Setenta anos após o ataque atômico dos EUA contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, ainda é preciso analisar e discutir o assunto para alertar e previnir a sociedade contra a possibilidade de novos disparos nuclerares. Essa é a análise do sociólogo Sedi Hirano, professor emérito da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), e Artur Theodoro, mestre em psicologia pela USP e pesquisador dos reflexos psicossociais dos ataques contra o Japão em 1945.
Assista trechos da entrevistas de Sedi Hirano e Artur Theodoro
Para Hirano, uma mentalidade bélica e destrutiva do ocidente, somada a preconceitos contra os povos do oriente, resultou em “um ato insano e desumano” em Hiroshima e Nagasaki.
“Existe uma oposição entre Ocidente, considerado civilizado, e Oriente, tratado como bárbaro e não civilizado. Quem comete esses atos (disparo de armas nucleares e intervenções militares) não está agindo de forma civilizada. Pelo contrário, agem [Ocidente] como missionários de um valor extremamente bélico e destrutivo, sem considerar a vida humana e o convívio entre culturas diferentes. Essa é uma visão que considera as pessoas do oriente como seres inferiores. E se fossem europeus, será que as bombas seriam disparadas?”, questiona.
Já Arthur Theodoro alerta que as condições que levaram aos ataques nucleares em 1945 continuam a existir mesmo após 70 anos. Sem discutir o assunto, afirma o pesquisador, há o temor que um novo disparo de armas de destruição em massa possa acontecer.
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“A abolição das armas nucleares não representaria uma situação de paz, pois infelizmente outras armas de potencial destrutivo foram construídas da partir de 1945. A partir dessa reflexão de que continuamos a produzir armas de destruição em massa desde a invenção da bomba atômica, percebemos que as condições para que existisse Hiroshima e Nagasaki continuam a existir atualmente. Em primeiro lugar, a própria organização da sociedade, de como se dá a relação de poder entre os estados. Em segundo, do ponto de vista econômico, a ideia majoritária capitalista desempenha um papel importante, pois os interesses econômicos acabam levando a reboque decisões políticas”, analisa.
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Sedi Hirano e Artur Theodoro analisam aspectos sociais do disparo de bombas atômicas em 1945
Sedi Hirano também contesta as motivações do ataque nuclear dos EUA contra o Japão. Para o sociólogo, a versão de que os norte-americanos dispararam a bomba com o intuito de encerrar a guerra ou para proteger os soldados deve ser questionada.
“O argumento de que as bombas foram lançadas contra civis para poupar vidas americanas é desumano. Em nome de uma certa humanidade do ocidente, você pode dizimar milhares de pessoas no oriente?”, critica.
A abordagem da sociedade aos ataques nucleares em 1945 contra o Japão é objeto de preocupação a Theodoro. “É perigoso pensar Hiroshima e Nagasaki pela perspectiva do entretenimento, enfatizando o aspecto espetacular e fantástico do acontecimento. Isso é prejudicial, pois você pode criar uma abordagem de quem vê essa tragédia como quem vê um filme. Estamos acostumados a essa perspectiva da ficção e isso é preocupante, pois nos afasta de de entender a real dimensão da tragédia”, explica.