O processo de inclusão da Venezuela no Mercosul causou preocupação aos Estados Unidos, que levantaram a hipótese do bloco tornar-se “anti-americano” com a entrada de Hugo Chávez. O questionamento aparece em documento diplomático publicado pelo Wikileaks disponibilizado pelo jornal Página 12.
Para a embaixada norte-americana, a entrada de Chávez poderia criar uma divisão dentro do bloco econômico e um distanciamento da América Latina em relação a Washington.
“Chávez está buscando agressivamente dividir a América Latina entre aqueles que compartilham de suas políticas populistas e anti-americanas e aqueles que procuram estabelecer e fortalecer o mercado livre e democrático e as instituições políticas”, afirma o autor do despacho, o embaixador norte-americano Michael J. Fitzpatrick.
Leia mais:
Operaleaks: Despacho demonstra preocupação com possível tom 'anti-americano' no Mercosul
Esquerda uruguaia fazia população 'desacreditar' nos EUA, diz Wikileaks
Wikileaks revela preferência da embaixada norte-americana pela vitória de Alckmin contra Lula em 2006
Paraguai disse aos EUA temer 'controle irrestrito' do Brasil sobre seu destino, revela Wikileaks
Wikileaks: Colômbia reclamou com EUA do 'espírito imperialista brasileiro'
Wikileaks: para especialistas, falar em 'imperialismo brasileiro' é exagero
A mensagem, de maio de 2007, aponta que Chávez tem posto em prática diversos projetos sociais para “promover a sua imagem” na América Latina e que tenta difundir a ideia dos Estados Unidos como sendo um agente “elitista e que favorece apenas as grandes empresas”.
Fitzpatrick atesta que a participação da Venezuela iria alterar o funcionamento do Mercosul, o qual passaria por um processo de “politização” – deixando, de acordo com a mensagem, de se preocupar somente com questões econômicas – e se tornaria uma “organização mais fechada e com um tom anti-americano”.
A relação com o Brasil
A Venezuela ainda precisa do aval do Parlamento paraguaio para completar o seu processo de adesão ao Mercosul. O país já recebeu a aprovação da Argentina, do Brasil e do Uruguai.
A embaixada levanta a hipótese de que o Brasil apoiou a entrada da Venezuela por acreditar que seria mais fácil controlar Chávez, caso ele participasse do bloco. “ A inspiração para apoiar a admissão da Venezuela no Mercosul foi a crença de que Chávez poderia ser melhor controlado de dentro da organização que se deixado à sua própria sorte”, afirma a mensagem.
O documento diz que Lula mantinha um “equilíbrio embaraçoso” em relação ao presidente venezuelano. Segundo o texto, Lula apoiava publicamente o projeto de reeleição de Chávez e a integração econômica com a Venezuela, mas estava “frustrado com o comportamento imprevisível e retórica arrogante” de Hugo Chávez.
O despacho atribui o comportamento de Lula às relações econômicas com a Venezuela e “a simpatia ideológica do círculo intimo de Lula em relação a Chávez”.
A influência de Chávez na América do Sul
Além do temor de que o Mercosul se tornasse “anti-americano”, o embaixador Fitzpatrick faz uma análise da política de Chávez em relação a América Latina.
Fitzpatrick afirma que Chávez tem usado os recursos obtidos com petróleo para fortalecer a sua imagem na América do Sul e conseguir viabilizar os seus projetos políticos e econômicos.
“Chávez usa seus petrodólares para avançar com seus objetivos econômicos e políticos da região, incluindo a admissão da Venezuela no Mercosul e a criação de Banco do Sul. No processo, ele tem contribuído para uma crescente politização do Mercosul e uma nítida resistência à Alca (Área de Livre Comércio das Américas)”, diz a mensagem
O despacho aponta que, entre os gastos dos “petrodólares”, estaria a compra de produtos agrícolas na Bolívia envolvendo uma quantia superior a “195 milhões de dólares”, um investimento de “pelo menos 200 milhões de dólares” na Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), além do patrocínio de partidos e grupos políticos de esquerda na América do Sul.
Para a embaixada norte-americana, a política anti-EUA de Chávez também podia ser vista no campo da comunicação. O despacho faz uma lista de investimentos feitos ou incentivados pelo presidente venezuelano ao canal TeleSur que, segundo o texto, é “a principal fonte de transmissão e de propaganda anti-EUA”.
Fitzpatrick termina o documento com um aviso de que os Estados Unidos precisam pôr em prática ações para frear a influência venezuelana sobre os rumos do Mercosul. “ Precisamos de melhores recursos e ferramentas para combater os esforços políticos da Venezuela e impedir a politização do Mercosul, através da expansão dos laços de defesa e de campanha de mídia de massa.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL