Se o sexto título do suíço Roger Federer, o tenista mais vencedor da história profissional, já era aguardado na tradicional quadra de Wimbledon, o mesmo não se pode dizer sobre a espera dos britânicos para ver um dos seus com o principal título do circuito: o último veio em 1936, com Fred Perry – nascido há exatos 100 anos. Neste ano, as esperanças estavam depositadas no escocês Andy Murray, terceiro colocado no ranking mundial. Mas a derrota para o xará norte-americano Andy Roddick nas semifinais reforçou a pergunta: o jejum acabará antes de completar a marca centenária?
Faz mais de uma década que os britânicos acham que sim. Os mais empolgados viram chances de título há cerca de 10 anos com Greg Rusedski, naturalizado britânico e nascido no Canadá, que baseava seu jogo nos saques violentos, como outros campeões recentes de Wimbledon, no holandês Richard Krajicek e no croata Goran Ivanisevic. Os menos exaltados centraram foco no habilidoso Tim Henman, que chegou a quatro semifinais e a quatro quartas-de-final. Mas nada de título. Em 2009, no entanto, a maior expectativa era mais justificada.
Pouco antes de Wimbledon, Murray se tornou o primeiro britânico em 71 anos a conquistar o torneio preparatório de Queen’s, na Inglaterra. Com a desistência do campeão do ano passado, o espanhol Rafael Nadal, e o desempenho duvidoso de Federer apesar dos títulos, a mídia e o público fizeram da Grã-Bretanha uma pátria de raquetes ao longo das últimas semanas. Os ricos, pagando até 10 mil reais por um raro ingresso disponível para ver os astros em ação. Os menos abastados, do lado de fora, acompanhando tudo por um telão na área gramada que mudou de nome neste ano: de Henman Hill (colina de Henman) para Murray Mount (monte de Murray).
“É clima de Copa do Mundo. É o único mês em que o tênis tira o futebol das manchetes. Talvez seja porque o campeonato inglês já acabou, mas acho que mesmo que estivesse acontecendo, a atenção acabaria se voltando para a quadra”, afirmou ao Opera Mundi o jornalista inglês Neil Billingham, que cobre o torneio há 15 anos, muitos deles pelo jornal The Observer. “A questão é mais do que orgulho: como é que investimos tanto dinheiro no tênis e não sai um campeão daqui? Na Espanha eles investem menos e já venceram na nossa grama, mesmo sendo criados em quadras de saibro. Dois alemães ganharam aqui apenas nos últimos 20 anos. Esportivamente não faz sentido para nós.”
Os investimentos certamente não faltam. Em 2008, as receitas geradas apenas em Wimbledon para desenvolver o tênis no país foram de cerca de 60 milhões de reais – de acordo com Billingham a Espanha gasta a metade disso, com resultados bastante superiores. O jornalista reconhece que, apesar disso, criar tenistas bons na grama seria mais caro por conta dos custos de manutenção e das dificuldades de encontrar campos disponíveis.
O destino tampouco tem ajudado: o jejum dos britânicos persiste enquanto países sem igual tradição no esporte produzem gênios como Federer e Bjorn Borg (Suécia), em quem os torcedores acabam desaguando suas expectativas frustradas pelos tenistas locais.
Maturidade
No ano passado, o escocês Andy Murray, hoje com 22 anos, já tinha sido o porta-bandeira britânico em Wimbledon. Caiu nas quartas-de-final, mas na época era apenas o 11º no ranking da ATP (associação dos tenistas profissionais). Meses depois, ele disputou a final do Aberto dos Estados Unidos e ganhou a maturidade esperada de um tenista campeão de um dos maiores títulos do circuito.
“Pode levar tempo até conseguir isso. Não é fácil e dois dos melhores jogadores da história (Federer e Nadal) estão nas quadras agora. Você precisa ganhar de um deles – talvez dos dois – se quiser vencer um dos quatro grandes”, afirmou Murray, referindo-se à expectativa de que ele conquiste um dos maiores títulos do tênis – Aberto da Austrália, Roland Garros (França), Wimbledon e Aberto dos EUA.
Nada disso importa para o público que se acotovela dentro e fora do complexo de tênis que fica no sudoeste de Londres. E que acreditou no fim da seca de títulos ainda mais quando o contido Murray, em um misto de homenagem e fanfarronice, exibiu roupas parecidas com as de Perry para jogar o torneio.
“Tenho orgulho de vestir roupas inspiradas em um dos meus heróis do esporte”, disse Murray. “Espero que um dia seguir os passos de Fred Perry e repetir seu sucesso.” Espera mais um ano, Andy.
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