as luzes às 20h30 (no horário local). Clique aqui para saber mais.
Veja imagens dos primeiros lugares onde houve blecaute; crédito: agência EFE.
Edifício Singapore Flyer, em Cingapura
Crianças acendem velas em Quezon, Filipinas
Crianças acendem velas em Jacarta, Indonésia
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