A Arena (Aliança Republicana Nacionalista), tradicional partido de direita que governou El Salvador de 1989 a 2009 e atualmente faz oposição à administração de Mauricio Funes, vive um período de crise. O ex-presidente Elias Antonio Saca (2004-2009) foi expulso nesta segunda-feira (14) da legenda, após uma série de acusações.
O partido acusa Saca de conivência com corrupção durante seu mandato e de impor a candidatura de Rodrigo Ávila, que perdeu as últimas eleições para Funes, da FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional). A expulsão seria também por ter “traído” e “confabulado”, com objetivo de dividir e enfraquecer o partido.
EFE (15/12/2009)
Funes, durante ato em San Salvador, estimou que a crise na Arena seja resolvida logo e não afete o andamento do Congresso
Segundo o político Alfredo Cristiani, líder da Arena, a decisão foi tomada após uma análise do Coena (Conselho Executivo Nacional), como é chamada a maior autoridade do FMLN.
Cristiani, que também já foi presidente do país (1989-1994), explicou em coletiva de imprensa que a decisão de expulsar Saca foi tomada com base no artigo 96 do estatuto, que indica que um membro pode ser expulso ou suspenso do partido se cometeu uma traição, se desacatou autoridades, se cometeu ato de rebeldia ou desrespeitou os princípios e estatutos do próprio partido.
“Reunimos testemunhos de pessoas que foram obrigadas a votar por um candidato especificamente e essa não é a conduta de um presidente do Conselho Executivo Nacional do partido”, disse Cristiani.
Em viagem à Costa Rica, Saca se defendeu das acusações, assegurando ser vítima de perseguição. Ele disse que a atual administração do partido pretende destruir e prejudicar sua imagem.
Hoje (16), Saca aceitou oficialmente a decisão do partido e disse que não pretende recorrer ou procurar a Corte Suprema de Justiça. “Não vou me prestar a gerar sangue no Arena. Viro a página e Arena é caso encerrado”, declarou.
Saca afirmou também que há por trás de sua expulsão o medo de que ele tente candidatar-se a presidência em 2014.
O partido alega que há denúncias de opositores e organizações sociais para outros mandatos exercidos pela Arena, como, por exemplo, a privatização do sistema financeiro feita durante o governo de Cristiani e a utilização irregular de doações internacionais feitas após o furação Mitch e de terremotos em 2001, atribuída aos ex-presidentes Armando Calderón Sol (1994- 1999) e Francisco Flores (1999-2004).
Após denúncias de corrupção do próprio partido feitas no início da semana passada, os advogados de Saca admitiram publicamente excesso de 219 milhões de dólares no orçamento aprovado pelos parlamentares para os cinco anos de mandato.
Em entrevista ao jornal digital El Faro no dia 7 de dezembro, o vice-presidente da Arena, Jorge Velado, afirmou que não acreditava num interesse de Saca em dividir o partido. Entretanto, alguns dirigentes da legenda disseram não ter dúvidas de que Saca está por trás da saída de 12 deputados, que fundaram a Grande Aliança pela Unidade Nacional (Gana). Os políticos são Dolores Rivas, Mario Tenório, Erick Mira, Guadalupe Vázquez, Carlos Guzmán, Rafael Paz, Miguel Ahuas, José Garzona, Abílio Rodriguez e César Garcia.
Ao longo do ano, os deputados da Gana se uniram aos 35 legisladores da FMLN para conseguir aprovar projetos econômicos, como por exemplo, reformas tributárias para 2010.
Antes de decidir expulsá-lo, a Arena também acusou Saca de tentar enfraquecer o partido, esvaziando o caixa. O político assumiu a presidência da legenda em 2003, quando o superávit era de 4 milhões de dólares, em junho de 2009. Quando deixou o cargo, havia uma dívida de 6 milhões de dólares.
A crise interna se intensificou com a derrota da Arena nas urnas em março de 2009. Funes, o primeiro presidente de esquerda do país, venceu Ávila com 51,3% dos votos. Atualmente seu governo tem aprovação de 80%, de acordo com pesquisas locais e internacionais.
Acusações
O especialista em corrupção, Jaime López, da Fundação Nacional de Desenvolvimento, afirmou que é benéfico para o país que essas denúncias sejam lembradas, mas disse que é necessário que sejam formalizadas e investigadas pelas autoridades. “Se não, corre-se o risco de tudo acabar em demagogia e impunidade”, afirmou em entrevista ao jornal El País.
Nos últimos dias, os jornais e emissoras locais transmitiram os desentendimentos entre Saca e Cristiani, que se acusaram mutuamente em público, empregando palavras como traição, confabulação e perseguição.
Aprovação
Após seis meses de governo, Funes registra 73,4% de apoio da população, segundo estudo revelado hoje (16) pela Universidade Centroamericana.
A pesquisa foi feita entre mais de 260 mil pessoas, revelando que “sete em cada dez salvadorenhos dizem que o presidente está fazendo um bom governo”. Ainda segundo a enquete, “quase a metade da população considera que a economia deve melhorar no próximo ano”.
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