O jornalista Damián Pachter publicou na tarde deste domingo (25/01) um tuíte anunciando sua chegada a Israel após fugir da Argentina, onde diz ser perseguido por “agentes do serviço de inteligência” do país. O repórter ficou conhecido por ter sido o primeiro a informar a morte do fiscal Alberto Nisman, há uma semana, e deu diversas declarações dizendo temer ser assassinado.
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Na tarde do dia 18 de janeiro, o jornalista foi convocado por uma fonte, cujo nome mantém em sigilo. “Me encontrei com ele e também com outra pessoa. Me disse que [o fiscal Alberto] Nisman estava morto”. A declaração foi dada a jornalistas logo após Pachter pousar em Tel Aviv ontem.
Argentine journalist Damian Pachter has landed in Israel, says he fled “because the Argentine government pursued me”. pic.twitter.com/JjhitLJefg
— John Reed (@JohninJerusalem) 25 janeiro 2015
Às 23h de 18 de janeiro, Pachter tuitou relatando a morte. Meia hora depois escreveu: “encontraram o fiscal Alberto Nisman no banheiro de sua casa de Porto Madero sobre uma poça de sangue. Não respirava. Os médicos estão lá”.
De acordo com o jornal Clarín, a informação teria sido passada pelo médico que estava presente na casa de Nisman.
A fuga
O jornalista escreveu uma crônica no jornal israelense Ha'aretz neste domingo (25/01) na qual relata os detalhes de sua fuga do país sul-americano. Com apenas uma mochila, ele teve que deixar a Argentina após “sentir” que estava sendo perseguido por agentes dos serviços de inteligência.
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Seu primeiro destino foi o Uruguai, de onde pegou o avião para Israel (por ter cidadania israelense e onde disse ter vivido “os melhores anos de sua vida”). As perseguições, conta ele, estavam sendo realizadas por Twitter e pelo telefone.
Agência Efe
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“Talvez eles tivessem outro plano. E meu tuíte, com certas horas de antecipação, arruinou o plano de alguém, não sei ainda de quem mas vou tentar descobrir”, afirmou.
A ausência de Pachter
Na tarde do sábado (24/01), o jornalista não compareceu na Redação do jornal Buenos Aires Herald, onde trabalhava, sem avisar aos superiores. O periódico chegou a emitir uma nota informando que, após reiterados contatos sem sucesso, conseguiram localizá-lo e ele estaria indo ao médico por estar indisposto. No domingo, ele também não foi trabalhar e não foi possível contatá-lo.
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“Frente às declarações jornalísticas nas quais diz temer por sua segurança e que iria abandonar o país, o meio informa que em nenhum momento expressou esta situação perante as autoridades da empresa”, diz o jornal.
De acordo com o Clarín, os editores do Buenos Aires Herald fizeram uma reunião com Pachter e manifestaram descontentamento por ele não ter se reportado ao jornal e divulgado a informação no Twitter.
Diante do cenário, a agência oficial Telám divulgou o bilhete utilizado por Pachter para deixar o país rumo ao Uruguai. O tuíte foi replicado pela Casa Rosada. Ele saiu do aeroporto Aeroparque no voo AR2382 com destino a Montevidéu, diz o material. A agência acrescenta que, de acordo com a Aerolíneas Argentinas, Pachter “tem reservado e emitido seu retorno para o dia 2 de fevereiro”.
El periodista Damián Pachter viajó a Uruguay con pasaje de regreso para el 2 de febrero http://t.co/dUGwifa9AO pic.twitter.com/muWhkHEvfK
— Casa Rosada (@CasaRosadaAR) 25 janeiro 2015
A agência oficial também nega a infomação relatada por Pachter de que teria divulgado uma nota com um twitter falso de autoria dele. Tal mensagem teria sido recebida por ele como uma “chave” para sinalizar que ele corria riscos no país.
A crônica de sua viagem, relatada no Ha'aretz, encerra dizendo que: “não tenho nem ideia de quando estarei de volta à Argentina; sequer sei se quero. O que sim sei é que o país onde nasci não é o lugar feliz que meus avôs judeus me contavam”, escreveu Pachter.