Os últimos gestos militares da Coreia do Norte, com o lançamento de dois mísseis e o teste de uma bomba atômica, parecem um desafio direto a Barack Obama, que está empurrando o presidente dos Estados Unidos para uma posição mais centrista.
Em público, Obama reagiu com firmeza ao teste da bomba. Disse que foi “uma violação flagrante da lei internacional que não pode ser esquecida sem punição”. Mas em privado, o presidente aconselha os assessores a manter uma certa calma, porque a Casa Branca continua apostando na diplomacia, segundo apurou o Opera Mundi.
Prova disso é que a Casa Branca pediu a dois aliados tradicionais de Pyongyang, China e Rússia, que tomem as rédeas e avisem aos norte-coreanos que sua paciência tem limites.
O embaixador de Moscou nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, afirmou que o teste nuclear “é inadmissível” e apresentou uma resolução contra Pyongyang no Conselho de Segurança. Resolução que, para o ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, não deve ser “incendiária”, já que “não podemos tratar de punir a Coreia do Norte só pelo prazer de punir”.
Em Pequim, o teste também foi condenado de modo “firme”, mas os chineses têm outras preocupações em mente. A China é o principal abastecedor de alimentos e matérias-primas da Coreia do Norte, com quem mantém uma relação quase umbilical. Além disso, compartem fronteira e todas as ligações de Pyongyang com o exterior, sejam financeiras, marítimas ou aéreas, passam por território chinês.
Os chineses temem, disseram diplomatas seus nas Nações Unidas a um grupo de acadêmicos e estudiosos do país, que uma escalada no enfrentamento com o mundo ocidental possa levar à queda do regime norte-coreano e ao subsequente desmembramento de seu exército, um total de 1,5 milhão de homens em armas.
“O medo deles é imaginar o cenário de milhões de homens armados com AK-47, soltos pelos campos, como bandidos”, disse ao Opera Mundi uma fonte familiarizada com as preocupações chinesas.
Isto foi o que levou muitos observadores a notarem como Obama virou mais centrista em relação à Coreia do Norte.
“O presidente, quando chegou à Casa Branca, começou a ver as coisas com muito mais realismo”, comentou o estrategista democrata James Carville. Durante a campanha presidencial, Obama garantiu que revogaria a política de seu antecessor, que colocou o país comunista no chamado “eixo do mal”.
Japão e Coreia do Sul
A preocupação também se alastra a dois estreitos aliados de Washington na região, o Japão e a Coreia do Sul. Por isso, quando na terça-feira Seul aderiu ao acordo de perseguição do trânsito de armas de destruição em massa, Obama sentiu-se mais relaxado.
“Nossos amigos da Coreia do Sul sabem o que é o perigo nuclear. Serão de grande ajuda”, disse o presidente.
O acordo de perseguição às armas de destruição em massa permite a abordagem em alto-mar de toda embarcação suspeita de transportá-las.
A Coreia do Norte reagiu imediatamente. Na madrugada de quarta-feira, anunciou que rompia o armistício que colocou ponto final à guerra de 1953, avisou que não garante a segurança de nenhum barco estrangeiro na zona do Mar Amarelo dentro da sua jurisdição marítima, ameaçou invadir duas ilhas sul-coreanas situadas abaixo do paralelo 38, que divide os dois países, e garantiu que invade o sul se algum de seus barcos for abordado e inspecionado em alto-mar.
“Agora que os fantoches da Coreia do Sul foram tão ridículos para se unirem a essa extorsão e atreveram-se a declarar guerra contra seus compatriotas, não temos outra alternativa que tomar estas decisões”, afirmou uma declaração de Pyongyang, distribuída pela Associated Press.
Com Obama em visita a uma usina solar no Arizona, coube a resposta à secretaria de Estado Hillary Clinton, que esta manhã disse aos jornalistas que “os atos da Coreia do Norte terão suas consequências”.
China é a chave
Seul garantiu que está preparada “para enfrentar toda ameaça” de Pyongyang. Com o rompimento do armistício, os dois países estão virtualmente em guerra. De novo. Em 1950, os Estados Unidos comandaram uma guerra organizada pelas Nações Unidas, depois que, com a ajuda da China, o norte ocupou o sul. O armistício foi assinado em 1953, na aldeia de Panmumjom.
O aviso desta madrugada da Coreia do Norte deu-se paralelamente a uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, que trabalha numa nova resolução de condenação a Pyongyang. Mas ninguém sabe se será suficiente.
“Tudo depende do empenho que a China coloque na sua implementação. A China é a chave da solução deste problema”, comentou Kim Sung-han, professor de relações internacionais da Universidade da Coreia do Sul.
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