A “Flotilha da Liberdade” vai fazer uma nova tentativa de romper o bloqueio israelense sobre a Faixa de Gaza e, antes do final do ano, voltará a enviar navios à região, anunciaram nesta terça-feira (12/08) um grupo de delegados da iniciativa em Istambul, na Turquia.
A data de saída da frota ainda não foi determinada, mas será “o mais rápido possível”, afirmou Zohar Chamberlain, delegada da iniciativa espanhola “Rumbo a Gaza”, uma das organizações que integra a Coalizão Flotilha da Liberdade. Essa equipe faz, desde 2008, incursões na região para chamar a atenção da comunidade internacional às dificuldades humanitárias pelas quais passam a população palestina por conta do cerco a Gaza.
Agência Efe (Arquivo/2012)
Embarcação “Estelle”, que participou da segunda Flotilha da Liberdade
Chamberlain é uma das 20 delegadas das nove organizações que compõem a Coalizão, que, ao lado de outros seis grupos de apoio, se reuniram entre ontem e o último domingo em Istambul para perfilar os detalhes dessa terceira tentativa de romper o bloqueio marítimo de Gaza.
Em 2010, o ataque de comandos israelenses à embarcação insígnia Mavi Marmara em águas internacionais causou a morte de 10 passageiros, nove deles turcos, o que afetou gravemente as relações entre Ancara e Tel Aviv. No ano seguinte, um único navio conseguiu se aproximar de Gaza, enquanto outros vários foram retidos pelas autoridades em diferentes portos de saída, entre acusações de sabotagem por parte dos ativistas. A frota era de responsabilidade do movimento Free Gaza, um conjunto de ONGs cuja atuação tem por objetivo romper o bloqueio imposto por Israel e Egito sobre Gaza.
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“Tivemos seis navios e passageiros de 40 nacionalidades em 2010 e, neste ano, a representação internacional será pelo menos o dobro: agora que estamos presenciando o massacre em Gaza, grandes partes da sociedade civil querem colaborar”, indicou Chamberlain.
Além da iniciativa espanhola, a “Flotilha da Liberdade” conta com agrupamentos da Suécia, Noruega, Grécia, Canadá, Austrália e Itália, entre outros, assim como a IHH, a fundação humanitária islamita turca que fretou o Mavi Marmara em 2010.
Chamberlain apontou que ainda não é seguro que esta embarcação, por enquanto ancorada em águas do Chifre de Ouro em Istambul, voltará a navegar com a pequena frota, embora ela tenha demonstrado esperança sobre a possibilidade. “Sabemos que enfrentamos uma potência de propaganda, além de militar, e que Israel fez coisas para impedir a saída da pequena frota no passado e que voltará a fazer. Mas nós tentaremos”, disse a ativista.
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Em relação à posição oficial da Turquia em relação ao projeto – positiva em 2010, mas muito menos propícia em 2011 -, a ativista assinalou que a pequena Frota “é uma iniciativa da sociedade civil e que não procura o apoio de nenhum governo”, tendo em vista que, até o momento, Ancara não se mostrou nem contra e nem a favor.
“Nossos governos são cúmplices [de Israel]. Os estados deveriam atuar com os meios diplomáticos ao seu alcance; nós fazemos o que está em nossas mãos”, concluiu Chamberlain.
Conflito e negociações
Enquanto os ativistas ainda decidem a data de partida da Frota, Israel e as milícias em Gaza cumprem a segunda jornada do cessar-fogo de 72 horas iniciado na segunda-feira (11/08). Além disso, representantes de ambas as partes continuam negociando no Egito, onde, segundo a imprensa local, foram alcançados progressos.
A delegação israelense retornou ontem à noite ao país para consultas com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, que estão conduzindo a negociação de maneira pessoal. Hoje mesmo, no entanto, voltaram para o Cairo.
O gabinete de segurança israelense tinha previsto se reunir hoje em Jerusalém, pela primeira vez em uma semana, para conhecer os detalhes das conversas que se desenvolvem no Cairo, destinadas a conseguir um cessar-fogo estável entre Israel e os grupos armados em Gaza. Esta será a primeira ocasião que os ministros do Executivo israelense terão para escutar em que ponto estão as negociações.
Por enquanto, e apesar de nenhuma das partes em conflito se pronunciar sobre a possibilidade de que se alcance um acordo antes do fim da atual trégua, na quinta-feira (14/08), a imprensa local afirma com base em fontes oficiais que na maior parte dos pontos as posturas se aproximaram.
Desta forma, Israel poderia ampliar o perímetro marítimo no qual autoriza a pesca em Gaza de três para seis milhas náuticas, e se as condições de segurança permitirem no futuro inclusive para 12 milhas, como pede o Hamas.
As restrições para Gaza também poderiam ser aliviadas por parte de Israel, apesar de não ficar claro ainda se o país levantará o bloqueio completamente como exigem as facções palestinas. O pagamento dos salários dos funcionários do Hamas, outra das questões pendentes, também estaria perto de um acordo, mas Israel exige que a transferência seja supervisada por uma terceira parte que não o Catar.
O jornal digital Ynet afirma que existe um acordo em que Israel autoriza a entrada de materiais de construção em Gaza, embora sob estrita supervisão, e que dobrará o número de caminhões que entram na Faixa de Gaza através da passagem de Kerem Shalom. Por enquanto, a construção de um porto e aeroporto em Gaza continua sendo um dos pontos de atrito.
Sobre a libertação de presos, Israel teria aceitado libertar a aqueles que foram detidos novamente nestes meses e que tinham sido postos em liberdade em 2011 em virtude de uma troca de presos pelo soldado israelense Gilad Shalit.
(*) Com informações da Agência Efe