O prestígio da revolução bolivariana no continente sul-americano está atraindo cada vez mais militantes de movimentos sociais dos países da região. Mas não é sempre fácil para os argentinos, brasileiros e peruanos entender o conteúdo da propaganda dos apoiadores do presidente Hugo Chávez.
Na véspera do referendo, este domingo, sobre a emenda constitucional que prevê o fim do limite à reeleição, o argentino Diego ainda não consegue entender a maioria dos slogans. “É que todas as metáforas têm a ver com o baseball, nada de futebol. Para a gente, é uma confusão”, conta, rindo. Apesar disso, ele ajuda um batalhão do centro de Caracas a colar cartazes organizando a ação dos chavistas para os últimos dias de campanha.
Abaixo do título “pendente do manager”, uma foto mostra o presidente Hugo Chávez com um taco de baseball nas mãos. A legenda especifica: “Seguir as linhas estratégicas ditadas pelo comandante”. Outro desenho mostra um pitcher lançando a bola com o titulo: “afina o bullpen”. A tradução política fica ao lado: “Organizam-se para o dia da batalha, averiguando os recursos matérias e humanos para o dia da mobilização (água, café, carros, bicicletas)”. Em seguida, o lema “saque de homerun”, os militantes devem supôr : “Estimule a gestão comunal, incentivando a organização de jornadas de trabalho voluntário”.
Bullpen, homerun, bases, manager : todo este vocabulário faz profundamente parte da cultura venezuelana, e sempre foi usado em política. Mas com Hugo Chávez, passou a ser uma referência constante. “Chávez é um fanático pelo baseball, que foi sua primeira paixão, antes da política”, explica Ignácio Ávalos, analista esportivo e membro da organização não governamental “Olho eleitoral”, que vigia a campanha.
Segundo diz a lenda, o ex-tenente-coronel entrou nas Forças Armadas porque era a única forma para um jovem humilde de sonhar com uma carreira de jogador profissional. “Seu ídolo era o Latigo Chávez, um grande pitcher que morreu num acidente de avião em Maracaibo, em 1969. Na época, foi uma verdadeira tragédia nacional”, diz Ávalos.
Torcedor da equipe Navegante Magalha, Hugo Chávez não somente fundou toda sua retórica sobre o baseball, como também apelou aos grandes jogadores para que apoiassem a propaganda pelo “sim”. Ao contrário do futebol no resto da América Latina, onde a paixão dos torcedores inclui até violência e famílias inteiras torcendo pela mesma equipe, “a relação com o baseball é muito forte, mas também mais tranqüila. Talvez seja o lado mais light da cultura venezuelana”, diz o analista.
Ele avalia que o fato explica por que o baseball foi muito mais presente que as metáforas militares, também uma característica de Chávez. “É sinal que ele queria suavizar seu discurso para seduzir a parte menos radical do chavismo”. A oposição reconhece esta guinada ao centro. “Hugo Chávez esta com um discurso de amor e de pacificação, mas não engana. Todos sabem que lá no fundo, é a mesma pessoa autoritária e agressiva”, insiste o líder político opositor Humberto Calderon Berti.
As semelhanças entre o jeito de governar e o baseball não são poucas, acrescenta Ignácio Ávalos. “O baseball não é um trabalho de equipe. É preciso ter um grande desempenho individual de um jogador, baseado no resto da equipe. Hugo Chávez é assim: sempre joga individual, e centra tudo na sua pessoa, mas sempre apela ao coletivo, que é o povo”.
Há também outro ponto comum: o presidente é canhoto, o maior medo dos batedores. “Os pitchers canhotos são sempre os melhores, porque eles destabilizam o adversário”, lembra Ávalos. “Mas são também os que tendem sempre a perder o controle, e acabam fazendo qualquer coisa”, conclui, rindo.
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