Três dias após o anúncio da reeleição do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com 64% dos votos, o opositor Mir Hussein Mousavi, que alegou fraudes no processo eleitoral, fez sua primeira aparição em uma manifestação hoje (15) em Teerã. Milhares de pessoas tomaram as ruas da capital iraniana, indo contra um decreto de proibição do governo.
Assista a um vídeo da manifestação:
Mousavi, que desde sexta-feira (12) estava em prisão domiciliar, pediu calma aos apoiadores de sua campanha, que desde o anúncio da vitória de Ahmadinejad promoveram intensos protestos em Teerã. Desde sábado (13), mais de 200 pessoas foram presas e dezenas ficaram feridas em confrontos com a polícia.
No protesto de hoje, que inicialmente havia sido proibido pelo Ministério do Interior, está o também candidato reformista à Presidência Mehdi Karruobi, que ficou com o terceiro lugar na contagem de votos.
Conselho dos Guardiães
Os dois opositores tiveram uma reunião ontem à tarde com o líder supremo da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, com quem discutiram a situação do país. Segundo a agência de notícias Fars, durante o encontro, Khamenei garantiu que as denúncias serão devidamente investigadas. Em troca, pediu a Mousavi que mantenha a calma.
“Em outras eleições, alguns candidatos também tiveram problemas, que foram tratados pelo Conselho dos Guardiães e dentro das vias legais. Naturalmente, as questões devem ser tratadas por meio das vias legais”, afirmou Khamenei.
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Apesar de ter pedido ao Conselho dos Guardiães que “examine minuciosamente” a carta com as denúncias de Mousavi, no sábado (13) o líder supremo deixou claro sua opinião. Em declarações públicas, Khamenei declarou seu apoio à vitória do atual presidente e pediu aos outros candidatos que aceitem o resultado.
O Irã agora aguarda a decisão das autoridades eleitorais sobre o resultado do pleito, que deve ser iniciada amanhã, segundo o porta-voz do Conselho dos Guardiães, Ali Kadjodai. Mas, desde a fundação da República Islâmica, há 30 anos, o poderoso Conselho dos Guardiães nunca tomou uma decisão de tal envergadura.
Ahmadinejad
Ahmadinejad já negou a fraude e comparou a insatisfação dos eleitores com a que os torcedores sentem quando seu time de futebol perde um jogo.
Apoiadores de Ahmadinejad festejam reeleição em Teerã – Fotos: Abedin Taherkernareh/EFE (14/06/2009)
Em entrevista coletiva realizada ontem, o presidente acusou a imprensa internacional de refletir uma imagem negativa e equivocada do Irã e de se intrometer nos assuntos internos do país. “As eleições iranianas criaram uma guerra psicológica na imprensa (internacional), que não aprendeu as lições do passado”, disse Ahmadinejad. “Mas o povo iraniano demonstrou que está mais unido que antes e mais comprometido com o Imame e os princípios da revolução”.
Protestos
Ao grito de “morte ao ditador” e “abaixo o Governo golpista”, milhares de pessoas foram às ruas para negar a vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Esses slogans são os mesmos entoados durante a Revolução Islâmica de 1979.
Mulheres atravessam a rua durante confronto entre a polícia e manifestantes pró-Mousavi
No início da madrugada de domingo, várias ruas apresentavam cenas de batalha. Caixas e pneus incendiados, propriedades públicas destruídas e grupos de milicianos islâmicos armados com paus e cassetetes patrulhando a cidade formavam o cenário.
Como nos dias anteriores à revolução de 1979, famílias inteiras desafiavam as restrições e iam às janelas ou saíam às ruas para observar os distúrbios.
Outros muitos faziam soar buzinas e mostravam laços verdes – cor utilizada na campanha de Mousavi – enquanto faziam o sinal de vitória, símbolo dos seguidores do reformista.
“Meus filhos foram agredidos ontem (13) à noite. Simplesmente voltavam para casa e um grupo de Basij (milícia) os parou e bateu sem perguntar”, afirmou à Agência Efe uma empregada doméstica no centro de Teerã.
O segundo principal responsável pela Polícia em Teerã, o comissário Ahmad Reza Radan, confirmou que durante a noite de sábado para domingo foram detidas cerca de 50 pessoas relacionadas “com a organização dos distúrbios”, e que outras 120 foram detidas por “violar a lei durante as manifestações”.
Entre os detidos estão Abdula Ramezanzadeh, vice-chanceler durante o Governo do ex-presidente Mohammad Khatami e o diretor-geral da plataforma política pró-reformista Frente de Participação, Mohsen Mirdamadi, como confirmaram as fontes à Efe.
Também foi detido Mohamad Reza Khatami, irmão do ex-líder, embora tenha sido libertado pouco depois, segundo informou sua família à Efe.
Reação internacional
O presidente norte-americanos, Barack Obama, saudou na sexta-feira a intensa disputa nas eleições iranianas, mas não se manifestou até agora. Seu vice, Joe Biden, disse ontem que tinha dúvidas sobre os resultados da eleição.
“Há uma série de questões sobre como esta eleição foi conduzida, mas vamos ver, estamos esperando para ver, ainda não temos fatos suficientes para fazer um julgamento”, disse Biden.
O primeiro a parabenizar Ahmadinejad pela reeleição foi o presidente venezuelano, Hugo Chávez, no sábado. Ontem ele criticou o que chamou de intenção do capitalismo de atrapalhar a “grande vitória” de Mahmoud Ahmadinejad, e voltou a felicitar o líder iraniano.
“Quero felicitar Ahmadinejad, reeleito por uma grande maioria”, disse Chávez em seu programa de rádio e televisão de domingo, “Alô Presidente”, antes de afirmar que a vitória do iraniano “já começa a tentar ser enturvada pelos porta-vozes do capitalismo”.
Reação brasileira
O assessor da Presidência do Brasil pra Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse ontem em Genebra que o resultado do pleito no Irã foi um “sintoma de democracia”.
“Houve uma reação na sociedade muito grande. A eleição mesma foi um sintoma de vida democrática no país, debates, manifestações de rua, isso é ótimo. Isso é bom”, afirmou.
“Eu acho que o fundamental é isso, foi uma eleição na qual houve uma participação muito grande da sociedade. Veja bem, mais de 70% votaram, o que não era uma tradição”, disse Garcia, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma viagem a Genebra, na Suíça.
“E, em segundo lugar, os debates, manifestações de rua dos que estavam inconformados. Isso é um bom sinal.”
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