No último sábado (24), a Casa Branca decretou a gripe suína como emergência médica nacional nos Estados Unidos, dotando o sistema de saúde de mecanismos de assistência rápida que facilitam uma resposta imediata à pandemia. No entanto, declaração se deu num momento em que o plano de reforma da saúde do presidente Barack Obama encontra sérias resistências dentro do Senado norte-americano.
Por isso, há quem pense que uma coisa não está separada da outra.
Assessores de congressistas contaram ao Opera Mundi neste fim de semana que o presidente estaria aproveitando a pandemia para mostrar aos norte-americanos a necessidade de seu plano e, assim, conseguir a sua aprovação no senado. Neste momento, a reforma do sistema de saúde pública, com a criação de um novo programa de planos de saúde acessíveis a todos, constitui a principal prioridade política de Obama.
“As coisas já estiveram melhor para ele. Teve seu apoio inicial, mas a discussão demorou tanto, que ele acabou perdendo o momento. Agora, tem de apelar a tudo e o [vírus da gripe suína] H1N1 é um pretexto ideal”, afirmou o assistente parlamentar de um senador.
Segundo o analista Daniel Alvarez, da Universidade Internacional da Flórida, o estado de emergência não tem necessariamente que estar ligado com as discussões sobre a reforma da saúde.
“Mas dão essa ideia e isso é ruim, porque o presidente pode estar projetando uma imagem que não quer e não tem noção disso. No fim das contas, as pessoas vão fazer essa leitura e concluir que ele estava errado, quando isso não corresponde à verdade”, afirmou Alvarez ao Opera Mundi.
Até este fim de semana, já havia 17.108 casos confirmados da nova gripe, com 53 mortes, revelou neste domingo (25) o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, com sede em Atlanta.
Dois projetos
Neste momento, a reforma de saúde proposta por Obama continua sendo contestada em Washington. Mas, ao contrario de “crises” anteriores, desta vez – mais do que uma questão de pacientes – é um problema de “paciência”.
Ou seja, o problema agora não é tanto os doentes, mas sim quanto vai durar a paciência de senadores e deputados em relação a que projeto aprovar.
Neste momento, há dois em trâmite. Cada câmara tem o seu. Mas nenhum tem unanimidade e na semana passada a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, avisou que se a maioria não se decidir por um dos dois, ela apresentará o seu.
“Meus senhores, vamos deixar de discussões. Se os senhores têm um projeto melhor que o meu, pois anunciem seu apoio a ele, mas não vamos perder tempo em discutir qual devemos aprovar, porque a paciência da população está acabando”, disse Pelosi, numa reunião a portas fechadas dos democratas membros da comissão de saúde da Câmara. A maioria dos democratas da comissão não está convencida sobre o plano de Obama e, dentro do grupo, o apoio dos republicanos ao plano parece ser substancial.
O problema: existem duas possibilidades para que nenhum plano chegue às vias de fato, porque ambos têm de passar pelo filtro presidencial e Obama tem poder de veto.
Tudo isto porque o presidente já foi claro sobre o assunto: ou aprovam seu plano ou nenhum é autorizado por ele. E a versão dos democratas é muito diferente da dos republicanos, principalmente no modo como o sistema será financiado depois da reforma, incluindo o projetado sistema de seguros com subsidio governamental.
A maioria dos políticos dos dois partidos não gosta desta idéia. Alguns chegam a acusar o presidente de querer “socialistizar” a medicina por promovê-la. Obama afirma que esta é a única forma de obrigar todo norte-americano a ter um seguro de saúde.
Por outro lado, a existência neste momento de duas versões tão opostas obriga o presidente a ter, ele próprio, de assumir um pouco a função de lobista, se quiser ver aprovado seu projeto. Mas, para isso, dizem as fontes, “é preciso que ele tenha um só projeto na mão, não dois. E, até agora, não tem”.
A ultima sondagem sobre a reforma foi divulgada na sexta-feira e, pela primeira vez, mostra que os norte-americanos estão empatados em relação aos planos de Obama. Ou seja, 49% estão a favor enquanto 49% estão contra – o que é inédito.
Novo remédio
A Casa Branca, consciente do perigo, tenta não dramatizar a situação. Neste fim de semana, tentou tudo que foi possível para separar a percepção pública de que a declaração do estado de emergência está ligada à dificuldade em aprovar a reforma de saúde. Segundo funcionários da Casa Branca ouvidos pelos canais de televisão, a declaração não significa necessariamente que a pandemia vá aumentar, mas “pretende apenas controlar a preocupação do público em relação ao seu avanço”.
Não parece ter dado muito resultado, constatou neste domingo o jornal The New York Times. Pelo contrário: “parece que as pessoas estão cada vez mais preocupadas e isto poderia conduzir a situações de pânico, uma vez que a doença está já espalhada um pouco por todo o país”.
Aparentemente não serviu de nada o anúncio de meados da semana passada, quando a FDA (sigla em inglês para Agência de Alimentos e Medicamentos) confirmou que acabava de aprovar a utilização de uma vacina experimental contra o H1N1. O medicamento, chamado provisoriamente “Peramivir”, está sendo desenvolvido pelo laboratório farmacêutico BioCryst e, até agora, só pode ser usado pelos médicos com autorização especial.
A declaração da emergência médica é uma forma de autorizar o uso do medicamento. No decreto de sábado, Obama reformou determinados aspectos da lei que regulamenta a assistência de saúde à terceira idade e a pessoas de baixa renda, de modo a garantir seu acesso rápido ao “Peramivir”. Contudo, o nome do medicamento não foi citado no texto.
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