Nos Alpes suíços, na pacata estação de esqui de Davos – cenário inspirador da A Montanha Mágica, de Thomas Mann –, foram forjados os pilares do neoliberalismo e da globalização, vendidos como fórmula ideal nos anos 90 e rapidamente comprados por boa parte do mundo.
O receituário de desregulamentação e abertura dos mercados desgastou-se na última década e caiu em desgraça com a crise internacional, mas seus idealizadores não desistiram de debater a apontar os rumos da economia mundial. Por isso, a elite econômico-financeira e política do planeta volta à montanha mágica de hoje (28) até 1° de fevereiro.
O 39° Fórum Econômico Mundial terá como tema central “Moldando o Mundo Pós-Crise”. Relatório divulgado há duas semanas pela organização conclui que a crise financeira alcançará a economia real em 2009 e é preciso reagir de forma coordenada.
Davos talvez não tenha mais o poder de influenciar o mundo. Mas especialistas acreditam que, justamente devido à crise, o encontro volta a merecer um olhar mais atento. Mais ainda pela presença inédita de tantos chefes de Estado, como Gordon Brown (Reino Unido), Taro Aso (Japão), Vladimir Putin (Rússia), Wen Jiabao (China), Angela Merkel (Alemanha), Felipe Calderón (México), Shimon Peres (Israel) e o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso.
“Nos outros anos, já sabíamos qual seria o discurso. Ainda que não possa ser decidido nada, [o Fórum] é relevante pois lá estarão as pessoas que coordenam o sistema financeiro-produtivo. Talvez seja o momento da sociedade prestar mais atenção”, avalia Anselmo Luís dos Santos, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade de Campinas (Unicamp).
Segundo ele, há expectativa quanto à autocrítica por parte dos mentores do sistema que entrou em colapso nos últimos meses. “O que se esperaria é que dessem uma resposta também aos motivos da crise e não só olhassem daqui para a frente, como se não tivessem jogado milhões de pessoas no desemprego”. Se o objetivo é moldar o “mundo pós-crise”, partindo do princípio que a tormenta já passou, aparentemente Santos não terá a resposta que deseja.
Renato Baumann, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Brasília (Unb), não acredita em mea culpa. “Todos estarão lá, desde aqueles que erraram nas previsões até quem errou na concessão excessiva de crédito. Pode haver acusações, mas duvido que haja um mea culpa como todos gostaríamos”.
Baumann, que é diretor do escritório da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) em Brasília, frisa que Davos será importante para se saber o que cada um está fazendo para enfrentar a crise. Ele também acredita que o Fórum será uma ocasião para revisão das taxas de crescimento mundiais e de apresentação de alternativas para uma nova arquitetura financeira internacional.
Talvez seja o “mais importante da história”
Já o economista Tomas Zinner, ex-presidente do Unibanco e vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), acredita que, a exemplo do que ocorreu nos anos 90, Davos ainda pode ser um espaço para a formulação de um novo modelo para a economia mundial, respeitadas as diferenças entre os países.
“Haverá uma apresentação de pensamentos não iguais e surgirão idéias importantes. Talvez seja o mais importante de toda a história do fórum”, opina. “É importante fazer um retrospecto de como se chegou nisso, trocar informações sobre as diferentes reações, aproximar posições e encontrar parâmetros para que esse tipo de crise não nos surpreenda como nos surpreendeu”.
O evento vai reunir cerca de 2.500 participantes – entre eles, 1.400 lideranças empresariais, 41 chefes de Estado e os principais ministros das grandes economias desenvolvidas e emergentes – que debaterão durante cinco dias seis questões centrais: “Promovendo Estabilidade no Sistema Financeiro e Revigorando o Crescimento Econômico Global”, “Garantindo uma Governança Global, Regional e Nacional Eficaz no Longo Prazo”, “Enfrentando os Desafios de Sustentabilidade e Desenvolvimento”, “Moldando os Valores e Princípios de Liderança para um Mundo Pós-Crise”, “Fomentando a Próxima Onda de Crescimento por meio de Inovação, Ciência e Tecnologia” e “Entendendo as Implicações para Modelos de Negócios Industriais”.
Leia mais sobre o evento.
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