A internet, bastante utilizada durante a campanha eleitoral de Mir Houssein Mousavi para angariar apoiadores e informar o eleitorado quanto às propostas do reformista, se tornou nos últimos dias um importante espaço de debate para iranianos residentes no Irã e em outros países. Milhares utilizam a rede social para comentar os recentes acontecimentos políticos no país e muitos relatam o que estão vendo nas ruas de Teerã por meio de fotos e mensagens de texto.
Na rede de microblog Twitter diversos simpatizantes de Mousavi têm postado comentários e escrito diretamente das manifestações, via celular. Eles também publicam fotos dos acontecimentos, como esta, onde um dos participantes do protesto ajuda um policial ferido.
O usuário Parham Doustar (@parhamdoustar) relatou de sua página o desenrolar da manifestação de hoje. “Apesar das bombas de gás lacrimogênio, as pessoas ainda gritam ‘Mousavi!’”. “Se nada desastroso acontecer, venceremos”, diz em outra mensagem. “Se dizem que 1,8 milhões de pessoas em Teerã votaram em Ahmadinejad, porque há tantos apoiadores de Mousavi nas ruas?”, questiona em seus 142 caracteres disponíveis. Em outro comentário, ele celebra a participação do líder reformista Khatami na manifestação. “Há relatos de que Khatami está nas ruas. Viva!”.
Outro usuário, @azarnoush, descreve seu sentimento quanto às eleições. “Gostaria que houvesse uma via mais democrática para se discutir no Irã”. Logo depois, ele relata os distúrbios durante a manifestação. “Há gás lacrimogênio por toda parte”.
Um usuário chamado @stopAhmadi foi criado somente para agregar relatos e cobertura independente das manifestações. A iraniana Sania Khan, residente no Canadá e integrante do partido democrata canadense, expressou por meio do twitter (@saniakhan) seu apoio ao presidente Mahmoud Ahmadinejad. “Mousavi parece um grande bebê chorão e seus apoiadores estão piorando tudo, se parecendo com loucos. Isso faz com que eu goste ainda mais de Ahmadinejad”.
No site de fotos Flickr , são mostradas imagens de pessoas protestando contra a suposta fraude na votação iraniana em Teerã e em outros locais do mundo, como Londres e Sidney. Veja aqui
No site de relacionamentos Facebook a comunidade dedicada ao candidato reformista Mir Hussein Moussavi tem a adesão de mais de 48 mil simpatizantes, que abastecem a página com fotos e comentários – a maioria em farsi, língua falada no Irã.
Já a comunidade do presidente Mahmoud Ahmadinejad, com mais de 2 mil usuários, não é atualizada desde dezembro de 2008. Veja aqui
O blog Roten Gods reúne vídeos e fotos de vários autores em meio às manifestações. Alguns deles mostram possíveis ataques de milícias a dormitórios, outros dizem mostrar manifestantes agredindo policiais.
Apesar do acesso a sites como Youtube e Facebook no Irã estar sendo dificultado desde a confirmação da reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, é possível encontrar vídeos das passeatas:
Postado no dia 13
O perfil irandoost09, no youtube, tem 36 vídeos sobre os acontecimentos – e o número tem aumentado em média a cada duas horas. Clicando aqui é possível acessar o perfil criado pelos seguidores de Mousavi, que abastecem o endereço com novos vídeos.
A rede de telefones celulares e SMS, controlada pela empresa Irancell, também não funciona desde as 22h locais de sábado, segundo a CNN. Na segunda feira, o presidente Mahmoud, negou qualquer envolvimento ao bloqueio e afirmou que o caso seria investigado.
Segundo o site UOL, o Irã tem cerca de 20 milhões de internautas, que se conectam à rede através de uma empresa estatal.
Jornais e expulsão
De acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, os jornais dirigidos pela oposição desapareceram das bancas no Irã. Nenhum deles trouxe fotos das manifestações ou questionou o resultado da eleição.
“Líder Khamenei: Jovens têm de tomar cuidado”, diz a manchete de ontem (14) do jornal independente Farheektegan. O jornal destaca o argumento do líder, de que mais de 80% dos eleitores compareceram (foram 85%, segundo a Comissão Eleitoral) e mais de 24 milhões votaram em Ahmadinejad. “É uma festa que causará desenvolvimento, glória e alegria ao país”, diz o líder.
Ao lado da manchete, há uma declaração do ministro do Interior, Sadeq Mahsouli, advertindo que “impedirá todas as aglomerações ilegais e protestos”.
O jornal Etelad, considerado independente, também destaca em sua manchete uma frase de Khamenei: “Mensagem do líder: Sexta-feira foi um dia inesquecível para o povo.
“Os sites que veicularam durante a campanha mensagens oposicionistas estão fora do ar desde sexta-feira. O sistema de mensagens pelo celular, muito usado pela campanha de Mousavi, foi bloqueado. Mas os usuários encontraram uma forma de burlar o bloqueio. No Irã, as mensagens para o exterior são mandadas para uma central diferente das nacionais. E as mensagens internacionais estão funcionando. O truque é mandar a mensagem para a central exterior, mas com o código do Irã e o número do telefone do destinatário.
Normalmente, o governo iraniano concede aos jornalistas estrangeiros vistos por períodos curtos, mas os estende. Dessa vez, foi diferente. Os jornalistas tiveram negados os seus pedidos de extensão de permanência no Irã.
Dois jornalistas da televisão pública holandesa foram detidos ontem, tiveram seu material audiovisual confiscado e foram expulsos do Irã.
A BBC Persa, que noticia exclusivamente em farsi, teve seu sinal para o país interrompido desde sexta-feira. Somente telespectadores em outros países conseguem assistir ao canal.
(Com reportagem de Mariana Brasil e informações do UOL, BBC, CNN e O Estado de S.Paulo)
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