A atriz pornô francesa Céline Bara, de 33 anos, começa a trilhar caminho semelhante ao da italiana Cicciolina ao lançar-se candidata ao legislativo francês pela região de Ariège, sul da França, na encosta dos Pirineus. Céline é fundadora do partido MAL (Movimento Antiteísta e Libertino), que se diz de extrema-esquerda LGBT, anti-fronteiras, anti-religião, anticapitalista, a favor do aborto e da eutanásia. A eleição é no dia 10 de junho.
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Casada e com 180 filmes no currículo, Céline explicou ao jornal Sud Ouest, ao lançar sua candidatura, que finalmente “passaria à ação direta”. “Sempre me disseram que eu tinha uma boca grande, mas que nunca fiz nada com ela. Então, voilà”, afirmou. Sua principal bandeira é propor o fechamento de todos os templos religiosos e a remoção de todos os feriados católicos. “Pelo fim da religião, vote Céline”, diz seu slogan.
Ao Opera Mundi, a candidata disse aceitar a comparação com Ilona Staller, a Cicciolina, que causou frisson nas décadas de 1980 e 1990 ao se tornar a primeira atriz pornô com cargo no parlamento italiano. Com pontos em comum, ambas militam pelo meio ambiente e pela paz mundial com o fim das armas nucleares. O projeto político, no entanto, é diferente.
“Cicciolina foi mais uma militante da esquerda tradicional, com engajamento ecologista, do que de extrema-esquerda. Nossa grande diferença está no jeito de encarar as religiões e de aplicar as reformas necessárias”, explicou Céline, que deixou de fazer filmes para se dedicar à política integralmente.
“Eu proponho a interdição total de todas as religiões, sem exceção, e acho que só um estado forte é capaz de impor essas medidas radicais capazes de mudar as mentalidades do sistema. Eu sou contra o secularismo francês (laïcité) e pela criação de uma república democrática francesa comunista e atéia”, continuou.
Veja vídeo da campanha de Céline:
Caso seja eleita deputada, Céline disse que adotaria como primeiras medidas ajudar a região de Ariège com melhorias no transporte público e incentivando o comércio local, além de reforçar os serviços públicos em zonas esquecidas da França. “Paris não é a França e um grande número de pessoas nas regiões rurais vive atualmente em condição de extrema precariedade. É tempo de reforçar o poder do Estado e obrigar as organizações a fazerem seu dever, que é de ajudar as pessoas em dificuldades”, afirmou.
Educação católica e anti-Lepenismo
Céline dividiu sua vida entre a pornografia e a administração de organizações ateístas, como relata em sua autobiografia, La Sodomite. Filha de pai francês e de mãe das Ilhas Maurício, nascida nos subúrbios de Paris e aluna de escolas católicas, ela casou-se com seu primo Cyrille Bara, produtor de todos os seus filmes, que renderam a ela o prêmio da indústria pornográfica Hot D’Or, em 2000.
Ao mesmo tempo em que conseguiu bastante exposição na imprensa francesa pelo fato de ser atriz pornô, as críticas vieram a galope. O MAL, que se apresenta como uma resposta neo-stalinista ao nacionalismo de Marine Le Pen, propõe políticas de controle de natalidade, como a esterilização de doentes mentais com doenças genéticas, até o fim de esportes violentos, como o rúgbi, paixão nacional francesa.
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Em entrevista ao jornal mauriciano DefiMedia, a candidata afirmou que a França deve “melhorar um pouco” com François Hollande, mas que não importa se a direita ou a esquerda estão no poder. “Continua sempre a mesma coisa”, disse. Perguntada como poderia ser anticapitalista e trabalhar na indústria pornô, que gira bilhões de dólares, Céline disse que “atrizes e atores não fazem um monte de dinheiro”. “Não sabemos para onde ele (o dinheiro) vai”, emendou.
Campanha na web
Céline tem acusado seus adversários de tentar derrubar seus sites (celinebarastudio.com e antitheiste.com) diversas vezes durante a semana. Ela decidiu colocar o conteúdo fora do alcance de hackers em antitheiste.eu. O site conta com um aviso de acesso restrito para maiores de 18 anos.
Nele, Céline foca na destruição de templos religiosos como “base para um mundo melhor”. Ela faz uso, basicamente, de imagens de propaganda do regime comunista soviético e repete o nome do partido que fundou, com pinceladas no tema da liberação sexual.
“Minha candidatura não tem nada de maluca”, disse Céline ao La Depeche. “A ideia principal é lutar contra o capitalismo e contra o Lepenismo que cresce no Ariège rural. Eu sou extrema esquerda. Não há comunismo mais verdadeiro.”