As duas mais novas universidades federais do país têm um conceito novo: ambas serão dedicadas à integração internacional do Brasil, uma com a América Latina e outra com os países de língua portuguesa. Tanto a Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) quanto a Unilab (Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira) terão metade dos seus estudantes provenientes do exterior, além de cursos de graduação e pós-graduação com currículos voltados para questões de maior interesse dos países envolvidos.
A Unila foi instituída no último dia 12 por lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto a lei de criação da Unilab está tramitando no Congresso Nacional. As aulas estão previstas para começar em agosto.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que, além da troca de experiências entre estudantes e docentes, que já é feita hoje em diversas universidades, o principal objetivo da Unila e da Unilab é a criação de projetos pedagógicos inovadores, com foco em áreas de conhecimento que ajudem na maior integração entre os povos e as nações.
Um exemplo, de acordo com Haddad, será o curso de Direito Internacional Comparado da Unila, em que os estudantes vão aprender o ordenamento jurídico do Brasil e dos países latino-americanos e, a partir daí, pensar em formas de integração na área jurídica. “Há muito a se fazer nessa área, mas quase não existem advogados com uma formação específica para isso”, justifica.
A chefe da Divisão de Temas Educacionais do Itamaraty, Almerinda Carvalho, avalia que os projetos das universidades de integração internacional são mais um importante exemplo do foco do Brasil na cooperação Sul-Sul. “Certamente esses novos cursos, com uma visão acadêmica já integracionista, ajudarão muito nesse processo, pois formarão uma geração com uma nova noção de mundo. Interação e conhecimento mútuo são fundamentais para um mundo mais tolerante”, diz.
Ela lembra que, desde a década de 1910, o Brasil tem a tradição de receber estudantes de outros países, inicialmente vindos na maioria de Argentina e Chile. Atualmente, somente as instituições federais de ensino superior têm cerca de 5 mil alunos estrangeiros, sendo que a cada ano chegam mil novos estudantes.
Críticas
Apesar do entusiasmo do governo e de membros da academia, parlamentares da oposição se manifestaram contra o projeto. Durante as discussões na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, onde o projeto que cria a Unilab foi aprovado em dezembro, o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) alega que os recursos seriam mais bem utilizados em outras universidades federais já existentes e acusou as iniciativas de terem caráter “muito promocional e até ideológico”.
“Se o governo quer estimular os estudos luso-afro-brasileiros, era melhor destinar os recursos para a criação de departamentos com essa finalidade em universidades já consolidadas, trazendo também mais estudantes de fora”, argumenta.
Para Madeira, na exposição de motivos do governo para criar a Unilab, “há toda uma argumentação a favor da integração internacional e de promover o desenvolvimento na África, mas o que menos aparece é o que deveria ser objetivo central de uma universidade: a busca de conhecimento para fortalecer o país. O tempo todo, a argumentação é ideológica” disse. Para o deputado, o modelo que deveria ser seguido era o das grandes universidades norte-americanas e europeias, que têm departamentos especializados em estudos de outros países e continentes.
Além da diplomacia
Os argumentos são rebatidos pelo o presidente da comissão de relações internacionais da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Carlos Alexandre Netto. Ele acredita que, mesmo com os programas já existentes de intercâmbio internacional de estudantes e professores, as novas universidades têm um caráter inovador e “vão promover uma integração de forma totalmente diferente do que temos hoje”.
Ele cita como exemplo a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), da qual é reitor, que tem cerca de 23 mil estudantes, sendo apenas 300 estrangeiros, enquanto a Unila e a Unilab terão metade dos alunos e dos docentes vindos de outros países.
“O grau de internacionalização é muito mais amplo, pois elas serão projetadas especialmente para esse fim. Seria muito difícil e custoso conseguir isso nas atuais universidades federais”, afirma.
Netto lembra que, mesmo nas grandes universidades do hemisfério norte que se destacam na área, os estudantes estrangeiros não passam de 10%. Segundo o reitor, a Andifes já trabalha a internacionalização acadêmica como o quarto pilar das instituições de ensino superior, completando a tríade “ensino, pesquisa e extensão”.
“Essa integração é muito importante, pois por meio da educação conseguimos muitos avanços diplomáticos que só a diplomacia oficial e comércio exterior não alcançam. Estamos movimentando pessoas que vão conviver em um ambiente de ensino e vão aprender muito mais juntos. Estamos melhorando muito o relacionamento entre os países”, conclui.
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