Georges Bataille, escritor francês cuja obra se enquadra tanto no campo da literatura como nos domínios da antropologia, filosofia, sociologia e história da arte, morre em Paris em 8 de julho de 1962. Bataille foi enterrado em Vézelay, em um pequeno cemitério próximo à basílicada cidade, com uma lápide simples, sem outra inscrição que não seu nome e as datas: Georges Bataille, 1897-1962.
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A obra do escritor atravessou campos diversos, da literatura à filosofia. O erotismo, a transgressão e o sagrado são temas abordados em seus textos. Considerado como um dos escritores mais polêmicos e originais do século XX, Bataille transitava entre os boêmios da cena intelectual parisiense, além de trabalhar como arquivista da Biblioteca Nacional de Paris durante décadas. Sua obra foi marcada por duas experiências centrais – a experiência estética no âmbito do surrealismo e a experiência política ligada ao radicalismo de esquerda.
Nascido em Puy-de-Dôme, convertido ao catolicismo, depois marxista, amigo de sábios, de etnólogos, de filósofos (Kojève) e de psicanalistas (Lacan), tirou de sua vasta cultura os fundamentos de sua análise histórica e social, sua teoria mística e sua obra de ficção. Ampliando as teses de Hegel, Bataille demonstrou que o homem, malgrado as regras pelas quais organiza sua atividade, permanece obcecado pela natureza (Lascaux, ou o Nascimento da Arte, 1955); Esse apego primordial se manifesta na morte e na sexualidade, dois fatores de desordem contraditórios com a vida social e sobre os quais pesam tabus e proibições.
No entanto, as proibições estabelecem como reação o desejo da transgressão (O Erotismo, 1957), que em outros tempos se exprimia na festa, no sacrifício, na orgia, mas que a sociedade atual, a moral judio-cristã, proscreve, deixando os revoltados, como o Marquês de Sade ou Gilles de Rais, abandonados à própria sorte (A Parte Maldita, 1947). Trata-se de um comportamento que se parece com a êxtase mística, de romper as barreiras do eu e atingir uma “hipermoral” (O Abade C., 1950), fora de toda pressuposição ética ou religiosa.
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O francês começou a escrever por sugestão de seu psicanalista, tendo seu primeiro livro, “História do Olho”, publicado em 1928 sob o pseudônimo de Lord Auch, que permaneceria até sua morte por vontade do autor, uma vez que o livro, com traços autobiográficos, foi escrito com a intenção de expurgar sua mente – uma maneira de livrar-se das obsessões atormentadoras ou, como dizia, “Escrevo para apagar meu nome”.
Em uma trilogia intitulada Suma Ateológica (A Experiência Interior, 1943; O Culpado, 1944; Sobre Nietzsche, 1945), Bataille presta conta de sua evolução intelectual em direção ao “caminho árduo, movimentado, aquele do homem inteiro, não mutilado”. É a meditação que deve conduzir a esse estado de inspiração, sem recurso aos alucinógenos e sem jamais cair no esoterismo, se bem que ela toma emprestado as disciplinas ascéticas dos místicos do Extremo Oriente.
Pedra angular de sua interpretação da História e da sociedade como de sua mística individual, o erotismo está também no âmago de sua ficção. De romance em romance, Bataille desenvolve um erotismo mesclado com o sórdido, a obscenidade e o horror, que, sacralizado, busca esgotar o possível até o ponto extremo em que o asco e a volúpia se juntam e se aniquilam, permitindo ao homem suplantar a repulsão a si mesmo e se libertar das representações ilusórias (Anus Solar, 1927 ; História do Olho, 1928 ; Madame Edwarda, 1937 ; Aleluia, 1947 ; O Azul do Ceu, 1957, escrito em 1935).
A literatura era para ele uma vocação a todo o transe, provocação violenta que recusava a facilidade do estetismo (Ódio à Poesia, 1947 ; A Literatura e o Mal, 1957). Amiúde apresentado como um escritor maldito e inclassificável em virtude de seu pensamento sempre desconcertante, escandaloso, contraditório e plural, Bataille exerceu influência determinante sobre os escritores de sua época.