A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, desembarca na noite de hoje (19) em São Paulo para participar amanhã, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do encerramento da semana argentina promovida pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A visita ocorre num momento de tensão comercial, motivado pelo controle de importações imposto pelo país vizinho, que desagrada setores da indústria brasileira.
Em fevereiro, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, defendeu uma retaliação. “Se o diálogo não resolve, devemos fazer igual”, disse na ocasião.
Setores que sofrem mais com as barreiras, como o têxtil, que tem 30% de seus produtos taxados pelos argentinos, segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), também reclamaram. “É um absurdo e transcende qualquer grau de compreensão com a situação da Argentina”, disse o diretor superintendente Fernando Pimentel ao jornal Valor Econômico.
O vice-presidente da União Nacional Argentina (UIA), José Ignacio de Mendiguren, dirá amanhã que o país passa por dificuldades e, por isso, recorre a medidas para se proteger. Seu argumento será de que o comércio bilateral caiu 40% no primeiro bimestre de 2009 – em relação ao mesmo período de 2008 – e a balança comercial segue deficitária para a Argentina, em 207 milhões de dólares.
Números
Segundo o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), a corrente de comércio entre Brasil e Argentina foi de 2,6 bilhões de dólares em janeiro e fevereiro, contra 4,9 bilhões no mesmo período do ano passado. O saldo brasileiro acumulado nos dois primeiros meses caiu de 348 milhões de dólares para 63 milhões.
Uma reunião entre representantes do setor privado dos dois países que estava marcada para a tarde de hoje foi adiada para o próximo dia 30. Segundo o Valor, a data foi trocada porque o governo argentino não queria contaminar a visita de Cristina com uma agenda negativa. Mas participantes do encontro que estavam na Fiesp hoje não confirmaram a versão.
A presidente chega ao Brasil duas semanas após a implantação do regime de licenciamento não-automático para 58 novas posições tarifárias, que incluem produtos têxteis (cama, mesa e banho), móveis e máquinas. O percentual de exportações brasileiras sujeitas a barreiras deve subir dos atuais 7% para 14%, conforme o site econômico argentino abeceb.com.
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Discussões setorizadas
Entre o empresariado brasileiro, a saída para o impasse comercial que mais ganha adeptos é a negociação setorizada. “Os nossos conflitos são puramente comerciais. Não são de Estado, não são conflitos que podem ser delegados”, afirmou hoje Ricardo Martins, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp.
Para o empresário, a participação do governo é necessária, mas em primeiro lugar, “é preciso sentar e negociar”. “Devemos caminhar para uma situação em que se encontre, do lado argentino, cotas de produtos brasileiros que não desvalorizem a indústria argentina, mas que também não permitam um desvio de comércio. Deixar de comprar produto brasileiro para priorizar outros é tudo o que não queremos”.
El Salvador
Depois do encontro com Cristina, Lula recebe, em Brasília, o presidente eleito de El Salvador, Maurício Funes, que será o primeiro líder de esquerda do país centroamericano.
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