Os afegãos vão às urnas amanhã (20) para escolher o próximo presidente do país e os membros dos conselhos das províncias. Na segunda corrida presidencial desde 2004, o favorito é o atual mandatário Hamid Karzai, segundo apontam especialistas entrevistados pelo Opera Mundi.
Os números também mostram o favoritismo de Karzai. De acordo com a pesquisa eleitoral mais recente, realizada em julho pelo IRI (Instituto Republicano Internacional), o atual presidente teria 44% dos votos. Abdullah Abdullah, ex-ministro das Relações Exteriores, atingiria 26% – o que levaria ambos a disputarem um segundo turno. Ashraf Ghani, ex-ministro de Finanças e terceiro principal concorrente, ficaria com 6% das intenções, sendo que a margem de erro é de dois pontos percentuais.
O país possui 34 províncias, e cada uma delas é dividida em distritos menores. Esta é a segunda eleição do país sob a nova constituição – a primeira eleição presidencial ocorreu em 2004 e elegeu Hamid Karzai, com mandato de cinco anos. As primeiras eleições para os conselhos das províncias ocorreram em 2005.
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Apesar de estar na liderança na corrida presidencial, o governo de Karzai tem recebido críticas principalmente pelas altas taxas de desemprego, pela lentidão na reconstrução do país e pelo fato de não ter conseguido combater o grupo extremista Talibã. “Karzai diz que vai negociar com os insurgentes se ele for reeleito. Este é o principal slogan da campanha dele. Mas as pessoas não acreditam que isso seja sincero, porque, se nos últimos oito anos ele não foi capaz de negociar com o Talibã, como essa eleição vai mudar alguma coisa? O Talibã não vai negociar enquanto as tropas estrangeiras estiverem presentes no Afeganistão, e ele não tem autoridade para tirar essas tropas do país”, opina o jornalista Abdulhadi Hairan, que mora na capital, Cabul.
A especialista em Afeganistão e pesquisadora da SOAS (Escola para Estudo Africanos e Orientais), da Universidade de Londres, Massoumeh Torfeh, acredita que muito do que Karzai fez teve o apoio da comunidade internacional, então não se deve apontá-lo como unido responsável pela atual situação. “Nós não podemos culpá-lo por tudo, mas ele é o principal rosto de um país que falhou. Ele está causando muitos problemas ao negociar com os talibãs, que continuam com os atentados e com as ameaças de matar pessoas nas eleições”.
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Além disso, segundo a pesquisadora, o presidente não apresenta um programa político claro. “Há cinco anos ele fala generalidades, como ‘reconstruir a economia’ e ‘acabar com a insegurança’”. No entanto, Torfeh afirma que, mesmo não tendo feito o suficiente em seus anos de presidência, Karzai ainda é o único dos candidatos que conseguiu costurar acordos e unir todos os grupos étnicos e religiosos do Afeganistão. Por isso, ela acredita, o presidente tenha alcançado o alto índice de votos.
Ex-ministros
A principal proposta da campanha do médico e ex-ministro das Relações Exteriores Abdullah Abdullah é centrada trazer paz e estabilidade ao país, com liberdade de expressão e de imprensa. Ele diz que pretende mudar o sistema presidencial para um regime parlamentarista e quer que todos os governadores sejam eleitos diretamente pelo povo – e não mais indicados pelo presidente.
S.Sabawoon/EFE (18/08/09)
Afegão vende refrigerantes em frente a cartaz da campanha do ex-ministro de Exteriores Abdullah Abdullah, em Cabul
O candidato também é conhecido no Afeganistão como herói da resistência e estreito colaborador do guerrilheiro assassinado Ahmed Shah Mehsud, que pertencia à Aliança do Norte e lutava contra os talibãs antes dos atentados de 11 de setembro de 2001. Acredita-se que seus votos virão principalmente da etnia tadjique, a mesma de sua mãe e a segunda mais numerosa do país. “A desvantagem é que ele não tem apoio de todos os setores do país”, explica a pesquisadora da Universidade de Londres, Massoumeh Torfeh.
Já o ex-ministro de finanças Ashraf Ghani é contrário à negociação com os insurgentes, e coloca como meta de campanha reverter os avanços dos talibãs. “Ghani é um economista brilhante e especialista em reconstruções de países. É inimigo da pobreza e da corrupção. O problema é que ele é muito independente e alienado à comunidade internacional. Além disso, ele faz parte da elite do país, é muito estudado, e a população não se vê nele”, opina Torfeh.
Insegurança
As eleições acontecem em um clima de incerteza, devido às ameaças dos insurgentes, que consideraram o pleito “propaganda” norte-americana, segundo um comunicado postado na Internet. O Talibã ameaça boicotar as eleições e tenta atrapalhar o processo com atentados, como o ocorrido sábado, contra o quartel-general da Força Internacional de Assistência à Segurança que deixou sete mortos. O grupo extremista assegurou no comunicado que a maioria do Afeganistão está sob seu controle, e que não haveria possibilidade de realizar eleições, salvo em algumas poucas cidades e centros provinciais.
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Embora o governo afegão tenha prometido mobilizar todos os recursos para proteger o pleito, o ministro do Interior, Mohammed Hanif Atmar, reconheceu, em declarações à Agência EFE neste domingo, que as forças não serão totalmente capazes de garantir a segurança do processo eleitoral.
Norte-americanos
Os Estados Unidos não elegeram nenhum candidato como favorito, pois apoiar um determinado concorrente “enfraqueceria a legitimidade” do processo eleitoral, segundo disse à Agência EFE a analista do Departamento de Segurança Nacional do Centro para Progresso Americano, Caroline Wadhams. Na opinião da especialista, “não está claro quem seria o melhor vencedor” aos olhos dos “interesses americanos”.
Segundo Wadhams, Washington “tem problemas com todos” os principais candidatos, a começar pelo próprio Karzai. O governo de Obama estaria se “distanciando” do atual presidente, cuja vitória é vista com “grande preocupação” pelos Estados Unidos, dadas as denúncias de corrupção, a crescente violência dos talibãs e a falta de liderança do atual chefe de Estado afegão.
Segundo o enviado especial dos Estados Unidos para o Afeganistão e o Paquistão, Richard Holbrooke, seja quem for o vencedor, os Estados Unidos querem de Cabul um esforço especial na luta contra a corrupção, um programa de anistia de nível nacional e o fortalecimento das instituições. O plano norte-americano, anunciado por Obama em abril, tem como principal meta a aniquilação da Al Qaeda, mas, como objetivo final, busca a estabilização do Afeganistão.
Para tanto, os Estados Unidos elevarão o número de soldados norte-americanos em solo afegão até o fim do ano para o número recorde de 68 mil. Também enviarão especialistas de diversas áreas para ajudar no desenvolvimento do país.
Washington também esteve envolvida nos últimos meses na preparação das eleições e nos combates com os talibãs em Cabul. Entre os programas implementados até agora pelos norte-americanos está o que suprime progressivamente a erradicação de plantações de papoula, por meio do aumento da fiscalização e do estímulo aos afegãos, com dinheiro e distribuição de sementes, no cultivo de gêneros alimentícios.
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