A presidente do Peru, Dina Boluarte, solicitou formalmente à Procuradoria-Geral da República, neste domingo (31/03), a antecipação de seu depoimento como alvo no “Caso Rolex”, investigação por enriquecimento ilícito e omissão de registro de declarações em documentos públicos, em especial na aquisição de relógios de luxo.
Apesar da solicitação da mandatária do Peru feita através de seus advogados, a data de convocação ainda está marcada para a próxima sexta-feira (05/04), e nenhuma alteração foi informada até o momento.
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Por meio de uma carta do Castañeda & Menacho Abogados, escritório de advocacia que representa a presidente peruana, acessada pelo jornal peruano La República, a mandatária solicitou ao procurador da nação, Juan Carlos Villena, que seu “depoimento investigativo seja tomado imediatamente” e que “a programação anteriormente especificada seja rescindida a fim de esclarecer o mais breve possível a investigação”.
O pronunciamento da defesa de Boluarte ocorreu após o Ministério Público declarar a presidente “In absentia”, ou seja, sem a presença do réu no julgamento, por não ter comparecido às duas intimações que lhe fizeram, em 26 e 27 de março.
O Caso Rolex teve início após uma investigação do portal La Encerrona, revelada em 14 de março, que analisou milhares de fotos de Boluarte enquanto ela ocupava o cargo de ministra no governo do ex-presidente Pedro Castillo e já como presidente, a partir de 7 de dezembro de 2022.
Segundo a investigação, a presidente possui uma grande coleção de relógios, vários deles luxuosos, que não foram declarados perante o Júri Nacional Eleitoral (JNE). Além disso, não justificou o recebimento de cerca de U$300 mil de origem desconhecida nas suas contas bancárias entre 2016 e 2022, antes de assumir a Presidência.
Investigação na residência presidencial
O pedido de adiantamento da audiência também seguiu o desenrolar das investigações do Ministério Público no Palácio Presidencial, a residência de Boluarte, no último sábado (30/03). As autoridades peruanas procuraram, durante quatro horas, a origem dos itens de luxo sob sua posse, mas não-declarados às autoridades do país.
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Segundo o órgão peruano, a investigação realizada no domicílio presidencial foi ordenada pelo Supremo Tribunal de Instrução Preparatória do Supremo Tribunal de Justiça do Peru” e rejeitou acusações de que a intervenção tenha sido “ilegítima, inconstitucional e abusiva”, como a presidente acusou.
A intervenção aconteceu após o Ministério Público pedir repetidamente à presidente que mostrasse os relógios e jóias alvos da investigação, porém a mandatária não atendeu o pedido e os itens não foram encontrados em sua residência.
De acordo com o relatório de apreensão do Ministério Público, na documentação sobre os relógios Rolex da presidente, a data da compra consta no ano de 2023. No entanto, a chefe de Estado referiu que os acessórios eram objetos “de antigamente”. Já segundo especialistas, os relógios foram fabricados nos últimos quatro anos, pelas características que os definem.
Por outro lado, em meio à procura no Palácio do Governo, um dos advogados de Boluarte destacou que talvez os relógios sejam presentes de algum “fã apaixonado”.
Posicionamento de Boluarte
Até o momento, a solicitação de mudança da audiência foi a única manifestação direta de Boluarte sobre a investigação, que deve referir-se publicamente sobre o caso apenas perante às autoridades em seu testemunho formal.
No entanto, em um discurso à nação, também no sábado (30/03), após sua residência ser alvo do Ministério Público, a presidente apenas afirmou que “é vítima de ataque e assédio sistemático baseados em notícias tendenciosas e falsas”.
“Vou comparecer ao Ministério Público para testemunhar sobre os relógios. Não sou corrupta, nem ladra”, ainda frisou a presidente em seu discurso.
Pedido de moção
Na esteira da situação “In absentia” de Boluarte perante o Ministério Público, a oposição da presidente no Congresso peruano, o partido Peru Libre, apresentou um pedido de moção contra a mandatária no sábado (30/03), por “incapacidade moral permanente”.
O documento classifica o governo de Boluarte como “ditatorial”, em que a mandatária “transgrediu a Constituição e permaneceu impune pelos seus crimes contra a humanidade, demonstrando conduta de incapacidade moral permanente, sempre com o apoio da direita parlamentar que frustrou vários pedidos de moção”.
O texto ainda afirma que ao não declarar relógios e jóias de luxo perante o Júri Nacional Eleitoral (JNE), a presidente violou princípios éticos e morais como probidade e transparência.
Até o momento, a resolução tem 26 assinaturas a favor das bancadas do Peru Libre, Ação Popular, Mudança Democrática e Bloco de Professores, mas precisa de pelo menos 40% dos parlamentares para ter andamento, o que significa o apoio de 87 deputados.
(*) Com TeleSUR