Com a direita unida e a Concertação fragmentada, hoje (15) tem início no Chile a campanha eleitoral mais apertada dos últimos anos para escolher o novo presidente da República e renovar o Parlamento nas eleições de 13 de dezembro.
O candidato da direitista Coalizão pela Mudança, Sebastián Piñera, se mantém a frente nas pesquisas, embora em um eventual segundo turno os números mostrem um empate técnico com seu principal rival, o governista Eduardo Frei. Em pesquisa do instituto CEP (Centro de Estudos Públicos) divulgada no início do mês, Piñera obteve 37 % das intenções de voto, repetindo a marca de junho, enquanto Frei caiu de 30% para 28%. Marco Enríquez-Ominami, que deixou o Partido Socialista para se candidatar, subiu 4 pontos e alcançou 17%das intenções.
“Estas serão as eleições mais incertas dos últimos vinte anos. Com certeza será decidida no segundo turno”, declarou à EFE o diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), José Jara. “Os 90 dias de campanha serão decisivos” para afiançar as aspirações dos candidatos, assegurou.
“Esta eleição será muito competitiva. É um bom sinal para a democracia. Apesar da vantagem em eleições anteriores, agora o candidato da direita aparece como o favorito”, disse à AFP o analista político chileno Patricio Navia, professor do Centro de Estudo Latino-Americanos e Caribenhos da NYU.
“Isso se deve fundamentalmente ao desgaste da Concertação, que está com poucas idéias e um candidato ruim, nomeado pelas elites do partido, que se opuseram a primárias abertas e competitivas”, afirmou.
“Mas também é explicado ao fato de a direita ter um candidato moderado, de posições muito menos dogmáticas que os candidatos da ala direitistas em eleições anteriores”, concluiu Navia.
Chances da direita
Os analistas estimam que pela primeira vez a direita tem possibilidades de desbancar a Concertação, o bloco de centro-esquerda formado pelos partidos Democracia Cristã, Socialista, Radical Social Democrata e Pela Democracia que derrotou o ditador Augusto Pinochet no plebiscito de 1988.
Desgastada após vinte anos no poder, a coalizão governamental se apresenta nestas eleições com um candidato único – Eduardo Frei – mas sob a sombra e concorrência de outros três aspirantes – Ominami, Alejandro Navarro e o allendista Jorge Arrate, que lidera a Junto Podemos, a coalizão da esquerda extraparlamentar.
O senador ex-democrata-cristão Adolfo Zaldívar, quem também militou na Concertação, renunciou na última hora apresentar sua candidatura pelo Partido Regionalista Independiente (PRI).
“A Concertação está dividida, por isso vamos para o segundo turno”, explicou José Jara, que lembrou que a direita não ganha uma eleição no Chile há cinquenta anos, apesar de em algumas ocasiões anteriores ter mais apoio nas pesquisas do que agora reúne Piñera.
Estratégias
Para o diretor da Flacso, as fortalezas da campanha de Frei radicam na solidez e na presença territorial da Concertação, assim como na associação com a presidente, Michelle Bachelet, que conta com um respaldo a seu governo de 74%.
Já Piñera joga com as vantagens de ser a imagem da mudança após duas décadas de Concertação e de ir liderando as pesquisas, dado que em geral os resultados das pesquisas não mudam muito nos últimos três meses.
A composição do eleitorado também não deixa muita margem para a surpresa, apesar das campanhas institucionais das últimas semanas terem incentivado os cidadãos a se registrarem.
No Chile o voto é obrigatório e, embora os 200 mil novos eleitores representem um aumento de pouco mais de 3% do censo eleitoral (7,5 milhões), “podem chegar a ser importantes em qualquer eleição estreita”, especificou hoje o diretor do Serviço Eleitoral, Juan Ignacio García.
O sistema eleitoral chileno propicia a eleição na maioria dos distritos eleitorais de um representante por cada uma das grandes coalizões políticas: a governista Concertação e a direitista Aliança pelo Chile. Isto manteve afastadas do Parlamento as forças políticas minoritárias, como o Partido Comunista, que conta com um respaldo de aproximadamente 5% do eleitorado.
Para pôr fim a esta exclusão, os dirigentes da Concertação selaram um acordo eleitoral com a coalizão da esquerda extraparlamentar Juntos Podemos, formalizada na segunda-feira perante o Serviço Eleitoral com a inscrição de uma lista conjunta ao Parlamento.
Montagem sobre fotos da EFE
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