O governo da Venezuela lançou uma ofensiva contra a criminalidade, uma nova força policial que tem causado boa impressão em Caracas e gerado um certo ceticismo em relação à capacidade de reduzir a violência em âmbito nacional. Por ora, trata-se de um projeto-piloto chamado Polícia Nacional Bolivariana.
O presidente Hugo Chávez o lançou em dezembro passado. Na época, a Agência Bolivariana de Notícias publicou comentários do presidente de que a nova corporação iria “atuar em um dos principais pontos em torno da violência, que é a prevenção de crimes”. Quase três mil policiais nacionais, sob comando do Ministério da Justiça, foram enviados a Catia, um bairro pobre de Caracas. O ministro Tareck El Aissami afirma que o índice de homicídios foi reduzido em 80% no local.
Mas enquanto o projeto parece estar funcionando na capital, aplicá-lo no resto do país poderia ser problemático e caro, de acordo com o criminologista Luis Cedeno, da organização não-governamental Paz Ativa. Ele calcula que em Catia, o número de policiais per capita seja mais que o dobro se comparado com o resto da Venezuela.
“Muitos de nós duvidam que essa força policial terá o mesmo resultado em toda a Venezuela, algo necessário para diminuir a taxa total de crimes no país”, declarou Cedeno ao Opera Mundi.
O governo Chavez parou de divulgar estatísticas anuais de homicídios em 2005, mas o Ministério da Justiça informou em 2008 que a média no país era de 152 por semana, ou seja, quase 7.900 por ano. Caracas é frequentemente citada como uma das cidades mais violentas do mundo em várias publicações.
Alguns membros da oposição afirmaram estar preocupados com a possibilidade de a força ser usada como arma política, ou para repressão – alegações que o governo negou. Na semana passada, Hugo Chávez ordenou que El Aissami interviesse nas polícias de estados governados por oposicionistas, que não estariam reprimindo devidamente manifestantes contrários a Chávez.
Eduardo Mayorca/EFE (28/1/2010)
Manifestante é contido em Caracas durante protesto contra o racionamento de energia
Um oficial em cada esquina
Em Catia, os novos policiais nacionais, de uniforme marrom, misturam-se com homens da Polícia Metropolitana e da PoliCaracas, de azul. É fácil notar o aumento da presença policial na avenida principal, onde não se anda um quarteirão sem dar de cara com um homem fardado.
Jaime Marquez, um morador de 55 anos, disse que vai esperar pelos resultados de longo prazo, mas tem esperança de que a criminalidade seja reduzida. “Esperamos que sejam bons, e não como os outros policiais. Parecem ser de melhor qualidade”, disse ao Opera Mundi.
Muitos venezuelanos perderam a confiança nos policiais, frequentemente corruptos e envolvidos em atos criminosos. Os novos policiais terão os salários triplicados, algo que, segundo especialistas, irá desencorajar a corrupção. Mas Cedeno afirma temer que os oficiais recebam somente três meses de treinamento, e que possam ser transferidos de outras corporações onde impere a corrupção.
Darcy Duran, uma senhora de 53 anos que fazia ligações do celular em uma esquina em Catia quando a reportagem esteve no local, disse que no caso dela, a nova força policial não fez muita diferença e que assaltos continuam acontecendo regularmente. “Ladrões roubaram meu telefone há um mês, e a polícia nacional estava bem no local. Não fizeram nada”.
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