Restaurantes vazios, vendas em baixa no comércio local e noite chuvosa prejudicaram as comemorações do dia da independência mexicana. Ainda assim, centenas de milhares de pessoas foram às ruas do centro da Cidade do México para assistir ao famoso “grito” de 15 de setembro ontem à noite.
Há 199 anos começava o processo de independência do México, com o “grito” do padre Miguel Hidalgo, figura central na luta pela liberdade do país. Assim, todos os anos, o presidente relembra o ato do sacerdote e clama “Viva o México!” no palácio presidencial.
Mas neste ano, assim como nos dois anteriores, houve um grito duplo. No Zocalo, principal praça no centro histórico da cidade, uma avenida separou o presidente do México, Felipe Calderón, daquele que se considera o presidente legítimo, Andrés Manuel López Obrador – que desde 2006 alega que houve fraude na eleição de Calderón.
Nas ruas se vende comida, bandeiras e artefatos como cílios e bigodes. Parece um carnaval institucional. Mas, neste ano, as pessoas não aderiram ao comércio. “Eu vendo bandeiras e chapéus e, para mim, é um dia importante para aumentar a receita, mas neste ano as pessoas não querem gastar um único peso”, disse Horácio, um vendedor ambulante.
A crise também pode ser percebida nos restaurantes com terraços panorâmicos sobre a praça de Zocalo. Nos anos anteriores, as mesas já estariam ocupadas com uma semana de antecedência. Agora, é possível fazer reserva às nove da noite e ainda há lugar.
Há também um outro local, a Alameda do “Anti-Grito”, onde pessoas se reúnem e se manifestam no sentido de “recuperar” o sentido político da festa. “Nós, que estamos aqui e não no Zocalo, somos os que querem que o 15 de Setembro não seja apenas uma desculpa para ficar bêbado e jogar confete, mas para lembrar que os valores da independência ainda estão vivos e devem ser respeitados pela classe política”, diz um professor do ensino médio, com uma capa amarela que o mantém seco na chuva.
Mas, no Zocalo, há outro ponto de vista. “Você pensa que estamos aqui porque gostamos ou nos preocupamos com Calderón?”, pergunta Rosário, de 64 anos, que veio comemorar com filhos e netos. “Aqui, podemos esquecer, por um dia, a dificuldade, a crise e os enormes problemas que temos. Tentamos não pensar nisso. Aproveite a festa e viva o México!”.
* Texto e fotos
NULL
NULL
NULL