A pressão popular continua provocando vertiginosas mudanças na Tunísia, onde o governo anunciou nesta quinta-feira (20/01) a restituição ao Estado de todos os bens da Reunião Constitucional Democrática (RCD), o partido que controlava o poder no regime do presidente deposto Zine el Abidine Ben Ali.
O primeiro Conselho de Ministros do novo governo de transição decidiu apreender “todos os bens móveis e imóveis” do RCD, cujas estruturas em todo o país se confundiram com as públicas durante os 23 anos de mandato do ex-presidente.
Leia mais:
Análise: Surpresa: a Tunísia era uma ditadura
Dois ministros renunciam após divulgação do governo de transição da Tunísia
Novo governo da Tunísia promete prender responsáveis por repressão
Queda de presidente da Tunísia não deve aliviar protestos, diz especialista
Tunísia anuncia formação de governo de unidade nacional
Embora os ministros do anterior regime continuem nos postos principais do Executivo de transição, eles se desvincularam nesta quinta do partido, que ficou sem liderança e teve que anunciar a dissolução de seu principal órgão de direção.
E tudo isso aconteceu depois que milhares de pessoas voltaram às ruas para exigir que o partido que apoiava Ben Ali seja extinto.
Após conseguir romper o forte cordão policial que os continha no centro da capital, cerca de 5 mil pessoas, entre elas centenas de mulheres, foram até a sede principal do RCD, um luxuoso arranha-céus de mais de 30 andares que se tornou o símbolo do poder do antigo regime.
Quando os manifestantes chegaram à frente do edifício, os militares e os policiais que o protegiam, assustada diante da massa enfurecida, atiraram para o alto em um primeiro momento.
Mas, após alguns momentos de tensão, os policiais se retiraram, e os militares tomaram o controle da situação, limitando-se a formar um cordão de soldados ao redor da sede para conter a multidão.
Muitos deles abraçaram e beijaram aos soldados, enquanto gritavam palavras de ordem contra o RCD e entoavam o hino nacional.
O Exército tunisiano, ao contrário da Polícia, é muito querido e respeitado no país, e a ele é atribuído um papel decisivo na série de acontecimentos que acabaram com a saída de Ben Ali do poder.
Os participantes do protesto, entre os quais havia estudantes, sindicalistas, professores, aposentados e trabalhadores de diversos setores, não se cansavam de pedir aos soldados que os permitissem arrancar o nome do partido, inscrito em letras douradas na fachada do edifício.
Até que os militares permitiram o acesso ao interior de um pequeno grupo de manifestantes, que desmontaram primeiro o cartaz luminoso no alto do prédio e depois as grandes letras douradas da fachada que formavam o nome em árabe do RCD.
Quando caiu ao solo a primeira palavra, aconteceu uma tremenda explosão de alegria entre os manifestantes, que explodiram em aplausos, se abraçaram e beijaram os soldados.
Alguns não puderam conter a emoção e começaram a chorar. Era o símbolo dos 23 anos de ditadura que caía com as letras.
Fatma, uma camponesa idosa, se ajoelhou entre lágrimas às portas do edifício e começou a agradecer a Alá.
“O povo acabou com o RCD, que roubou durante décadas nossa liberdade e nossas riquezas”, dizia Amina, um estudante de Direito da Universidade de Túnis.
Bastou a queda do nome do odiado partido para que os manifestantes se dessem por satisfeitos e abandonassem a sede após serem ameaçados pelos soldados. Contudo, os protestos continuaram pelo centro da cidade até que o Governo anunciou à tarde a apreensão de todos os bens do RCD.
O Executivo também adotou um projeto de lei de anistia geral, que incluirá os islamitas presos do partido ilegal Enahda e todos os exilados, apesar de ainda precisar de aprovação no Parlamento.
Além disso, ficou decidido que na próxima semana serão retomadas as aulas nas escolas e nas universidades, fechadas desde o último dia 10.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL