Em meio a uma crise econômica que se arrasta há sete anos, a Croácia, último país a ingressar na União Europeia, elegeu como presidente a alta funcionária da Otan e representante da direita nacionalista Kolinda Grabar-Kitarovic. Nos últimos anos, os croatas não só não conseguiram usufruir das possíveis benesses de integrar o grupo dos países do continente, como também viram a economia se deteriorar, sendo, junto com a Grécia, o único país europeu cuja economia encolheu todos os anos desde 2008.
A crise na economia se refletiu em uma intensa disputa nas urnas, revelando um país dividido quanto à solução para os problemas da população. Apesar de o cargo de presidente ser figurativo, houve uma taxa de comparecimento nas urnas de 59%, considerada alta no país. Grabar-Kitarovic venceu por 0,8 ponto percentual nas eleições celebradas no domingo (11/01) o rival, o social-democrata Ivo Josipovic, que obteve 49,6% dos votos. Ela atingiu 50,4%.
Agência Efe
Kolinda Grabar-Kitarovic durante comemoração na noite de domingo (11/01)
Grabar-Kitarovic foi a candidata de consenso do principal partido da oposição, a HDZ (União Democrática Croata), e de outros sete partidos de direita e de ultradireita e levou os conservadores de volta ao poder após 15 anos de liderança da esquerda.
Já Josipovic tinha o respaldo do governista SDP (Partido Social-democrata da Croácia) e de outras 16 organizações de esquerda, ecologistas e de minorias étnicas e sexuais e chegou a vencer o primeiro turno.
Assim, a HDZ retorna ao poder após anos turbulentos nos quais aconteceram os maiores escândalos de corrupção do país. O partido, que esteve no governo entre 2003 e 2009, chegou a ser classificado como “organização criminosa” em uma sentença judicial em 2013. Como consequência, o ex-primeiro-ministro Ivo Sanader está preso desde 2010.
Agência Efe
Grabar-Kitarovic só passou à frente da apuração com 80% das urnas abertas
No comitê eleitoral de Grabar-Kitarovic, o triunfo foi festejado com canções do cantor ultranacionalista Marko Perkovick, conhecido como “Thompson”, criticado pelo teor antissérvio, ultranacionalista e nostálgico da ditadura croata ustashi, que era pró-nazi e matou milhares de sérvios, judeus, ciganos, comunistas e croatas antifascistas.
Primeiro-ministro sob risco
De fato, Grabar-Kitarovic não poderá fazer grandes mudanças no país, uma vez que a Constituição outorga poderes limitados ao presidente, que é o comandante supremo das forças armadas e administra junto ao governo a política exterior.
Mas, o resultado eleitoral acende o sinal de alerta para o primeiro-ministro Zoran Milanovic, do SDP, que tem o poder real no país. Ele deverá dar sinais concretos de mudanças para evitar que a HDZ obtenha maioria nas eleições legislativas de novembro, como antecipam analistas.
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A situação do primeiro-ministro é delicada e alguns setores no país já especulam sobre a possibilidade de ele não concluir o mandato. Foi este o recado dado por Grabar-Kitarovic, que, em entrevista coletiva de imprensa antes da votação, disse que, “se não forem adotadas [medidas contra a crise econômica], vamos começar a considerar que o atual governo deve sair”.
Assim que soube do resultado, Grabar-Kitarovic anunciou que convocará uma cúpula entre empresas e sindicatos para buscar uma saída para a crise econômica. Ela ameaçou, durante a campanha, convocar eleições antecipadas para mudar o governo.
Crise econômica
A Croácia está há sete anos em recessão econômica, com um retrocesso em 2014 de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) e uma dívida pública que chega a 80% da soma de todos os bens e serviços produzidos no país.
Além disso, o país ostenta uma das maiores taxas de desemprego do mundo: 20%, no qual um entre cada dois jovens entre 17 e 25 anos está desempregado.