Em clima de primavera, os franceses desceram às ruas para manifestar contra as políticas do governo de Nicolas Sarkozy. Na capital, o ponto de partida da passeata foi a Praça da República, onde jovens, estudantes, sindicalistas, professores, aposentados, artistas se reuniram. O clima era de festa, dava até para esquecer o motivo que reunia todos: a defesa do emprego e a luta contra o aumento do custo de vida.
O grande sucesso da manifestação foi um adesivo onde se lia “casse-toi, pov’con” (sai daqui, imbecil), referência à maneira como Sarkozy respondeu no ano passado a um homem que não quis apertar sua mão. Essa foi a mensagem que a multidão tentou passar ao presidente. O principal grito de ordem era “demissão, Sarkozy!”.
A manifestação reuniu 3 milhões de pessoas em todo o país e 300 mil na capital, segundo os organizadores. Na versão da polícia, havia 1,5 milhão no país e 80 mil na capital, mas este último número é irreal.
Ja é a segunda greve geral que as centrais sindicais convocam neste ano contra a crise e o desemprego. A primeira, no dia 29 de janeiro, reuniu 2,5 milhões de pessoas. O principal fator de insatisfação dos franceses é o aumento das demissões.
Em três meses, a porcentagem de desempregados passou de 7,6% para 8,2%. São mais de 80 mil novos desempregados por mês. Os principais atingidos são jovens de menos de 25 anos e a população economicamente ativa com mais de 50 anos, expulsa do mercado de trabalho. Os sindicatos reivindicam um plano de ajuda aos desempregados e insistem que os trabalhadores não devem pagar pela crise.
Salário congelado, lucro aquecido
Outro motivo de insatisfação é que enquanto o custo de vida não para de crescer, os salários estão congelados. Uma das reivindicações é o aumento do salário mínimo. Além do alto índice de desemprego e do aumento do custo de vida, o sentimento de injustiça social foi agravado pela crise. O setor automobilístico é um bom exemplo.
No final do ano passado, Renault e Peugeot anunciaram lucros altos e distribuíram 1,4 bilhão de euros (4,3 bilhões de reais) aos acionistas. As mesmas empresas se beneficiam agora de um pacote de ajuda do governo francês no valor de 6,5 bilhões de euros (19,9 bilhões de reais)e anunciam que deverão demitir 11 mil empregados em 2009. O caso da France Telecom é o mesmo: 80% dos lucros vão direto para os acionistas e a empresa já anunciou um plano social para os próximos três anos: 10 a 15 mil funcionários serão demitidos. Os sindicatos pedem que empresas que tenham lucro e o repassem aos acionistas não tenham o direito de demitir.
Apesar da presença de vários líderes da oposição de esquerda, essa manifestação teve algo diferente das anteriores: somente os sindicatos desfilaram. Os partidos políticos não puderam participar. A esquerda institucional francesa está enfraquecida e atualmente os sindicatos se transformaram em partido de oposição.
Após a passeata, o primeiro ministro francês, François Fillon, anunciou que nenhum outro plano de ajuda aos desempregados será lançado e que as medidas adotadas pelo governo não serão mudadas. Há um impasse no país. Amanhã, os líderes sindicais se reúnem para decidir se declaram ou não uma greve geral.
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