O subchefe de logística do Estado-Maior do Exército do Sudão do Sul, Thomas Cirilo, anunciou nesta segunda-feira (13/02) sua renúncia ao cargo, e acusou o governo de cometer uma “limpeza étnica” e de violar de forma “premeditada” o acordo de paz assinado em agosto de 2015 com a oposição armada.
Em sua carta de renúncia, Cirilo acusou o presidente sul-sudanês, Salva Kiir, e o chefe de Estado-Maior, Paul Amlong Awan, de entorpecer “sistematicamente” a aplicação do acordo assinado com o ex-vice-presidente Riek Machar.
Cirilo acusou ambos de impor “uma agenda da tribo dinka para realizar políticas de limpeza étnica e de deslocamento de civis a fim de dominar o país”.
O agora ex-alto comando disse que Kiir transformou o Exército em uma instituição “tribal” que tem como alvo os outros nacionais que não são da tribo dinka, à qual pertencem o presidente e o chefe de Estado-Maior, e concluiu que é “incapaz de continuar em uma instituição que destrói o país”.
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O presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, em pronunciamento no Parlamento do país em dezembro
O Sudão do Sul está imerso na violência desde que em dezembro de 2013, dois anos após sua independência, Kiir denunciou uma tentativa de golpe de Estado liderado por Machar, da tribo nuer.
Embora ambos tenham alcançado um acordo de paz em agosto de 2015, a tensão voltou a explodir no país em julho e os combates continuaram desde então.
ONU expressa “forte preocupação” com escalada de violência no Sudão do Sul
A ONU expressou na quinta-feira (09/02) forte preocupação com a escalada de violência entre o governo do Sudão do Sul e as forças da oposição às margens oeste do rio Nilo, no norte do país.
“O que começou com uma troca de fogo entre o Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA) e as forças de oposição de Aguelek expandiu-se geograficamente e alcançou uma proporção preocupante”, destacou o chefe da Missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS), David Shearer.
“As operações militares na margem ocidental do rio Nilo estão ocorrendo em uma área onde as pessoas, predominantemente da etnia shilluk, vivem, forçando os civis a sair de suas casas. Há relatos de que a cidade de Wau Shilluk está deserta. Trabalhadores humanitários foram evacuados e ajuda não está sendo prestada”, acrescentou.
Na quarta-feira (08/02), a UNMISS recebeu relatos de hostilidades entre as partes em conflito em Owachi e Tonga.
Em visita às regiões de Bentiu e Leer, o chefe da Missão se reuniu com autoridades do governo estadual, bem como com deslocados internos que vivem na maior área de proteção de civis do país.
Ele discutiu com as autoridades locais e também aproveitou a oportunidade para viajar a uma área controlada pela oposição, a fim de se reunir com os representantes e ouvir todas as opiniões de como facilitar a entrega de ajuda humanitária e avançar no processo de paz.
A oposição local afirmou ao chefe da Missão que apoia a cessação das hostilidades e permanece em uma posição defensiva, de modo a encorajar o retorno das agências humanitárias a Leer.
“Tanto as autoridades locais como a oposição elogiaram a ONU pelos seus esforços em facilitar as comunicações entre os lados”, acrescentou Shearer, afirmando que ambos as partes reconhecem que um diálogo nacional inclusivo ajudará o processo de paz.
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Campo de refugiados em Leer, no centro-norte do Sudão do Sul; ONU manifesta 'forte preocupação' com escalada de violência no país
O conselheiro especial das Nações Unidas para a prevenção do genocídio, Adama Dieng, também expressou preocupação com a violência continua em algumas áreas do país.
“O presidente Salva Kiir havia se comprometido com o fim da violência e com a construção da paz no país. No entanto, ainda continuamos assistindo a combates em curso, e o risco que atrocidades em massa aconteçam é permanente”, destacou.
Mais de 52 mil sul-sudaneses fugiram para Uganda apenas em janeiro, saindo principalmente de Yei, Morobo, Lainya e Kajo-Keji.
Cerca de 24 mil chegaram entre 25 e 31 de janeiro, dos quais 4.500 chegaram em um único dia, no dia 28 de janeiro. Muitos relataram o assassinato de civis, a destruição de lares, a violência sexual e a pilhagem de gado e de propriedade, e citam o medo de serem presos e torturados.
Adama Dieng afirmou que está especialmente preocupado com a situação em Kajo-Keji, na Equatória Central (sul de Juba), de onde os civis fugiram com medo da violência em massa.
Apesar das extensas discussões no Conselho de Segurança da ONU, realizadas em novembro e dezembro de 2016, sobre uma proposta de impor um embargo de armas no Sudão do Sul e aumentar as sanções específicas, os acordos não foram alcançados.
Na sexta-feira (10/02), a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) informou que, desde dezembro de 2013, mais de 1,5 milhão de pessoas já foram forçadas a deixar o Sudão do Sul por conta dos conflitos no país. O número faz da situação da nação em guerra a pior crise de refugiados da África e a terceira maior do mundo, atrás apenas da Síria e do Afeganistão.
O organismo internacional emitiu um apelo a todas as partes envolvidas nos confrontos para que busquem, com urgência, uma resolução pacífica. Além dos que tiveram de deixar o país, outros 2,1 milhões de indivíduos são considerados deslocados internos, ou seja, são pessoas que abandonaram suas casas e as cidades onde moravam, mas que permaneceram dentro do território sul-sudanês.
*Com Agência Efe e ONU Brasil