Às vésperas de assumir a Casa Branca, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é “obsoleta”, com que concordou o governo da Rússia, que critica a expansão da aliança no leste europeu.
A declaração foi dada ao jornal dominical britânico The Sunday Times em entrevista publicada neste domingo (15/01) e voltou a levantar temores sobre um possível desmonte na aliança militar entre EUA e países europeus. Segundo o magnata republicano, a Otan não está preparada para combater o “terrorismo islâmico”.
“A Otan é obsoleta, e seus membros se apoiam dos Estados Unidos, não pagam aquilo que deveriam pagar”, disse Trump. Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito prometeu exigir mais investimentos dos outros países da aliança e afirmou que “não se sentiria obrigado a defender seus parceiros”, contrariando os tratados da entidade.
A perspectiva de uma mudança de postura de Washington em relação à Otan preocupa sobretudo às nações bálticas, especialmente após a anexação da Crimeia por Moscou e da guerra civil com separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia. Recentemente, a organização reforçou suas tropas na Letônia, ex-república soviética que, segundo um estudo do think tank norte-americano Rand Corporation, poderia ser conquistada em menos de 60 horas.
Por sua vez, o Kremlin não esconde a irritação pelo avanço da aliança na Europa Oriental, chegando cada vez mais perto de suas fronteiras. Além de já estar nos países bálticos, que fazem divisa com a Rússia, a organização corteja há anos a Ucrânia, em uma aproximação que está no centro da crise que levou à anexação da Crimeia.
Agência Efe
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump: 'A Otan é obsoleta, e seus membros se apoiam dos Estados Unidos, não pagam aquilo que deveriam pagar'
A ex-península ucraniana fica na costa norte do Mar Negro, onde está instalada uma das mais importantes unidades militares da Marinha russa, a Frota do Mar Negro. “A Otan é verdadeiramente um anacronismo, estamos de acordo sobre isso. Há tempos exprimimos nossa visão sobre essa organização, que tem o confronto como objetivo”, afirmou nesta segunda-feira (16/01) o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Já o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que as declarações de Trump causam “inquietação”. Ainda assim, o futuro presidente alemão – ele assumirá o cargo em fevereiro – lembrou que a postura do magnata vai de encontro ao que pensa o próximo secretário de Defesa dos EUA, James Mattis.
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Em sabatina no Senado na semana passada, Mattis garantiu que considera a Otan como “central” para a segurança norte-americana e destacou que a meta do mandatário da Rússia, Vladimir Putin, é “dividir” a aliança militar. “A Otan não é obsoleta, mas sim de grande importância para a Europa e para todos”, completou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
Críticas a Angela Merkel e apoio à Brexit
Na mesma entrevista ao Sunday Times, Trump também elogiou o rompimento do Reino Unido com a União Europeia (a chama Brexit, saída britânica) e disse que outros países seguirão o exemplo britânico por causa da política migratória da chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
O magnata republicano também acusou Berlim de usar a UE para alcançar seus objetivos. Segundo Trump, Merkel cometeu um “erro catastrófico” ao acolher mais de 1 milhão de solicitantes de refúgio e “aumentar de maneira exponencial” a ameaça terrorista na Europa.
“A União Europeia representa apenas um meio para a Alemanha alcançar seus objetivos. Por isso achei muito inteligente que o Reino Unido tenha decidido sair”, disse o presidente eleito, chamando também a Brexit de “uma coisa ótima” e prometendo fazer acordos com o país após a separação.
Nesta terça-feira (17/01), a primeira-ministra britânica, Theresa May, fará um discurso no qual apresentará o plano para o rompimento definitivo entre Londres e Bruxelas. O porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, afirmou que a chanceler leu “com interesse” a entrevista de Trump e que espera sua posse para “trabalhar junto” com o magnata.
“O governo e a chanceler têm interesse em uma estreita colaboração com os Estados Unidos”, limitou-se a dizer Seibert.