A ONU (Organização das Nações Unidas) realizou nesta terça-feira (12/07) o primeiro debate público com candidatos a secretário-geral da organização, numa tentativa de aumentar a transparência do processo de escolha do líder da entidade.
O debate aconteceu na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, e contou com dez dos 12 candidatos a substituir o diplomata coreano Ban Ki-moon, cujo mandato termina no dia 31 de dezembro de 2016. Durante o evento, transmitido pela emissora Al Jazeera e pelo site da ONU, os candidatos e as candidatas defenderam as qualidades que possuem para assumir o posto e reconheceram os desafios da organização no futuro.
Agência Efe
Candidatos e candidatas a secretário-geral durante debate na Assembleia Geral da ONU
Participaram do debate Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia; Christiana Figueres, da Costa Rica, ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas; Vesna Pusić, ex-vice-primeira-ministra da Croácia; António Guterres, de Portugal, ex-alto comissário da ONU para os Refugiados; Susana Malcorra, atual chanceler argentina e ex-chefe de gabinete de Ban Ki-moon; Vuk Jeremic, diplomata sérvio; Natalia Gherman, ex-vice-primeira-ministra da Moldávia; Danilo Turk, ex-presidente da Eslovênia; Igor Lukšić, ex-primeiro-ministro de Montenegro; e Irina Bokova, da Bulgária, diretora-geral da Unesco.
O debate foi dividido em dois painéis com cinco candidatos cada. Os postulantes ao cargo apresentaram seus pontos de vista sobre o que a ONU precisa atualmente, os principais desafios que a organização enfrentará e soluções para algumas de suas crises. Eles responderam perguntas de diplomatas, do público presente na Assembleia Geral e de dois jornalistas da Al Jazeera, que moderavam o evento.
A ideia de que a ONU tenha uma secretária-geral, a primeira mulher a liderar a organização, vem ganhando força. O grupo de candidatos que se apresentaram até agora para o cargo se divide igualmente entre mulheres e homens. A ONU vem respeitando uma rotação geográfica para ocupar o posto. Em teoria, o candidato escolhido deveria representar o Leste Europeu.
Para Gherman, “a maior prova” do compromisso da ONU com a igualdade entre os gêneros “seria a seleção de uma mulher como próxima secretária-geral das Nações Unidas”.
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“O secretário-geral precisa de coragem para dirigir, humildade para ouvir e disposição para se associar”, disse Malcorra. Já Figueres, a última a se candidatar ao cargo, defendeu sua atuação à frente das negociações para definir um acordo global sobre o tema, firmado na Conferência de Paris em dezembro do ano passado.
Agência Efe
Candidatos e candidatas a secretário-geral durante debate na Assembleia Geral da ONU
Essas negociações, disse ela, “acarretavam um colapso de seis anos e estavam em ponto morto”. Figueres, que deixou o cargo há poucos dias, avaliou que está satisfeita de ter cumprido essa missão, fechando o “acordo mais ambicioso e legalmente vinculativo”.
As denúncias de abusos sexuais que ocorreram nos últimos anos em missões de paz da ONU na África foi um dos temas abordados durante o debate. Figueres destacou que a imunidade garantida a funcionários da ONU não pode significar impunidade. “Todos aqueles que, após uma séria e robusta investigação, forem considerados culpados de abuso sexual, devem ser responsabilizados”, disse ela.
A reforma do Conselho de Segurança, um tema ainda em aberto na ONU, e o fracasso em algumas crises que o órgão deve que enfrentar nos últimos anos também foram alguns dos temas debatidos.
“Há uma crescente percepção de que os avanços históricos alcançados por esta organização estão sendo cada vez mais ofuscados pela sensação de estagnação e fracasso”, disse Jeremic. “Agora temos que fazer algo sobre isso, e rápido. Acredito que não é momento para retórica. É o momento de ação decisiva”, completou.
Candidatos e candidatas a secretário-geral durante debate na Assembleia Geral da ONU
Gutérres destacou que o mundo atravessa uma “multiplicação de conflitos”, além dos desafios da mudança climática e da falta de recursos. “Para isso, precisamos agora de duas coisas: liderança e valores. O secretário-geral da ONU deve ser uma sólida referência ética”, reiterou o também ex-primeiro-ministro de Portugal. É necessário “confrontar e derrotar populismo político, xenofobia, racismo e violência extremista”, disse Gutérres.
Conflitos como o ainda em andamento na Síria e o fracasso da ONU para conseguir resolvê-lo foram citados como fatores que fizeram o órgão “perder mais prestígio”, segundo Turk.
Já Pusic lamentou o “cinismo” que afeta as relações internacionais e disse que o secretário-geral da ONU não precisa de “popularidade”, mas sim convicção, visão, perseverança e coragem.
O processo de seleção está aberto, sem um prazo determinado para a apresentação de candidaturas. O Conselho de Segurança deve recomendar um ou mais nomes para a disputa, mas a decisão final ficará nas mãos da Assembleia Geral.
*Com Agência Efe