Agência Efe
Membro do Exército Livre da Síria ergue seus armamentos dias antes do início do cessar-fogo
O cessar-fogo temporário entre forças da oposição síria e do presidente Bashar al Assad foi encerrado oficialmente nesta terça-feira (30/10) e jatos militares do governo bombardearam diversas cidades do país. Com o fim do acordo, o Enviado Especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, iniciou uma nova rodada de viagens em busca de negociações.
A trégua foi rompida diversas vezes durante os quatro dias do feriado muçulmano Eid al-Adha (Festa do Sacrifício em português) por grupos rebeldes e pró-Assad, frustrando os planos de organizações humanitárias e da diplomacia internacional.
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O Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e o Crescente Vermelho planejavam entregar ajuda para 13 mil famílias, mas conseguiram dar assistência a apenas 2,8 mil. Além da falta de combustível, veículos que levavam pacotes de ajuda foram roubados e os ataques entre as forças continuaram, ameaçando as vidas dos ativistas.
“Nós esperávamos que o cessar-fogo representaria uma grande oportunidade para alcançar largo número de pessoas, mas tivemos sucesso limitado”, disse a porta-voz do Acnur, Sybella Wilkes, ao jornal britânico Guardian. “Nós vamos continuar tentando entregar ajuda. Nós estamos atingindo cada vez mais pessoas”, acrescentou ela.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos, uma organização opositora baseada em Londres, anunciou nesta terça (30/10) a Agência Efe que mais de 549 pessoas foram mortas durante os dias da trégua, incluindo 235 civis e 148 membros das forças do regime.
O Enviado Especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, que liderou as negociações do acordo, lamentou o fracasso do cessar-fogo temporário em coletiva de imprensa em Moscou nesta segunda-feira (29/10). “Estou terrivelmente triste que este apelo (de uma trégua) não foi ouvido ao nível que esperava que seria, mas isso não vai nos desencorajar”, disse ele.
Negociações com Assad
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, pediu para atores regionais e ocidentais negociarem a paz com Assad. De acordo com Moscou, esta será a única forma de alcançar um acordo para o fim do conflito no país.
A Turquia, um dos principais financiadores da oposição síria e que exerce importante papel no conflito, descartou a possibilidade. O ministro das Relações Exteriores de Ancara, Ahmet Davutoglu, disse nesta terça-feira (30/10) que “não existe nenhum fundamento em iniciar diálogos com um regime que continua a massacrar seu próprio povo”.
Em busca de novo acordo
Brahimi retomou as negociações sobre o conflito sírio em busca de uma resolução de paz para a próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU. O diplomata argelino se reuniu com o governo russo nesta segunda-feira (29/10) e hoje (30/10), desembarcou na China para encontros com as autoridades do país.
Pequim e Moscou são os principais aliados do presidente sírio entre as potências internacionais e já vetaram três resoluções no Conselho de Segurança que incluíam a possibilidade da intervenção militar. Depois de encontro com Brahimi,
Agência Efe (29/10)
O Enviado Especial da ONU para a Síria, L. Brahimi (esq.), cumprimenta o ministro das Relações Exteriores russo, S. Lavrov
Nas últimas semanas, o enviado especial viajou para diversos países do Oriente Médio e Norte da África para negociar com autoridades locais um acordo de cessar-fogo temporário na Síria. Agora, com o fim do cessar-fogo, Brahimi tem deve elaborar um novo plano de paz para ser apresentado na reunião do Conselho de Segurança em novembro, na qual irá participar.
O diplomata argelino, que substituiu Kofi Annan no cargo, tem a difícil missão de negociar uma solução de paz para o conflito sírio, que ocorre há 19 meses. “Nós esperamos contribuir para o fim da violência durante os próximos dias e semanas”, disse ele em sua primeira roda de negociações no início de setembro.
Em uma entrevista à rede britânica BBC, o mais novo mediador do conflito descreveu sua missão como “quase impossível” e reiterou que assume o cargo sem nenhuma ilusão. “Eu sei o quanto é difícil. Não posso dizer impossível, mas é quase impossível”, afirmou o diplomata que disse já sentir o “peso da responsabilidade”.
Annan renunciou ao cargo de enviado especial no dia 2 de agosto por não enxergar maneiras de solucionar o conflito na Síria. “É impossível para mim ou para qualquer outra pessoa convencer o governo e a oposição a dar os passos necessários para abrir um processo político”, disse ele na ocasião.
Estima-se que pelo menos 35 mil pessoas foram mortas desde o início das revoltas populares contra Assad em março de 2011. Segundo a ONU, cerca de 1,2 milhões de sírios precisam de ajuda humanitária urgente.