O líder espiritual do maior partido islamita de Bangladesh foi condenado nesta segunda-feira (15/07) a 90 anos de prisão por crimes contra a humanidade cometidos durante a guerra pela independência do país, em 1971. Ghulam Azam tem 91 anos de idade e está doente. Sua condenação gerou embates entre os que a consideraram muito dura e branda.
O tribunal responsável pelo julgamento, composto por três juízes, declarou Azam culpado de todas as 61 acusações contra ele, sob cinco categorias, incluindo assassinato, conspiração, incitamento ao genocídio e cumplicidade com o crime.
Os juízes consideravam que a pena de morte seria a mais adequada pelo peso das acusações, mas condenaram o islamita, ex-líder do partido JI (Jamaat-e-Islam), a 90 anos de prisão por causa de sua idade avançada.
A promotoria comparou Azam a Adolf Hitler pelo papel de “guia” nos massacres durante a violenta guerra de independência, que terminou com a criação do Estado de Bangladesh, até então uma província do Paquistão.
Azam foi apresentado como o “cérebro” do assassinato de intelectuais. Muitos deles foram encontrados poucos dias depois do fim da guerra em um pântano nas proximidades de Dacca, capital do país, com os olhos vendados e as mãos amarradas.
Agência Efe
Cartaz com o rosto de Ghulam Azam segurado por manifestantes a favor do líder islamita
Ghulam Azam é o terceiro islamita condenado nos últimos meses sob a acusação de cooperar com as autoridades paquistanesas durante a guerra de 1971, em que cerca de 3 milhões de pessoas foram mortas e 200 mil mulheres, estupradas. Outros veredictos relacionados ao assunto são esperados para os próximos meses.
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Os julgamentos e as condenações têm provocado ataques de violência e profunda agitação em Bangladesh, envolvendo os partidários do JI e jovens progressistas que pediram a pena de morte para os islamitas.
Ambos os lados promoveram greves que paralisaram o país e prejudicaram a economia, que já estava se recuperando de problemas na essencial indústria têxtil. A mídia local reportou que uma pessoa foi espancada até a morte hoje por não ter atendido ao chamado de greve do JI, que havia convocado manifestações para antes do veredicto.
Quanto a Azam, seu advogado, Tajul Islam, alega que as acusações se basearam em informações da imprensa que citam discursos pronunciados durante a guerra, sem comprovação alguma. “A acusação falhou completamente em apresentar a mínima prova que fundamente as acusações”, afirmou.
JI, por sua vez, liberou uma declaração oficial reiterando que a promotoria não conseguiu comprovar nenhuma das 61 acusações contra Azam. O partido afirma que o líder islamita “acreditava num Paquistão indivisível”, mas que “genocídio e crimes contra a humanidade são completamente diferentes de lutar pela liberdade e soberania do Paquistão”.