A duas semanas do início da Copa América no Chile, os escândalos de corrupção envolvendo altos dirigentes do futebol mundial respingaram no país sul-americano. A receita chilena solicitou nesta quinta-feira (28/05) uma auditoria nas contas da ANFP, federação responsável pelo futebol do país.
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Reprodução/Rafael Ribeiro/CBF
José Maria Marin (esq.), ex-presidente da CBF, e o dirigente chileno Sergio Jadue se encontram em jogo amistoso em março em Londres
Entre os vários documentos apresentados ontem pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, um deles aponta que a empresa Datisa, com sede no Uruguai, distribuiu US$ 100 milhões em subornos para dirigentes da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), em troca dos direitos de transmissão das próximas quatro edições da Copa América.
Sergio Jadue, presidente da ANFP (Associação Nacional de Futebol Profissional do Chile) e vice-presidente da Conmebol, seria um dos executivos que teriam recebido propina nessa negociação. Em virtude desse cenário, o SII (Sistema de Impostos Internos, equivalente à Receita Federal brasileira), solicitou uma auditoria nas contas da entidade futebolística chilena que englobe as últimas três administrações — de 2001 até agora —, e uma investigação sobre as declarações ao fisco da entidade e de seus três últimos presidentes.
Além de Jadue, também serão investigados Reinaldo Sánchez e Harold Mayne-Nicholls. Este último foi funcionário da Fifa (Federação Internacional de Futebol) entre 1993 e 2012, e era responsável pelas vistorias aos países que se candidatavam a sedes de eventos organizados pela entidade. Em 2013, numa entrevista à imprensa britânica, Mayne-Nicholls causou polêmica ao comentar sobre a Copa de 2022, cuja sede será o Qatar. Na entrevista, ele afirmou que seu parecer sobre a candidatura dizia que o país não tinha condições de realizar o torneio.
Reação interna
Em coletiva realizada a alguns poucos meios da imprensa local, a ANFP garantiu que não houve nenhum tipo de suborno envolvendo a organização desta Copa América, que tem data marcada para começar no dia 11 de junho.
O próprio Sergio Jadue esteve presente na conferência de imprensa e mostrou um documento com o qual confirma o recebimento de US$ 1,5 milhão, que, segundo ele, é referente à concessão legal dos direitos de transmissão do torneio. “Espero que, daqui para frente, as investigações sejam feitas com maior rigor e não gerem denúncias que não estejam totalmente comprovadas”, reclamou Jadue, ao apresentar os documentos.
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O presidente não quis comentar sobre a auditoria solicitada pelo SII, dizendo que ainda não conhecia detalhadamente a medida anunciada e que a ANFP comentaria a situação através de um comunicado após analisar a situação. No entanto, encerrou a coletiva apelando à imprensa local que enfatizasse que a atual Copa América está limpa, e pedindo ao governo e à presidente Michelle Bachelet que reforçasse o apelo — a ministra dos Esportes, Natalia Riffo, afirmou que “o governo não faz parte da organização da Copa América, portanto não cabe a nós, nem pedir explicações ao senhor Jadue, nem falar em nome do evento, mas sim esperar que ele se realize com toda a transparência possível”.
Troca de sedes
É importante lembrar que a escolha do Chile como sede da Copa América de 2015 foi fruto de uma negociação que inverteu o critério de revezamento de sedes que funcionou até 2011. Por esse sistema, a edição deste ano deveria ser no Brasil, mas em um acordo realizado em 2012, Brasil e Chile trocaram de turno no revezamento – o Chile deveria ser responsável pela Copa América de 2019, que agora será no Brasil.
O Chile solicitou a inversão das sedes desde a chegada ao poder do presidente Sebastián Piñera (2010-2014), que tinha como uma de suas promessas a realização de grandes eventos esportivos no país — além da Copa América e do Mundial Sub-17, também este ano, Piñera conseguiu para Santiago a sede dos Jogos Sul-Americanos de 2013, mas perdeu a dos Jogos Panamericanos de 2019 para Lima, no Peru.
Com a chegada de Jadue à ANFP, em 2011, o lobby se fortaleceu, mas a mudança só aconteceu quando Ricardo Teixeira, que se negava a aceitar a proposta, se afastou da CBF devido a denúncias de corrupção, em 12 de março de 2012. Onze dias depois, o recém-assumido José Maria Marín acertou com Jadue a troca de sedes, na que foi uma de suas primeiras medidas no cargo.
Os documentos apresentados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos relatam o pagamento de suborno da empresa Datisa para dirigentes da Conmebol, pelos direitos de transmissão das próximas quatro edições da Copa América. Além da deste ano e da de 2019, que já tem as sedes definidas, também envolveria os torneios de 2023 e de 2027, cujas sedes estão sendo disputadas entre Bolívia, Colômbia, Equador e Uruguai. A Conmebol ainda não anunciou se vai manter o sistema de revezamento das sedes. Se o fizer, essas edições seriam realizadas no Equador e no Uruguai, respectivamente.