Os estrangeiros perderam o direito de fazer striptease no Canadá, anunciou o ministro da Imigração do país, Jason Kenney, no último dia 4 de julho. A medida faz parte do esforço do governo canadense em impedir o tráfico ilegal de pessoas para a indústria do sexo local e a ocorrência de abusos dentro do ramo.
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Esta atividade empresarial, que é legalizada no país, recebe centenas de imigrantes que procuram por trabalho no Canadá. Com a nova regra, o serviço de imigração canadense não fornecerá mais o visto temporário de trabalho para imigrantes empregados em clubes de strip-tease, em serviços de acompanhante e casas de massagem, e nem renovará a permissão de outros centenas que trabalham na indústria do sexo local.
Segundo o jornal local The Globe and Mail, cerca de 500 dançarinas obtiveram seu visto desde 2006 e mais de 700 estrangeiras estão trabalhando atualmente na indústria do sexo com vistos temporários de um ano.
A decisão estabelece a conexão entre as empresas canadenses legais e a rede internacional de tráfico humano e de exploração sexual. “O governo não pode em sã consciência continuar admitindo que estrangeiros trabalhem temporariamente em setores onde existem motivos razoáveis para suspeitar do risco de exploração sexual”, disse o ministro.
Empresários do ramo descartaram a efetividade da medida do governo. Segundo eles, os imigrantes vão burlar a nova regra ao procurar outros vistos, como o de estudante, para trabalhar nos clubes. “Clubes de striptease são um ambiente seguro”, defendeu o empresário Tim Lambrinos ao jornal local The Star. “O governo está destruindo a indústria, provocando uma escassez de trabalhadores e conduzindo essas mulheres a situações ainda mais precárias”, continuou ele.
A Walk with Me, organização canadense contra o tráfico humano, comemorou a nova política anunciada. “Eu acredito que é um ótimo começo”, afirmou uma de suas fundadoras, Timea Nagy, que sofreu abuso sexual quando imigrou ao país em 1998. “Eu não estou dizendo que é em todo clube, mas eu escuto muitas e muitas vezes das garotas com que trabalhamos que elas são abusadas sexualmente ou estupradas e isso não é reportado. E isso porque são canadenses, imagine o que uma estrangeira passa quando chega e trabalha em um clube”, acrescentou ela ao The Globe and Mail.
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“Nós apenas temos que nos certificar de que outras vias também serão dificultadas com um acompanhamento mais rigoroso de vistos de estudante e vistos de visitantes, por exemplo”, completou Nagy em entrevista ao London Free Press.
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Cartaz da campanha “I'm not for sale” (Eu não estou à venda) desenvolvida pela polícia canadense contra o tráfico de pessoas
A relação da indústria do sexo do país com a rede internacional de tráfico humano, que inclui o estabelecimento de diversos tipos de vínculos abusivos, foi desvendada pela polícia canadense em pesquisa de 2010. A investigação aponta que mulheres da Ásia e do Leste Europeu são as principais vítimas do tráfico no país, que também recebe ilegalmente imigrantes da África e América Latina. Segundo relatório oficial do governo norte-americano de 2011, o Canadá é um ponto de trânsito e de recepção do tráfico transnacional de pessoas.
Não é primeira vez, no entanto, que o governo canadense procura resolver este problema. Em 2008, o Parlamento recusou uma emenda à lei de proteção ao imigrante e refugiado que previa o fim da autorização de trabalho na indústria do sexo para imigrantes.
Na época, a então ministra da Imigração, Diane Finley, uma das defensoras da regra, recebeu diversas ameaças. Existem suspeitas de que os responsáveis pela intimidação estariam ligados ao tráfico humano e à prostituição no país.