Arquivo pessoal
O número de refuseniks está crescendo dentro da minoria religiosa dos drusos em Israel, de acordo com Samer al-Sakleh, um jovem de 20 anos que se recusou a servir o exército israelense. “Cerca de 70% dos drusos do meu vilarejo vão para o exército”, disse al-Sakleh, nativo de Meghar, um vilarejo da Galileia. Ainda assim, ele espera que seu protesto, e o de outros drusos, encorajem mais jovens a se tornarem objetores de consciência.
[al-Sakleh: maioria enfrenta as mesmas barreiras econômicas e políticas que o restante das minorias palestinas]
Meghar é também onde vive Omar Saad, um músico druso que recebeu atenção internacional no ano passado por sua decisão de não prestar o serviço militar. Como Saad, al-Sakleh cresceu em uma família que rejeita a noção da lealdade inabalável dos drusos a um estado que sistematicamente discrimina os palestinos.
“Eu venho de uma família comunista. Meu pai estudou na União Soviética e nós fomos criados em um ambiente esquerdista que rejeita militarismos como o de Israel”, afirmou al-Sakleh à Electronic Intifada. O pai dele foi mantido por quatro meses em uma prisão israelense por se recusar a servir o exército.
“Eu me considero palestino. Eu sou palestino, é claro, e eu sou parte da cultura, da sociedade e da civilização palestinas, e os palestinos que ocuparam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza são parte do meu povo. Eu não vou servir um exército que continuadamente os mata”.
“Nós nos identificamos como palestinos”
Diferentemente de muitos objetores de consciência drusos, al-Sakleh não foi preso. Em vez disso, ele falhou de propósito em um teste de recrutamento obrigatório e o estado o dispensou baseando-se na presunção de que ele é mentalmente incapaz para o serviço militar. “Eu fingi que sou louco, em outras palavras, mas fiz isso por razões morais e políticas”, explicou.
O serviço militar obrigatório para os homens drusos é o resultado de um acordo de 1956 através do qual os líderes da comunidade buscavam melhorar as condições para a sua minúscula minoria e o governo israelense buscava controlar os palestinos fabricando a discórdia entre diferentes porções das minorias palestinas de Israel. Sempre existiram objetores, no entanto, que veem o acordo como de mão única, que não vale o que lhes custa.
“A maioria de nós enfrenta as mesmas barreiras econômicas e políticas que o restante das minorias palestinas em Israel”, contou al-Sakleh. “Nós somos majoritariamente pobres e nossos vilarejos, comumente divididos com palestinos cristãos e muçulmanos, carecem de infraestrutura”, como resultado da falta de vontade do governo em investir em áreas não judias.
O estado submeteu os refuseniks drusos a severas punições. Mesmo assim, “um número crescente de nós entende que nós nos identificamos como palestinos – há mais de cinco ou dez anos, certamente”, diz al-Sakleh.
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Essa percepção é compartilhada por Samer Swaid do Comitê de Iniciativa Drusa. Estabelecido em 1978, o comitê se tornou “lar para jovens que lamentavam o pacto histórico firmado com o estado judeu, e questionavam em particular a obrigação de prestar serviço militar compulsório”, escreveu o historiador Ilan Pappé em seu livro The Forgotten Palestinians: A History of the Palestinians in Israel [Os Palestinos Esquecidos: Uma História dos Palestinos em Israel] (p. 165).
Sentenças de prisão
Swaid cita um estudo de 2010 conduzido pela Universidade de Haifa que descobriu que mais de dois terços da minoria drusa não serviria o exército se o serviço militar não fosse compulsório. “Os objetores drusos receberam sentenças de prisão duas ou mais vezes mais longas que aquelas de outros objetores”, relatou.
Apesar do aumento dos abstinentes, muitos escolhem não se autodefinir como refuseniks ou falar sobre seus casos, com medo das repercussões. “Há sempre entre três e cinco objetores drusos na prisão… a vasta maioria [de drusos que não servem o exército] não quer se autodenominar objetores e não quer fazer parte das campanhas públicas”, falou. “Isso se deve ao fato de eles serem um grupo minoritário, e a maioria pensa que vai machucar suas famílias, ficará marcada e será punida. Neste momento nós sabemos de pelos menos quatro jovens na prisão.”
Em Buqeia, um vilarejo no norte da Galileia que formado 70% por drusos, “os homens jovens… passaram cerca de 540 anos em prisões militares ao longo dos anos”, afirmou Swaid.
Em junho de 2012, Omro Nafa (filho de Said Nafa, um druso que foi membro do parlamento israelense) foi preso pela terceira vez por não cumprir o serviço militar.
Uma pesquisa recente conduzida pelo Centro para Pesquisa Social Aplicada Al-Carmel de Mada descobriu que 71,5% dos cidadãos palestinos em Israel entre 15 e 22 anos de idade rejeitam o serviço militar “porque é uma maneira de legitimar a discriminação e a desigualdade”.
Poucas oportunidades
Sahar Vardi do Novo Perfil, um grupo israelense que se opõe à militarização, diz que os drusos e outros palestinos em Israel enfrentam “discriminação em todos os aspectos da vida: moradia, impostos, confiscos de terra e assim por diante. É por isso que uma menor parte da juventude entra no exército hoje em dia, e os que entram simplesmente o fazem porque é uma oportunidade de carreira, já que não há nada parecido com igualdade de empregos do lado de fora [do exército]”.
Nos últimos anos, mais organizações surgiram para apoiar objetores conscientes. A Baladna, uma organização que trabalha pela minoria palestina em Israel, formou uma bandeira da juventude drusa que trabalha com o serviço militar e outras questões.
As eleições para o Knesset, o parlamento de Israel, que aconteceram em fevereiro, preservaram uma administração beligerante liderada por Benjamin Netanyahu, agora apoiada por um número ainda maior de políticos entusiastas que regularmente espalham retóricas racistas e promovem políticas de controle populacional forçado para preservar uma maioria judaica. Neste clima político, mais e mais drusos palestinos vão questionar o seu papel em um estado que cinicamente os considera cidadãos parciais, quando muito.
Como diz al-Sakleh, “Eu sou contra a ideia de um estado religioso étnico que viva às custas dos outros – tanto faz se é exclusivamente judeu, cristão, islâmico, ou druso”.
* Patrick O. Strickland é um jornalista freelancer cujo trabalho foi publicado pelos meios Al-Akhbar English, SocialistWorker.org, Fair Observer, Palestine Monitor e CounterPunch, entre outros. Ele é o antigo editor do BikyaNews.com, israelita-palestino. Encontre-o no Twitter: @_pstrickland_. Matéria publicada no Electronic Intifada.