Um relatório do Departamento de Comércio divulgado na última sexta-feira (23/3), em Washington, virou manchete na imprensa local, causou polêmica entre os estadunidenses e refletiu positivamente nas bolsas do Japão hoje (26/4). Trata-se de um novo dado do traumatizado mercado imobiliário: as vendas de casas novas no mês de março nos Estados Unidos subiram 26,9%, maior alta desde abril de 1963 (31,2%).
O recorde foi potencializado por dois fenômenos: o fim das tempestades de neve que atingiram os EUA em fevereiro e a reta final da corrida de compradores para assegurar o benefício fiscal concedido pelo governo Obama. Entre tantas outras medidas tomadas pelo presidente para recuperar a economia, foi prometido em novembro do ano passado oito mil dólares para quem comprar a primeira casa até 30 de abril e 6,5 mil dólares para quem já tem um imóvel e adquirir outro dentro do mesmo prazo.
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O número, no entanto, superou todas as expectativas – economistas esperavam um aumento de apenas 5,5%, mesmo com o benefício fiscal e o fim do mau tempo. “O mercado está finalmente se reaquecendo. Esta será uma recuperação gradual, mas já dá para comemorar. Os preços estão ótimos, os bancos voltaram a fazer empréstimos e os compradores se sentem mais confiantes. Finalmente deixamos o fundo do poço”, garante o analista do mercado imobiliário da Weiss Research, Mike Larson.
O preço médio das casas novas atingiu 214 mil dólares, número 4,3% acima do valor contabilizado um ano atrás. E, segundo a Associação Nacional dos Corretores de Imóveis, as vendas de casas usadas também foram melhores do que o previsto, com uma alta de 6,8% no mesmo período. Para os analistas do Banco Morgan Stanley, de Nova York, o ritmo do mercado imobiliário é um bom sinal. Eles anunciaram hoje que o crescimento da economia durante o ano de 2010 será de 3,4%, se seguir o ritmo dos três primeiros meses do ano. A previsão anterior ao relatório do Departamento de Comércio era de 3%.
A bolsa de Tóquio subiu 2,3% no primeiro dia de operações após a divulgação do relatório. Enquanto em outros países acredita-se que a alta seja reflexo de outros fatores – como o pedido de ajuda financeira feito pela Grécia –, grande parte da imprensa está certa de que a recuperação do mercado imobiliário teve responsabilidade. “As ações japonesas subiram, levando o Índice Nikkei para sua maior alta em nove semanas, depois da alta nas vendas de casas novas e do iene enfraquecido melhorar a expectativa de lucros para exportadores”, reportou Masaki Kondo para a Bloomberg.
Relatos
“Resolvemos acreditar no governo a ponto de botar todas as nossas economias e heranças de família numa casa nova”, disse ao Opera Mundi a psicóloga Linda Schmidt, de 41 anos. No mês passado, ela deixou o apartamento alugado onde morou nos últimos 14 anos e se mudou com o marido e os dois filhos para uma casa de 740 mil dólares, ambos localizados em bairros próximos de Washington DC.
“Estávamos querendo mudar há muito tempo e essa pareceu ser a melhor hora. O preço caiu quase 100 mil dólares desde que a casa entrou no mercado, há um ano e meio. Não chega a ser uma barganha, mas acho que foi um bom investimento. Os oito mil vão ser bem-vindos, mas não foram decisivos”, completou ela, que paga mais de três mil dólares por mês para o banco. A família de Linda foi uma das cerca de duas milhões de famílias que aproveitaram o benefício fiscal até agora, o que deve custar pelo menos 13 bilhões de dólares ao governo.
Analistas econômicos menos otimistas – e os críticos de Obama em geral – acreditam que a queda será igualmente íngreme nos próximos meses. “Há um certo desespero no ar. A maioria quer garantir o benefício oferecido pelo governo, que aliás vai pesar no bolso de todo mundo que paga impostos neste país. Acho que em breve atingiremos um ponto ainda mais baixo do que parecia possível”, critica a analista Jennifer Lee, do BMO Capital Markets, lembrando que, desde o auge da bolha do mercado imobiliário, em julho de 2005, as vendas de casas novas caíram 70%.
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