O dissidente chinês Chen Guangcheng já deixou a Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, onde se refugiou durante os últimos seis dias. As consequências do conflito diplomático gerado pelo episódio entre os dois países, no entanto, prometem se arrastar pelos próximos dias.
Efe
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, conversa com o vice-presidente chinês, Xi Jinping, em sua visita oficial
O incidente com Chen ocorre no momento em que a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, faz uma visita oficial a Pequim. Logo após a saída do dissidente da embaixada, Hillary destacou que o governo chinês precisa observar com mais atenção a questão dos direitos humanos.
“Como o presidente [dos EUA, Barack] Obama disse na semana passada, uma China que proteja seus próprios cidadãos será uma nação mais forte e próspera”, destacou Hillary na abertura do Fórum Estratégico e Econômico, realizado entre os dois países na capital chinesa.
NULL
NULL
A declaração da norte-americana foi acompanhada por colegas da comitiva oficial presentes no país. O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner também destacou o tema dos direitos humanos em seu discurso.
“Os EUA acreditam que nenhum Estado pode legitimamente negar direitos universais que pertencem a cada ser humano ou punir aqueles que os exercem”, afirmou, em referência ao dissidente.
Em meio à confusão diplomática, o governo chinês preferiu amenizar a situação, mas condenou a atitude dos norte-americanos de dar abrigo ao ativista cego em sua embaixada. Segundo os chineses, os EUA se intrometeram em assuntos internos.
O presidente da China, Hu Jintao, pediu à Hillary que os EUA firmem um respeito mútuo com os chineses para resolver tais conflitos. Apesar disso, Jintao afirmou que levando em conta “os nossos diferentes contextos nacionais, é impossível para a China e os EUA concordarem em tudo”.
“Devemos resolver nossas diferenças de forma adequada e respeitar e acomodar os interesses e preocupações dos outros”, completou o presidente chinês durante o encontro com a secretária de Estado dos EUA.
Chen ainda está no hospital para o qual foi levado logo após deixar a Embaixada. Em entrevista à imprensa norte-americana, o dissidente afirmou que gostaria de deixar o país com sua família e seguir para os EUA.
Chen disse ainda que foi abandonado por americanos que o teriam levado até o hospital e depois ido embora. “Muitos americanos estavam comigo quando entrei no hospital e fui examinado pelos médicos, mas quando me levaram para o quarto todos tinham ido embora”, disse.
Nesta quarta-feira (02), o ativista disse que foi coagido por funcionários norte-americanos a deixar a embaixada para que sua família não fosse transferida para outra cidade. Já o departamento de Estado dos EUA assegura que Chen deixou o local por vontade própria e apenas foi informado de que caso decidisse permanecer, sua família seria enviada à cidade onde residem e, assim, o chinês perderia a oportunidade de visitá-los.
Mesmo com as exigências chinesas por um pedido de desculpas formal, os EUA mantiveram sua posição de acompanhar a situação de Chen e sua família pelos próximos “dias, semanas e até meses”.
Chen é advogado e perdeu a visão aos cinco anos. Foi condenado a mais de quatro anos de prisão após denunciar abortos e esterilizações que, segundo ele, teriam sido forçadas nas mulheres da província de Shandong.
A sentença foi criticada por organizações que lutam pelos direitos humanos e, em 2010, o advogado deixou a prisão. Desde então, ele e sua família seguiam em prisão domiciliar até que o dissidente fugiu na última semana em direção à Embaixada dos EUA.