Após inúmeros encontros em vão, altas delegações do Fatah e do Hamas se reúnem hoje (27), no Cairo, para tentar resolver as últimas divergências antes de assinarem o acordo chamado “fim da divisão”, que será ratificado dia 7 de julho por sete secretários-gerais de organizações palestinas. A reunião será realizada sob supervisão de Omar Soleiman, chefe da espionagem egípcia.
“A iniciativa egípcia está em alta porque não há reconstrução sem acordo interno, e não há progresso nas negociações sem reunificação”, disse ao Opera Mundi o jornalista palestino Hilmi Moussa, originário de Gaza e que já passou por prisões israelenses.
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Uma reunião de Soleiman com Khaled Meshal, chefe do birô político do Hamas no último dia 11, foi decisiva por causa da importância do Egito na solução da questão dos pontos de passagem com Gaza.
“Soleiman disse com seu jeito direto: não vamos reconhecer o governo de vocês, mas vamos oferecer uma escada para o gato descer do telhado”, relata Moussa sobre o tom da reunião. “Esta escada se chama comitê de coordenação comum, que vai ser presidido por [Mahmoud] Abbas [líder do Fatah] e constituído por 27 membros (12 do Fatah, 12 do Hamas e três de outros grupos)”.
“Pouco importa se houver ou não acordo sobre os principais pontos litigiosos”, afirmou o jornalista, referindo-se ao governo de união nacional descartado, às eleições de janeiro próximo e à reforma da lei eleitoral quase acertada, entre outros pontos.
“É quase certo agora que o acordo chamado ‘fim da divisao’ será anunciado. As divergências vão continuar, os dois governos vão continuar, cada facção vai continuar mandando no seu território, mas vai ser formado o comitê de coordenação comum presidido por Abbas e ele vai ser o destinatário do dinheiro da reconstrução”, diz Hussam Kanafani, responsável pela seção árabe e internacional do jornal libanês al-Akhbar e especialista no conflito Fatah-Hamas. “É um pedido de [Barack] Obama”.
“Mas não é só isso”, prossegue Hilmi Moussa. “É um acordo maior que inclui a reabertura das passagens entre Gaza e Israel, a troca de prisioneiros, a volta da trégua e do status quo anterior, com uma força de segurança nos pontos de passagem de dois a três mil homens, a metade deles pelo menos do Fatah. É uma condição para a volta dos observadores europeus”.
Shalit
O site do jornal Haaretz anunciou na quinta-feira, citando uma fonte diplomática européia, que o soldado Gilad Shalit, em poder do Hamas, vai ser transferido nos próximos dias para o Cairo, como conseqüência de uma iniciativa dos Estados Unidos apoiada pelo Egito e pela Síria, que inclui reconciliação entre palestinos, troca de prisioneiros e reabertura dos pontos de passagem”.
A libertação, terça-feira passada, do presidente do parlamento palestino Aziz Dweik, depois de três anos nas prisões israelenses, faz parte do mesmo processo. Ele é membro do Hamas, mas originário da Cisjordânia.
Perguntado sobre quem será favorecido pela iniciativa, Hussam Kanafani respondeu: “Ambos, Abbas e o Hamas. Em detrimento das outras facções que vão assinar o documento no dia 7 e nem sequer foram consultadas”.
Abbas porque saiu muito enfraquecido da guerra, e recupera assim uma certa legitimidade reconhecida pelo Hamas. Com esse trunfo, ele pode agora organizar o congresso do Fatah, que acaba de ser convocado para 5 de agosto, em Belém. E o Hamas, porque precisa da reconstrução de Gaza e sabe que faz parte, goste ou não, da estrutura de poder nos territórios, portanto precisa mudar para acompanhar as mudanças em curso, analisa o jornalista.
Que mudancas? “A nova administração americana, o novo governo israelense, a aproximação sírio-americana”. E está mudando? “Está começando: a entrevista inédita de Meshal ao The New York Times (leia), o discurso do primeiro-ministro da ANP, Ismail Haniye, depois do encontro com Jimmy Carter, um início de reaproximação com o Egito”.
Anteontem, num discurso em Damasco, Meshal voltou a dizer que uma Palestina nas fronteiras de 1967 é “o mínimo aceitável”. Vai funcionar? “Pode funcionar por um certo tempo, mas implica que cada facção tolere pelo menos a outra no seu território”, conclui Kanafani.
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