O
conservador Aníbal Cavaco Silva iniciou nesta quarta-feira (09/03) seu segundo
mandato como presidente de Portugal com um duro discurso sobre a crise
de seu país e a necessidade de o governo tomar as medidas adequadas para
combater a crise.
“Portugal vive uma situação de emergência
econômica e financeira, que já é, também, uma situação de emergência
social”, afirmou o chefe de Estado, reeleito no dia 23 de janeiro em
primeiro turno, com 52% dos votos.
Cavaco Silva, de 71 anos,
se comprometeu a cooperar com o governo socialista de José Sócrates para
que o país avance, mas anunciou que se empenhará com “firmeza” em
defender os interesses nacionais e “contribuir” para que mantenha o rumo
econômico.
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Em um longo discurso no qual detalhou os problemas
das finanças lusas e foi mal recebido pelos socialistas e a esquerda
marxista, Cavaco Silva criticou a excessiva presença do Estado na
economia e pediu uma gestão rigorosa e transparente das contas públicas.
Além disso, denunciou a cultura “pouco transparente” da dependência
empresarial dos poderes públicos e pediu para que os investimentos sejam
avaliados segundo sua eficácia e suas consequências financeiras.
Economia
Cavaco Silva, que também foi primeiro-ministro de Portugal entre 1985
e 1995, pintou um dramático cenário da economia portuguesa, que
considerou vítima das dificuldades de financiamento e medidas de redução
do déficit público.
Com um crescimento econômico médio de
0,7% por ano, longe de seus parceiros de União Europeia, Portugal teve
na última década uma “queda do nível de vida de seus cidadãos”, lamentou
o presidente, e agora o potencial de desenvolvimento da economia lusa é
inferior a 1%.
O déficit externo de Portugal, acrescentou o
presidente, se mantém wm 9%, a economia nacional foi reduzida à metade
do que representava em 1999 e o desemprego triplicou em dez anos,
chegando a 11% e afetando 600 mil dos 10 milhões de habitantes do país.
Cavaco completou o diagnóstico da crise de Portugal ao lembrar que já
em 2008 26% da população lusa estava em risco de pobreza, e esta
situação se agravou nos últimos dois anos.
“Há limites para os sacrifícios que podem ser exigidos dos cidadãos”, sentenciou.
O primeiro-ministro José Sócrates, aparentemente contrariado pela
radiografia da crise feita por Cavaco, afirmou que em seu discurso o
chefe de Estado não tinha mencionado que a crise tem causas
internacionais e não é exclusiva de Portugal.
O líder
parlamentar dos socialistas, Francisco Assis, foi mais longe e acusou
Cavaco de não ser rigoroso nem representar todo o país, ao não mencionar
essa parte do problema.
Em sua única referência
internacional, o chefe de Estado manifestou que, da União Europeia,
deve-se esperar não só que assegure a estabilidade da zona do euro, mas
também que desenvolva “uma estratégia comum e solidária para promover o
crescimento, o emprego e a união”.
Divergências
Os dirigentes das forças
marxistas da Assembleia Legislativa reprovaram Cavaco pelo uso excessivo
do “economês” em seu discurso e o fato de não ter assumido uma parcela
de responsabilidade pela situação lusa por seus dez anos como
primeiro-ministro e os cinco que já atuou na chefia do Estado.
O dirigente conservador volta a coabitar com o governo socialista, que
se mantém no poder desde 2005, em meio às tensões políticas pela crise.
Sua relação com Sócrates é mais fria do que nunca, crispada pelas
quatro campanhas eleitorais vividas pelo país nos últimos dois anos.
Cavaco, sem mencionar diretamente o governo, pôs em dúvida sua margem
de manobra para impulsionar o crescimento da economia e pediu ainda
informação objetiva sobre a situação do país.
“Nossa sociedade não pode seguir adormecida perante os desafios”, proclamou o presidente português.
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