Divulgação/ Fundação Francisco Franco
A homenagem ao ditador espanhol Francisco Franco, marcada para o dia 2 de dezembro em um edifício público, foi cancelada nesta sexta-feira (23/11) pela empresa responsável por alugar e prestar serviço no estabelecimento. A decisão foi anunciada depois da denúncia de Cayo Lara, coordenador federal da Esquerda Unida, contra o evento e de extensa repercussão na mídia nacional.
Sob o lema “Francisco Franco presente!”, admiradores do militar foram convidados a participar da celebração dos 120 anos de seu nascimento no Palácio de Congressos de Madri, que pertence ao Instituto de Turismo da Espanha, vinculado ao Ministério de Indústria, Turismo e Comércio. O evento, descrito pelos organizadores como um “ato de afirmação”, já estava sendo divulgado com o local, a data e o preço dos ingressos (30 euros) confirmados.
O grupo empresarial Husa, que administra o estabelecimento, anunciou que decidiu suspender o evento “por conta do alarme causado”. A companhia renunciou ao contrato estabelecido com a Fundação Francisco Franco, responsável pela celebração, e assegurou que não existem “outras consequências”.
A notícia do cancelamento da celebração foi recebida com indignação pela organização franquista que emitiu comunicado sobre o ocorrido em seu site. “A Fundação Nacional Francisco Franco denuncia abertamente a atuação arbitraria, discriminatória e covarde do governo espanhol”, diz o texto.
De acordo com o grupo, as autoridades espanholas foram influenciadas por “pretensões injustas e sectárias da esquerda extrema” e pressionaram a empresa responsável pelo Palácio para suspender o contrato estabelecido.
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Os franquistas reclamam que a celebração do aniversário de Franco não é ilegal, mas, pelo contrário, está dentro da legislação de liberdade de expressão. A organização reivindicou seu direito constitucional de “prestar homenagem hoje, amanhã e sempre, tanto em lugares públicos – mantidos com impostos de todos os espanhóis – como privados, a uma das personalidade mais relevantes da História da Espanha e Chefe de Estado durante quase 40 anos”.
Sob a ditadura de Franco, pelo menos 113 mil pessoas desapareceram e milhares perderam suas vidas em decorrência da perseguição política. O ditador, que assumiu o poder por meio de um golpe, colaborou com o regime nazista de Adolf Hitler.
Pela memória das vítimas
Cayo Lara manifestou nesta quinta-feira (22/11) no Congresso uma iniciativa parlamentar para impedir a comemoração do aniversário de 120 anos de Franco, que “exalta a ditadura franquista”. O coordenador da Esquerda Unida quer que o governo do PP (Partido Popular) explique “se vai proibir o ato que atenta com a lei da memoria histórica e democrática da Espanha”.
O líder disse que tais convocações coincidem com o corte no orçamento público de 2013 para a lei de memória, que resgata a história das vítimas da Guerra Civil espanhola (1936 – 1939) e da ditadura franquista (1938 – 1973). “Este governo parece não ter dotação orçamental para os direitos humanos”, acrescentou ele.
As celebrações pela memória de Franco coincidem com o pedido ao chefe de governo, Mariano Rajoy, da Associação para a Recuperação da Memória Histórica, para que as vítimas do franquismo “deixem de pagar com seus impostos o túmulo do ditador”. “Em países como Portugal ou Itália, os túmulos de seus ditadores são de responsabilidade familiar e não são tratadas como um bem público”, afirma o grupo em comunicado citado pelo El Pais.