Anna Cui nasceu em 1990. Filha de pais separados, a jovem de 19 anos mora em Xangai com a mãe, onde estuda moda. O pai vem de família humilde e, com os benefícios do crescimento econômico da China nas últimas décadas, construiu o próprio negócio e passou de empregado a empregador.
Jenny Si é um pouco mais velha. A menina tímida de 20 anos é filha de camponeses e mora na província de Zhejiang, vizinha a Xangai, onde estuda literatura.
Realidades distintas, sonhos iguais. No dia em que o massacre da Praça da Paz Celestial completa 20 anos, as duas jovens têm claro o que querem para o futuro: serem ricas.
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Anna e Jenny fazem parte de uma geração denominada pós-89, um grupo de nada menos que 200 milhões de chineses, em geral amantes da web, ligados na cultura pop e apolíticos.
Opera Mundi conversou com dez jovens de idades entre 20 e 29 anos. As respostas ajudam a entender um pouco o perfil dessa geração. Sem os problemas econômicos enfrentados pelos pais, eles têm orgulho dos feitos alcançados pela China, são nacionalistas, confiam no Partido Comunista Chinês (PCC) e em suas decisões. Todos querem um bom emprego e a oportunidade de estudar no Ocidente por algum tempo.
Movimento estudantil
O Comitê Comunista da Juventude Chinesa é a mais forte organização estudantil da China e reúne jovens de 14 a 28 anos. A junta, comandada pelo Partido Comunista, tinha mais de 200 mil membros até o final de 2002. Mas não é neste comitê que a maioria dos jovens se reúne para discutir.
“É via online que os chineses falam sobre questões fundamentais”, diz uma professora de sociologia da prestigiada Universidade de Zhejiang. Devido à tensão da data de hoje, muitos entrevistados exigiram anonimato.
A população de internautas chinesa é a maior do mundo: 298 milhões de usuários, mais do que um Brasil inteiro conectado à rede.
“Nossa geração demonstra preocupação com o país de maneira diferente da geração dos nossos pais. Para perceber isso, é só ver a infinidade de posts que nós fazemos em redes de discussão”, diz uma estudante.
Anti-CNN
A internet tem sido palco constante de manifestações de chineses contra injustiças locais e discursos internacionais que não agradam ao país.
Há algumas semanas, um estudante de 25 anos morreu atropelado por um jovem de família rica que disputava um racha com um amigo, na cidade de Hangzhou, a cerca de 200 km de Xangai. No mesmo dia, milhares de chineses se mobilizaram na internet pedindo justiça. A posição dos internautas fez a mídia chinesa cobrir o evento e o governo dar atenção ao assunto.
“A gente ficou indignado com isso, foi o assunto de todo mundo no QQ [programa de bate-papo popular entre os chineses] aquele dia. Por causa da nossa manifestação, o assunto estava em todos os jornais”, diz Jenny.
A rede de televisão norte-americana CNN virou alvo de crítica depois de veicular uma série de matérias contra o regime comunista. Em resposta, os chineses criaram o site anti-cnn.com.
“Fico muito brava quando leio certas coisas que a mídia internacional escreve sobre a China. Muitas vezes, alguns jornalistas estrangeiros que não sabem nada sobre nosso país, nossa história, nunca sequer conversaram com um chinês, não falam mandarim, se acham no direito de escrever como e o que a gente está sentindo”, diz uma jovem chinesa estudante de economia.
Serviço militar
Quando se trata de defender a China, os jovens levam o assunto a sério. Enquanto em muitos países, o serviço militar é considerado um fardo, aqui os jovens se sentem honrados de fazer parte da defesa nacional.
Daniel, nome ocidental de um jovem chinês de 29 anos, serviu o exército nacional de 2003 a 2005. Ele e mais 53 jovens trabalharam em uma base militar no Lhasa, capital do Tibete. Orgulhoso, ele mostra as fotos dos exercícios militares na neve, sempre sorrindo.
“Foi a melhor época da minha vida. Fiquei muito orgulhoso de ajudar o meu país. Foi uma missão cumprida. Se a China precisar de mim, sempre vou estar à disposição”, diz.
Nenhum dos jovens entrevistados, no entanto, se dispôs a falar sobre o aniversário de 20 anos do massacre.
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