Quando seis caças japoneses apareceram no horizonte do golfo de Leyte, nas Filipinas, sudeste asiático, às 7h40 da manhã no dia 25 de outubro de 1.944, os marinheiros da 1ª Frota da armada americana correram para as baterias antiaéreas e abriram fogo. Havia algo de estranho: os aviões arremetiam, mas não abriam fogo. Dois foram abatidos e caíram no mar. Um passou incólume e veio direto, obstinadamente, estatelar-se contra a ponte de comando do porta-aviões Santee. Os outros três pareciam recuar, subiram e sumiram nas nuvens. Dez minutos depois, quando todos olhavam para o Santee em chamas, um deles mergulhou de 2 mil metros de altitude, como um raio vertical, até espatifar-se no porta-aviões Suwanee.
O ataque matou 31 marinheiros e feriu 82. O mundo tomava conhecimento dos camicazes ou “Vento Divino” A guerra já estava perdida para o Japão. A ofensiva do império oriental havia sido detida desde a derrota na batalha de Midway, em junho de 1942. Em janeiro de 1943, os americanos passaram à ofensiva com a vitória em Guadalcanal. Em junho de 1944, conquistaram Saipan, nas ilhas Marianas. Em setembro, desembarcaram no sul da Filipinas. A máquina de guerra japonesa espalhada pela Ásia estava desmantelada. A falta de combustível era dramática. Em 12 de outubro, metade da força aérea imperial estacionada em Taiwan foi destruída por bombardeios. Sobrava apenas uma fanática obstinação.
Às 10h50 daquele mesmo dia, quando a notícia do primeiro ataque camicaze ainda não tinha sido totalmente entendida, cinco caças Zero atacaram a 3ª Frota. Surgiram rasantes para escapar dos radares, subiram vertiginosamente a 2 mil metros e mergulharam. Dois arremeteram contra o capitânia, o porta-aviões Fanshaw Bay, mas foram derrubados. Dois mergulharam no encouraçado White Plains, mas o fogo antiaéreo atingiu um deles em cheio, o outro caiu sobre o barco, explodindo e matando 11 marinheiros. O quinto piloto manobrou com sucesso, mudou de alvo e foi estatelar-se na ponte de comando do Saint Lo. A explosão acionou torpedos e bombas estocadas no hangar. Sete explosões sucessivas sacudiram o porta-aviões.
Trinta minutos depois o Saint Lo adernou e soçobrou. Foi o primeiro afundado pelos camicazes. Na base de Macabalat, na ilha de Luzon, nas Filipinas, de onde a esquadra decolara, o vice-almirante Onishi Takijiro exultou. Naquele momento, a força aérea japonesa nas Filipinas estava reduzida a 60 aviões em condição de vôo. Os dois ataques, com o sacrifício de nove pilotos, mataram 113 americanos, feriram 200, afundaram um porta-aviões e danificaram três. Takijiro, o idealizador dos Taiatari Tokubetsu Kogekitai – as Unidades Especiais de Ataque por Choque, tinha um saldo positivo para informar ao imperador. Os camicazes eram batizados por uma expressão usada para designar um tufão que, em 1281, dispersou as naus e impediu a invasão mongol do Japão. Em 1944, estavam novamente em ação tentando desesperadamente mudar o destino do império do sol nascente.
A decisão extrema de empregar bombardeiros suicidas se deveu à incapacidade da máquina de guerra nipônica de deter a ofensiva norte-americana. Nas palavras do comandante naval Motoharu Okamura: “Acredito firmemente que a única maneira de mudar a sorte da guerra em nosso favor é utilizar nossos aviões como projéteis… Haverá voluntários suficientes para essa chance de salvar nosso país.”
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