Depois que o caminho da terceira reeleição para o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, foi fechado pela Justiça, os governistas tiveram de buscar um sucessor capaz de dar continuidade à política conservadora dos últimos oito anos.
O nome encontrado foi o de Juan Manuel Santos, ministro da Defesa, empresário de mídia, antigo lobista dos cafeicultores e herdeiro de uma das mais poderosas famílias da oligarquia colombiana. Com experiência em administração pública, bom trânsito na elite (é sobrinho-neto de um ex-presidente e primo do vice de Uribe) e projeção na opinião pública – usando como trunfo o papel de executor da campanha militar contra as Farc –, ele apareceu como um autêntico representante do establishment colombiano.
Efe (21/05/2010)
Juan Manuel Santos cumprimenta eleitores durante comício na capital colombiana, Bogotá
Mas, longe do consenso na base aliada de Uribe, o nome de Santos provocou uma cisão que dividiu a direita e abriu espaço para a ascensão de Antanas Mockus, do Partido Verde, tido como azarão no início da campanha. A transferência de votos que os correligionários do presidente esperavam não aconteceu. Agora, o candidato “uribista” oscila nas pesquisas entre o segundo e o primeiro lugar no primeiro turno e aparece invariavelmente derrotado nas sondagens para o segundo turno. Se o cenário se confirmar, será o fim da tentativa de Uribe de perpetuar seu projeto de poder.
Juan Manuel Santos Calderón nasceu em Bogotá em 10 de agosto de 1951, filho de Enrique Santos Calderón e Jackie Urzola. Estudou no Colégio San Carlos, da ordem beneditina, um dos mais tradicionais da capital colombiana, e depois foi cadete na Escola Naval de Cartagena. Mudou-se para os Estados Unidos, onde estudou economia e administração. Mais tarde, fez pós-graduação em economia, desenvolvimento econômico e administração pública na London School of Economics (Reino Unido) e na Universidade Harvard (EUA). Deu aulas de economia política na Universidade de Los Andes. Publicou, em co-autoria com o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, o livro A Terceira Via.
A família Santos, descendente direta de Antonia Santos – heroína da independência – é uma das mais ricas da Colômbia, onde construiu um império de empresas de mídia centradas em torno do jornal El Tiempo, o maior da do país. Fundado em 1911 por Alfonso Villegas Restrepo, o jornal foi comprado dois anos depois por seu cunhado Eduardo Santos Montejo (tio-bisavô de Juan Manuel), que viria a ser presidente de 1938 a 1942. O irmão mais novo, Enrique Santos Montejo, conhecido como “Calibán”, foi um dos mais famosos jornalistas da Colômbia, e entre seus netos estava Enrique Santos Calderón, pai de Juan Manuel.
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Desde então, a família fez o El Tiempo gozar de uma situação de monopólio na prática, ao ser o único diário de circulação nacional (reduziu o concorrente El Espectador à míngua), e transformou o jornal em cabeça de um conglomerado que inclui ainda as revistas Cambio, Portafolio, Don Juan e websites de classificados. Em 2007, a família vendeu 55% da holding para o grupo espanhol Editorial Planeta, que já detinha a maioria do controle acionário do jornal.
Ao regressar dos estudos no exterior, Juan Manuel foi lobista da federação colombiana do café, representante da entidade junto à Organização Internacional do Café, com sede em Londres, e depois presidente desta entidade.
Do exterior ao militarismo
Quando o presidente César Gaviria (1990-1994) criou o ministério do Comércio Exterior, em 1991, Santos foi convidado para ser o primeiro a ocupar a pasta, pela experiência como gestor na exportação de café. No cargo, foi responsável pela criação de autarquias e bancos de fomento à exportação, além de chefiar a negociação de tratados de livre comércio – o principal deles, com os EUA, o que aumentou a dependência da economia colombiana.
No ano seguinte, tornou-se presidente da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) por um período de quatro anos. Seguiu carreira em organizações internacionais como presidente da Cepal (1999-2001) e da Corporação Andina de Fomento (2001-2002).
Em 1994, criou a Fundação Buen Gobierno, para promover práticas liberais de gestão pública e o diálogo com as Farc. Seu principal ponto de defesa foi a criação da zona desmilitarizada, uma reivindicação histórica da guerrilha para negociações, que mais tarde o governo Uribe desmantelaria.
De 2000 a 2006, já sob a presidência de Álvaro Uribe, Juan Manuel Santos foi ministro da Fazenda. Em sua gestão, recusou-se a aceitar a moratória, submetendo a Colômbia ao pagamento de juros da dívida com credores estrangeiros.
A ascensão de Uribe à presidência, em 2002, significou a inclusão dos Santos no coração do poder. Enquanto o primo de primeiro grau Francisco Santos foi alçado à vice-presidência, Juan Manuel ganhou a pasta da Defesa com a incumbência de derrotar as Farc pela força militar.
Sob o rótulo “segurança democrática”, o governo conseguiu a libertação de sequestrados da guerrilha, por negociação ou à força, como a de mercenários norte-americanos, da assessora Clara Rojas e, em 2008, da mais famosa refém, a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. A estratégia incluiu também a violação de território de um país vizinho, quanto Santos autorizou um ataque aéreo a uma base das Farc no Equador – levando ao rompimento de relações entre as duas nações e a uma crise regional.
Massacre
A campanha de Santos alega que, além de aumentar a segurança pública, a política de enfrentamento das Farc aumentou a confiança de investidores estrangeiros no país, o que seria benéfico para a economia. Mas opositores e organizações de direitos humanos denunciam que a política oficial de pagar uma remuneração por cada inimigo abatido (semelhante à “gratificação faroeste” dos anos 1990 no Rio de Janeiro) gerou a tragédia dos “falsos positivos”: o massacre de milhares de civis por militares, para contabilizar suas mortes como se fossem de guerrilheiros mortos em combate ou vítimas dos guerrilheiros.
Em 2007, os aliados “uribistas”, dissidentes de outros partidos da direita colombiana, criação do Partido Social da Unidade Nacional, ou “Partido de la U”, em referência à inicial de Uribe. No início de 2010, quando ainda se esperava que o presidente pudesse concorrer a um terceiro mandato, Santos foi designado presidente do partido.
Juan Manuel Santos é divorciado de Silvia Amaya Lodoño e, atualmente, casado com a designer e executiva María Clemencia Rodríguez Múnera, conhecida como Tutina, com quem tem três filhos: Martín (21 anos), María Antonia (19), e Esteban (16).
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