Em um experimento revolucionário para a biologia, cientistas de um instituto de pesquisa privado nos Estados Unidos anunciaram a criação da primeira célula sintética, gerada por um código genético artificialmente montado.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (20/5) pelo Instituto J. Craig Venter, nos estados da Califórnia e de Maryland, nos EUA. Na prática, é uma bactéria, um ser vivo unicelular, e o primeiro gerado artificialmente.
A equipe liderada pelo geneticista John Craig Venter primeiro construiu um “quebra-cabeças” genético pelo computador e depois montou-o, manipulando moléculas de aminoácidos. Para isso, os cientistas utilizaram pedaços de DNA de bactérias e transplantaram o material genético para a “carcaça” de outra célula. Assim, produziram um ser vivo novo, inexistente na natureza, que em seguida começou a se reproduzir e deu continuidade à espécie.
Segundo a revista norte-americana New Scientist, a célula foi criada “costurando” o genoma de um patógeno de cabra, chamado Mycoplasma mycoides, com segmentos menores de DNA sintetizado em laboratório, e inseriu o genoma completo no citoplasma vazio de uma bactéria.
“É a primeira célula auto-replicante no planeta cujo pai é um computador”, diz Venter, referindo-se ao fato de que sua equipe convertido genoma de uma célula que já existia como dados em um computador em um organismo vivo.
O projeto de Venter, que custou 40 milhões de dólares e envolveu 20 pesquisadores, foi iniciado em 1995, quando conseguiram sequenciar o menor código genético de um organismo unicelular conhecido, a bactéria Mycoplasma genitalium. O micróbio tinha cerca de 500 genes, e os pesquisadores conseguiram reduzir o genoma para 400.
Segundo o cientista, o experimento só levou 15 anos porque, na época em que teve início, as tecnologias de manipulação de cromossomos ainda não existiam.
Ética e utilidade
De acordo com o professor Mark Bedau, editor da publicação científica Artificial Life, o experimento é um “momento divisor de águas na história da biologia e da biotecnologia”.
“Isto representa um importante novo patamar técnico no campo do genoma sintético”, disse o fungologista Jef Boeke, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), segundo a revista Science.
Mas, em relação a implicações éticas sobre o experimento, Venter se defende, alegando que não criou vida. “Criamos a primeira célula sintética”, diz ele. “Nós definitivamente não criamos vida a partir do zero, porque usamos uma célula receptora para arrancar o cromossomo sintético”, explica.
Segundo os cientistas, a pesquisa poderá ser útil para, por exemplo, criar bactérias que produzam proteínas para a fabricação de medicamentos e tratamentos de saúde. Para o biólogo Andy Ellington, da Universidade do Texas em Austin, seria interessante criar bactérias que produzam um novo aminoácido – as unidades químicas que compõem as proteínas – e ver como evoluem em comparação com as bactérias que produzem o conjunto usual de aminoácidos. “Nós podemos fazer essas perguntas sobre células ciborgues de uma maneira que nunca pudemos antes”, comentou, segundo a New Scientist.
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