O pub Cherry Tree (“cerejeira”) fica em uma rua movimentada do bairro operário de Barking, na zona leste de Londres. À primeira vista, este edifício de dois andares, de tijolinhos, ao lado de uma oficina mecânica, parece um pub londrino qualquer, exceto pelas bandeiras inglesas indicando que se trata da sede do partido de extrema-direita britânico BNP (British National Party).
O líder da legenda, Nick Griffin, tem 51 anos e, no ano passado, chegou a negar que o holocausto tenha acontecido. Para ele, Hitler “apenas se excedeu um pouco”.
Griffin concorre como candidato nas eleições britânicas da próxima quinta-feira, dia 6. E, segundo os especialistas, poderá não somente conseguir pela primeira vez uma cadeira no parlamento de Westminster, como também controlar a prefeitura, já que, no mesmo dia, acontecem também as eleições locais. Assim, o BNP consolidaria uma espiral de crescimento, que conseguiu duas cadeiras nas eleições europeias do ano passado.
Alfonso Daniels/Opera Mundi
O pub Cherry Tree, que abriga a sede do BNP num subúrbio de Londres
O partido defende a expulsão de todos os imigrantes ilegais do país, acabar com a imigração e “devolver” o Reino Unido aos cidadãos brancos. Em um país com um dos maiores índices de densidade populacional da Europa, onde a crise econômica ainda é sentida, esta mensagem está tocando fundo na opinião pública, principalmente entre a classe operária branca, que vive em lugares como Barking e tem medo de perder o emprego para imigrantes.
“Quero que este país volte a ser o que era. Agora, é permitido entrar muita gente. Somos uma pequena ilha e, se viverem todos vierem pra cá, acabaremos arruinados”, disse a vendedora Carolyn Terry, de uma loja perto do pub. “Meu filho trabalha o tempo todo e precisa passar quatro anos na fila para encontrar um benefício social. Mas os imigrantes, com famílias numerosas, que nem sequer trabalham, passam por cima dele. Não é justo”, acrescentou, irritada.
Ao seu lado, o aposentado John Greene, de 69 anos, acena com a cabeça: “Está cada vez pior. Só queremos que nosso governo se preocupe conosco, mas, se dissermos isso, vão nos acusar de racismo. É um escândalo”.
Tais palavras são música para os ouvidos de Griffin, que escolheu concorrer nesta circunscrição, aproveitando-se do desemprego crescente que existe desde que a unidade da montadora Ford na área fechou, deixando dezenas de milhares de trabalhadores na rua.
Fanatismo e antissemitismo
A imigração é um dos assuntos que mais preocupam os londrinos – não apenas em Barking, mas de modo geral. O tema passou para primeiro plano na última quarta-feira (28/4), quando o primeiro-ministro Gordon Brown chamou de “fanática” uma viúva aposentada de 65 anos que o questionou sobre o tema. Como Brown não se deu conta de que ainda estava usando um microfone de lapela, suas palavras foram gravadas e levadas ao ar. A controvérsia pode ter acabado com as possibilidades de que seu partido, o trabalhista, vença as eleições.
BritishNationalism/reprodução
O líder do BNP, Nick Griffin, que prega que todos os imigrantes do Reino Unido sejam expulsos
Atualmente, segundo a maioria das pesquisas, o partido de Brown está em terceiro lugar, atrás dos tories (conservadores) e dos liberal-democratas.
O deslize abriu espaço para o BNP em Barking, onde existe receio entre os imigrantes locais de que os nacionalistas ganhem. Os estrangeiros passaram de 5% da população na década passada para 35% hoje. As pessoas como Remy, uma jovem da Nigéria, há 14 anos morando ali, têm medo de o que pode representar uma vitória do partido de Griffin.
“Se o BNP vencer, eu vou ter de ir embora. Até agora, o partido mantém uma fachada civilizada e não fala de racismo. Mas, se controlarem este lugar, eu não deixaria meus filhos sozinhos no parque”, afirmou.
A campanha contra o BNP na região é forte. Remy disse que não para de receber mensagens de celular de conhecidos para ir às urnas no dia das eleições. Foram criados grupos no Facebook para incentivar a participação. Voluntários do Partido Trabalhista, único grande rival do BNP, batem nas portas pedindo voto para sua candidata, a atual secretária de Cultura, Margaret Hodge – a quem a extrema-direita só se refere pelo nome de solteira, Oppenheimer, para lembrar a origem judaica e atiçar sentimentos antissemitas.
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