O governo interino da Ucrânia exigiu nesta quinta-feira (24/04) que a Rússia retire suas tropas da fronteira com o país e que pare com as intervenções nos assuntos internos ucranianos.
“Exigimos da Federação Russa o fim das intromissões nos assuntos internos da Ucrânia, as contínuas ameaças e a chantagem, e que retire suas tropas da fronteira oriental de nosso país”, disse o presidente Aleksander Turchinov, em discurso televisionado.
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Hoje, a Rússia autorizou novos exercícios militares na fronteira com a Ucrânia depois de Kiev deslanchar uma operação “antiterror” na região de Slaviansk, no sudeste do país. De acordo com o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, citado pela agência RT, os russos foram “forçados” a fazer isso.
A Ucrânia, por sua vez, acusa Moscou de “exportar terroristas” para o seu território, especialmente a parte oriental. “Isto não é um movimento espontâneo de base”, afirmou Danylo Lubkivsky, vice-ministro das Relações Exteriores ucraniano. “São separatistas instigados por Moscou”, assegurou. Ele disse ainda que a campanha de propaganda da Rússia supera os níveis da época da Guerra Fria.
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O vice-chanceler afirmou que seu governo tem “provas claras” de que agentes especiais e militantes russos estiveram instigando a instabilidade no sudeste do país.
Agência Efe
Manifestantes pró-Ucrânia saíram às ruas na tarde de hoje (24), na cidade de Lugansk
Segundo Turchinov, “os terroristas tomaram” praticamente toda a região mineira de Donetsk, onde a maioria da população é pró-Rússia. “Os criminosos armados tomam edifícios administrativos, capturam reféns, em particular jornalistas ucranianos e estrangeiros, torturam e assassinam patriotas da Ucrânia”, ressaltou.
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A permanência dos separatistas nos edifícios públicos seria um descumprimento, por parte da Rússia, das obrigações estabelecidas pelos recentes acordos de Genebra entre Estados Unidos, Rússia, União Europeia e a Ucrânia para reduzir a tensão, segundo Lubkivsky.
“O comunicado de Genebra dizia claramente que todas as partes envolvidas deveriam usar toda sua influência para obrigar os separatistas a evacuar os edifícios, entregar as armas e reduzir a tensão”, afirmou. O aumento de forças russas na fronteira com a Ucrânia, para ele, é “muito perigoso”.
No entanto, o governo interino adota portura diferente em relação aos manifestantes de Kiev, que também seguem em prédios públicos. Em entrevista exclusiva a Opera Mundi, um dos líderes dos protestos em Donetsk afirmou que deixará o edifício da administração regional quando o mesmo ocorrer na capital do país.
O presidente russo, Vladimir Putin, “é imprevisível”, afirmou Lubkivsky, que não descarta “o pior dos cenários possíveis”: que a Rússia cruze a fronteira. “O ponto que a Rússia cruzou já uma linha inadmissível”, concluiu.
Gás
A União Europeia, a Eslováquia e a Ucrânia não conseguiram chegar a um acordo sobre a exportação de gás do Ocidente para Kiev. Na semana passada, o governo da Eslováquia propôs bombear gás à Ucrânia mediante a reativação de um velho gasoduto na fronteira entre os dois países.
Agência Efe
Em Donetsk, manifestantes pró-Rússia permanecem ocupando prédios administrativos, apesar do que foi acordado em Genebra
A reparação custaria 21 milhões de euros e ele poderia fornecer até dez bilhões de metros cúbicos de gás ao ano, o que cobriria 14% do consumo anual ucraniano. A Ucrânia, que busca alternativas mais baratas para a importação de gás do que a opção oferecida pela Rússia, acredita que a Eslováquia poderia enviar até três vezes mais gás do que a quantidade proposta.
A UE aprovou o plano eslovaco, mas Kiev disse preferir que sejam usados os dutos já existentes e funcionando no momento e que, simplesmente, se invista na direção na qual circula o gás, argumentando que esta infraestrutura só utiliza 50% de sua capacidade.
EUA
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, falou na noite de hoje sobre a tensão crescente entre a Rússia e a Ucrânia e disse que “está claro que apenas um lado está mantendo sua palavra” em relação aos acordos de Genebra: o lado ucraniano.
“Vamos ser sinceros. O acordo de Genebra não está aberto à interpretação. Não é vago. Não é opcional”, afirmou Kerry. Ele acusou a Rússia de tentar sabotar ativamente o processo democrático da Ucrânia através de intimidação e “escolha ilegítima de ação”.
“Antes da escalada da Rússia não houve violência. Não houve agressões em larga escala aos direitos das pessoas no leste”, afirmou Kerry. “Já vimos esse filme antes, mais recentemente, na Crimeia, onde uma ação parecida da Rússia foi seguida pela invasão completa”.
Kerry terminou seu pronunciamento fazendo um alerta sobre as ações russas na fronteira com a Ucrânia e afirmou que elas podem prejudicar a economia de Moscou. “Vou ser claro. Se a Rússia continuar nessa direção, não será apenas um grave erro, mas um erro caro”.